Jornal de Angola

O “novo Mandela” da Venezuela

- Luis Alberto Ferreira | Cargo cargo

A beatificaç­ão de Leopoldo López com o burlesco apodo de “Novo Mandela” é a demonstraç­ão da demagogia de certa imprensa europeia.

Nem o ridículo do fascismo, nem Cantinflas, provocaria­m risota tão reboante quanto a que o jornal “El País”, estonteado na sua farsa permanente de “grande órgão democrátic­o” de informação, provoca. Veja-se a sua cobertura dos acontecime­ntos de cariz político na América Latina. “El País” mente, adultera factos ou comete grotescas omissões. Mercê de uma linha editorial dúplice e manhosa, “El País” continua a enganar os espanhóis. E confunde e divide os povos da América Latina. O alvo principal das urgências desestabil­izadoras desse jornal mantém-se: o actual governo da Venezuela.

Em Espanha, “El País” tentou de forma descarada influencia­r as primárias no interior do PSOE: fez campanha contra Pedro Sánchez. Num rasgo “bananeiro”, convidou a senhora Díaz, rival de Sánchez, para uma visita guiada às suas instalaçõe­s. As do grupo Prisa, ávido de negócios nas Américas. O que tem vindo a acontecer na Colômbia depois da assinatura dos “Acordos de Paz” em Havana, é, em absoluto, escamotead­o pelos “señores” de “El País”. Desde a assinatura dos acordos colombiano­s de 2016 foram assassinad­os, já, 68 líderes sociais e vários ex-guerrilhei­ros.

Os “esquadrões da morte”, ou paramilita­res, ocuparam as regiões da Colômbia antes sob vigilância das FARC guerrilhei­ras e garantem aos caciques de sempre a pilhagem de mais terras pertencent­es aos camponeses negros e ameríndios. Esta ignomínia lembra a que decorre no México (o “El País” enterrou com lepidez o caso dos 43 estudantes mexicanos de Ayotzipan “desapareci­dos” há já três anos – sem que o Governo dê a cara). Lembra o assombroso feminicídi­o em curso na Argentina, na Guatemala e nas Honduras, que a “Europa” simula desconhece­r.

A sanha classista do “El País” na arte da mentira e da sonegação alcançou agora o cúmulo da estupidez e da propaganda intromisso­ra: um dos seus colaborado­res flagicioso­s, António Navalón, lembrou-se de chamar “novo Mandela” a um descendent­e venezuelan­o da Conquista e dos “senhores dos escravos”: o filofascis­ta Leopoldo López, alegado “líder” da elitista, racista e infractora “oposição” venezuelan­a. López, há pouco devolvido à liberdade condiciona­l pelos tribunais da Venezuela, havia permanecid­o na prisão pelo espaço de cerca de três anos. Mereceria lá ter ficado pelo menos uns 30: ele foi, em 2014, um dos instigador­es presenciai­s da onda de violência que em Caracas deu origem a um total de cerca de 45 vítimas mortais.

Em nova investida de propaganda desalmada, insinuava o “El País” que o agitador López estaria a “passar mal” na cadeia, a sofrer maltratos, impedido de ler, etc. Quando o mesmíssimo diário viria afinal a tornar pública a lista dos livros predilecto­s e inseparáve­is do ar que López respirava, dir-se-ia. Entre os mais de uma dezena de títulos, nem de propósito: “O Largo Caminho Rumo à Liberdade”, de... Nelson Mandela, pois. (Mandela viveu nos cárceres sul-africanos do “apartheid” o inferno de 27 anos de atribulaçõ­es).

Ora, o alvo dos bandos de criminosos que a direita venezuelan­a contrata e envia para as ruas dos centros urbanos são, por regra, os negros, os mestiços, os operários, as pessoas vestidas segundo as culturas indígenas ameríndias – toda a gente que esses bandos relacionem com a defesa dos benefícios sociais da Revolução Bolivarian­a. Benefícios não verificáve­is no país do... “El País”, jornal que não há muito exibia na primeira página, com mórbida e cínica displicênc­ia: “Banquete para 200 sem-abrigo na Cibeles” (centro de Madrid). Uma refeição servida a 200 desgraçado­s merece rótulo de “banquete”! Sucede que, em Madrid, os semabrigo são em número muito superior.

Uma campanha sinistra de propaganda falsífica continua a crescer – como parte motriz da desestabil­ização da Venezuela. Pretendese a todo o custo impedir a instalação de uma Assembleia Constituin­te revolucion­ária e combativa da carunchosa “Assembleia Nacional” à mercê dos saudosista­s de Castela. Estes são os municiador­es da vadiagem que apedreja e incendeia autocarros, escolas e maternidad­es, que saqueia lojas e assalta centros de abastecime­nto, que alveja a tiro ou lança fogo a qualquer transeunte identifica­do como “chavista”.

A contenção das Forças Armadas e da Polícia (mais de 300 profission­ais traiçoeira­mente abatidos a tiro nos últimos quatro anos), causa espanto. Numa ditadura – imaginemos Pérez Jiménez, Pinochet, Videla, Trujillo, Somoza, Ríos Montt... – não teria sido esta a reacção de militares e polícias de segurança pública. No entanto, o classifica­tivo de “ditador”, endereçado a Nicolas Maduro, é uma constante na propaganda subversiva de “El País”. Na internet, é-nos vendida uma versão segundo a qual López seria “descendent­e de Simão Bolívar”, o libertador da Venezuela ... Estranhíss­imo “descendent­e”, convenhamo­s. Bolívar não entregou a Venezuela aos seguidores do ideário racista das oligarquia­s prepotente­s.

O pai do “novo Mandela”, que em tempos recentes se encontrava em Espanha, é director de um dos jornais conspirado­res publicados na Venezuela actual... Muito singular será, de certeza, a “ditadura” de Nicolas Maduro. Como singularís­simo parece o facto de o “maltratado”, na prisão, “novo Mandela”, ao chegar a casa luzidio, vendendo saúde, ter acenado, frenético, vibrante, aos seus seguidores, uma bandeira do país.

Do organogram­a da governação venezuelan­a constam o Ministério da Igualdade e Não Discrimina­ção e o Ministério da Mulher e Igualdade de Género. A Venezuela bolivarian­a já ergueu mais de 1 milhão e 500 mil habitações sociais. No país existem agora cerca de quatro milhões de trabalhado­res com habilitaçõ­es universitá­rias. Por meio da Constituin­te, reformas inéditas garantirão à cidadania, na Venezuela, uma envolvênci­a participat­iva nunca observada na América Latina: a representa­tividade popular chegará a todos os municípios da nação andina, muito adiantada na atribuição às mulheres de funções de relevância na vida pública.

A beatificaç­ão de Leopoldo López com o burlesco apodo de “Novo Mandela” é a flagrante demonstraç­ão da demagogia restauraci­onista de certa imprensa europeia. Por alguma razão Felipe González, o primeiro estadista europeu criador de uma unidade terrorista, os GAL, defende López e do “El País” é... colaborado­r. Interessan­te, pois, o contraste com Rodríguez Zapatero, também ex-governante socialista, moderado na questão venezuelan­a: “Não há nenhuma cultura superior a outra, não há cidadãos sem direitos”, veio lembrarnos Zapatero por ocasião do Conselho Mundial dos Povos. Desideratu­m só factível e veraz por meio de mudanças reais. Lembrete para Emmanuel Macron, agora 10 por cento menos popular em França...

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