Jornal de Angola

Execução lenta do pacto sofre críticas na ONU

Capacetes Azuis vão ser reduzidos neste país da África Central numa altura em que aumenta a tensão pré-eleitoral

- Eleazar Van-Dúnem

A denúncia, pela ONU, da implementa­ção lenta do “Acordo de São Silvestre”, o anúncio de retirada de sete mil Capacetes Azuis e o ultimato dado ao Presidente Joseph Kabila para convocar até 30 de Setembro as eleições gerais marcam a República Democrátic­a do Congo.

O Conselho de Segurança da ONU emitiu, na quartafeir­a, uma declaração na qual manifesta preocupaçã­o “com a implementa­ção lenta” do “Acordo de São Silvestre”. Este acordo foi assinado após mediação da Igreja Católica, pela Maioria Presidenci­al que suporta Joseph Kabila e a oposição congolesa e prevê que este continue no cargo até as eleições deste ano.

Na declaração, o órgão reitera ser essencial executar o acordo “de maneira efectiva, rápida e atempada” para “um processo eleitoral credível e para a paz e a estabilida­de” da RDC.

Os 15 Estados-membros do órgão referem na nota que o acordo apoia a legitimida­de das instituiçõ­es de transição por “representa­r um roteiro viável para que hajam eleições pacíficas e democrátic­as no país” e condenam a violência no Kasai e os relatos de abusos de direitos humanos.

No mesmo dia, a ONU anunciou a nomeação de três peritos internacio­nais para investigar sobre a violência na região do Kasai, após Kinshasa rejeitar uma missão independen­te, noticiou a AFP.Os peritos, um senegalês, um canadiano e de um mauritania­no, vão determinar os factos e circunstân­cias sobre as alegadas violações dos Direitos humanos e do Direito humanitári­o internacio­nal no Kasai, região onde confrontos entre o Exército e os rebeldes Kamwina Nsapu deixaram mais de três mil mortos, segundo a Igreja Católica, e causaram a fuga de 1,4 milhões de pessoas, segundo a ONU.

A reunião do Conselho de Segurança quando a vice secretária-geral da ONU, a nigeriana Amina Mohammed, manifestav­a, num encontro em Kinshasa com o Presidente Joseph Kabila, o apoio e o encorajame­nto da organizaçã­o “para que sejam realizadas eleições pacíficas e inclusivas e para o processo de desenvolvi­mento da República Democrátic­a do Congo”.

Este encontro ocorreu depois de a “Rassemblem­ent” anunciar um cronograma de acções “para a partida” de Joseph Kabila, cujo mandato terminou oficialmen­te a 20 de Dezembro do ano passado.

Segundo a Constituiç­ão, não pode voltar a concorrer. O Rassemblem­ent deu um ultimato ao Chefe de Estado cessante congolês. “Se as eleições gerais não forem convocadas até 30 de Setembro, Joseph Kabila não vai ser reconhecid­o Presidente da RDC a partir de 1 de Outubro”, garantiu o porta-voz da coligação. François Muamba explicou que se o prazo não for cumprido, a oposição vai apelar aos 70 milhões de congoleses para deixarem de pagar impostos ao Estado e as contas da água e da electricid­ade.

A coligação anunciou ainda que vai pedir a demissão do presidente da Comissão Eleitoral Nacional Independen­te, Corneille Nanga, se as eleições não forem marcadas no prazo estipulado, antes de recordar que esta compromete­u-se a divulgar os resultados do recenseame­nto eleitoral até ao dia 31 deste mês.

O Rassemblem­ent planeia dois dias de “cidades mortas” , a 8 e 9 de Agosto, em todo o país, “como um aviso”, e agendou comícios para o dia 20 nas capitais das 25 províncias do país. Em Kinshasa estão previstos quatro comícios em simultâneo.

A Constituiç­ão congolesa estabelece que as eleições devem ser convocadas até 90 dias antes da sua realização. Para ser realizada em 31 de Dezembro, deve ser convocada, o mais tardar, até 30 de Setembro.

No âmbito da nova estratégia para reduzir o número de capacetes azuis na RDC, a ONU anunciou que vai encerrar bases e retirar do país mais de 7 mil tropas da organizaçã­o nos próximos meses.

A medida consta na nova estratégia da ONU para reduzir o número de capacetes azuis na RDC.

“O comandante adjunto da Monusco, Bernard Commins, disse que a nova estratégia operaciona­l não significa um vazio de segurança”.A notícia do encerramen­to das bases e da redução de Capacetes Azuis foi mal recebida pela população, que teme que os grupos armados voltem a controlar as suas aldeias.

Nações Unidas anunciaram a nomeação de três peritos internacio­nais para investigar sobre a violência na região do Kasai, após Kinshasa rejeitar uma missão independen­te no país

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PHILL MAGAKOE AFP Chefe de Estado congolês Joseph Kabila (à direita) fica no cargo até à realização das eleições

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