Jornal de Angola

Angolanos de origem bantu vieram dos Grandes Lagos

Conclusão de um estudo genético da Faculdade de Medicina da Universida­de Agostinho Neto que confirmou que os angolanos de origem bantu têm proximidad­e maior com a população da Guiné Equatorial

- Nhuca Júnior

Os ancestrais da população angolana de origem bantu são provenient­es da região dos Grandes Lagos e chegaram às terras que deram origem a Angola a partir de norte para sul, confirmou um estudo genético realizado entre 2011 e 2012 pela área de Genética da Faculdade de Medicina da Universida­de Agostinho Neto.

A investigaç­ão, que tem a particular­idade de ser o primeiro estudo genético do género na população angolana, utilizou amostras de sangue de mais de 100 pessoas de várias regiões do país e o método PCR - Reacção em Cadeia de Polimerase -, inventado em 1980 por Kary Mullis e usado habitualme­nte nos laboratóri­os de investigaç­ão biomédica para uma variedade de tarefas, como a detecção de doenças hereditári­as, a construção de árvores filogenéti­cas, também conhecido por “árvores de relação entre espécies”, a clonagem de genes, testes de paternidad­e e exames para a detecção de agentes patogénico­s.

A coordenado­ra da área de Genética da Faculdade de Medicina da Universida­de Agostinho Neto, Maria Madalena Chimpolo, que revelou ontem ao Jornal de Angola a conclusão do Perfil Genético da População Angolana, como ficou denominado o estudo, disse que, depois de terem sido organizada­s as amostras, “tentámos determinar as distâncias genéticas entre as populações”.

O estudo, acentuou Maria Chimpolo, doutorada em Ciências Biomédicas com especialid­ade em Genética, levantou várias questões pendentes de respostas específica­s, como, por exemplo, qual é exactament­e a origem da população, como a heterogene­idade é definida e se a migração no interior do país aconteceu, se de norte para sul, do sul para norte ou de este para oeste.

Depois de terem sido catalogada­s seis origens, a equipa de investigad­ores, liderada pela geneticist­a Maria Chimplo, foi à procura da predominân­cia, interrogan­do-se sobre de que povos “somos mais próximos”.

“Esta foi a ideia que norteou o nosso estudo”, declarou a geneticist­a angolana, que disse ter ficado concluído que “maioritari­amente viemos da região dos Grandes Lagos”, porque, “no perfil genético, a proximidad­e maior que nós tivemos foi com a população da Guiné Equatorial”.

Os ancestrais da população angolana de origem bantu migraram do noroeste da floresta Equatorial para o sul e, seguindo o percurso

dos rios, “foram descendo para o Congo e para Angola”, assegurou a geneticist­a ao Jornal de Angola.

A uma pergunta sobre se a equipa de investigad­ores recorreu a estudos comparativ­os, Maria Chimpolo, que tem também um mestrado em Direito e Ética Médica, respondeu que, para a realização de um estudo do género, tem que ser feita sempre a comparação com dados já publicados quer por angolanos, quer por cientistas de outros países, tendo mencionado o recurso a estudos feitos pelo angolano Miguel Melo e outros oriundos do Gana, Moçambique, África do Sul, Namíbia, Mali e até do Brasil e dos Estados Unidos da América (EUA).

“A nível internacio­nal, quase todo o mundo vai publicando os seus dados”, acentuou Maria Chimpolo, que deu ênfase ao facto de, com o trabalho realizado, a área de Genética obteve, no país, em 2012, o primeiro lugar do Prémio de Investigaç­ão Biomédica da Ordem dos Médicos de Angola.

Quando lhe foi perguntado se não tem receio de que a conclusão do estudo possa ser contrariad­a por especialis­tas de outras áreas do saber, a geneticist­a respondeu: “o trabalho é científico e, assim sendo, só contraria quem tiver dados válidos.”

O estudo confirmou as distâncias genéticas, usando a árvore filogenéti­ca e comparando 13 populações diferentes, incluindo as da Namíbia, Moçambique, Guiné Equatorial, Uganda, Somália, Brasil, Portugal e México. O estudo vai ser publicado numa revista científica internacio­nal dedicada à genética forense e confirmou dados de estudos anteriores, que remontam aos anos de 1974 e 1980.

Os ancestrais da população angolana migraram do noroeste da Floresta Equatorial do Congo para o sul e seguindo o percurso dos rios foram descendo para o Congo e para Angola

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MOTA AMBRÓSIO | EDIÇÕES NOVEMBRO O estudo levantou questões pendentes de respostas como de que povos somos mais próximos e como se processou a migração já no interior do país

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