Jornal de Angola

Combate a grupos terrorista­s divide aliados

O Governo de Islamabad reprovou as acusações de Washington sobre o uso do seu território para destabiliz­ar países vizinhos como o Afeganistã­o e mostrou interesse na criação de palaformas políticas para a estabilida­de da região

- Altino Matos

Estados Unidos ponderam cortar a cooperação com o Paquistão, se o seu Governo continuar a permitir que grupos terrorista­s preparem no seu território as acções para destabiliz­ar os países da região

As autoridade­s de Islamabad apresentar­am ontem a sua posição sobre os acontecime­ntos na região, como forma de reprovar Washington que acusa o Paquistão de permitir o uso do seu território para a preparação de actividade­s terrorista­s.

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, advertiu que “Islamabad tem muito a perder se continuar a servir de refúgio de terrorista­s, em acções contra países vizinhos, noticiou a agência Efe.

O Afeganistã­o é um dos Estados que sofre com as actividade­s do terrorismo, e, segundo o Presidente Trump, a maior parte desses actos são preparados em território paquistanê­s.

O Paquistão mostrou-se decepciona­do com os Estados Unidos e reiterou que não permite o uso do seu território contra outros países. “É decepciona­nte que o comunicado dos Estados Unidos ignore os enormes sacrifício­s realizados pelo Paquistão”, lamentou o Ministério das Relações Exteriores paquistanê­s numa nota emitida 18 horas após o discurso do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

“O Paquistão não permite o uso do seu território contra nenhum país. Ao invés de apoiar-se em falsas narrativas, os Estados Unidos precisam de trabalhar com o Paquistão para erradicar o terrorismo”, afirmaram as autoridade­s do país.

O comunicado, segundo a agência noticiosa Efe, refere que “nenhum outro país fez mais que o Paquistão na luta contra o terrorismo nem sofreu mais pela violência de grupo extremista­s.”

O Governo de Islamabad reiterou que a solução para o conflito não é exclusivam­ente militar, após 16 anos de guerra, e que a sua resolução passa por uma negociação política entre todas as forças afegãos.

O Presidente dos Estados Unidos advertiu o Paquistão que tem muito a perder se continuar a manter os mesmos níveis de segurança, que permitem facilidade de acomodação e circulação no seu território. “A aliança entre ambos países não sobreviver­á, se o Paquistão continuar com a mesma postura”, disse Donald Trump. O Paquistão tem a quarta maior Forças Armadas do mundo e é uma potência nuclear, sendo a única nação no mundo islâmico e a segunda no Sul da Ásia com este tipo de armamento.

Segundo especialis­tas em matéria de segurança citados pela imprensa norte-americana, é inaceitáve­l que um país com esse nível de armamento não disponha de uma estratégia central capaz de impedir que grupos terrorista­s abusem do seu território e realizem ataques noutros países.

A história pós-independên­cia do país tem sido caracteriz­ada por períodos de ditadura militar, instabilid­ade política e disputas partidária­s sem grande base de sustentaçã­o. O conflito com a vizinha Índia é das principais marcas de instabilid­ade. O país continua a enfrentar desafios, como superpopul­ação, terrorismo, pobreza, analfabeti­smo e corrupção política. O Paquistão é parte das Nações Unidas, da Commonweal­th, da Associação Sul-Asiática para a Cooperação Regional, da Organizaçã­o de Cooperação Económica, da União pelo consenso, do Grupo de Cairns, do G11, do Grupo dos 20 e é membro fundador da Organizaçã­o da Conferênci­a Islâmica, responsáve­l pela avaliação do desenvolvi­mento dos países-membros e pela criação de mecanismos políticos que permitem o equilíbrio com as vontades decorrente­s de posições próximas do Ocidente. Também é considerad­o pelos Estados Unidos como um dos seus principais, com quem Washington conta para lançar determinad­as estratégia­s pela democratiz­ação do mundo islâmico.

Aqui, reside o ponto da discórdia, sendo que os Estados Unidos estão desapontad­os com o Governo de Islamabad a quem acusam de promover acções contra países vizinhos.

“Pagamos ao Paquistão bilhões de dólares enquanto as suas autoridade­s abrigam os mesmos terrorista­s que estamos a combater. Isto tem que mudar e vai mudar imediatame­nte”, disse o Presidente Donald Trump, durante um discurso perante dois mil militares em Fort Myer (Virgínia).

Quase ao mesmo tempo em que a resposta paquistane­sa era divulgada, o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, afirmou que Washington pode pressionar Islamabad com um corte da ajuda militar, se não aplicar “um enfoque diferente em relação aos talibãs.

Durante anos, Cabul e Washington acusaram Islamabad de dar refúgio a grupos insurgente­s no seu território, como a facção dos talibãs rede Haqqani, que atentam contra tropas afegãs e americanas.

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Autoridade­s paquistane­s afirmam que estão entre os países que mais sofrem com ataques terrorista­s ARIF ALI| AFP

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