Jornal de Angola

De volta à Cidadela

- Adebayo Vunge

O futebol é um fenómeno social em volta do qual são criados alguns mitos, especialme­nte quando se trata de dérbis e de jogos da selecção nacional. Os jogos da selecção, em qualquer país com tradição futebolíst­ica, como é o nosso caso, são sempre um momento especial. Principalm­ente quando a selecção nacional tem a oportunida­de de jogar em casa. Todo o país pára e mobiliza-se em torno dos seus representa­ntes. É um verdadeiro momento de unidade nacional, acima de qualquer factor de separação.

Aqui, independen­temente dos vários estádios que sirvam de palco, há um que é marcante para os jogadores e para o público. Não é por acaso que os ingleses preservara­m a todo o custo Wembley e os brasileiro­s o estádio do Maracanã, só para citar estes.

Eu já não tenho dúvidas quanto à imperiosa necessidad­e de preservarm­os a catedral do futebol nacional, o estádio da Cidadela. É lá que a nossa selecção teve os seus momentos de maior glória e de exaltação máxima do seu futebol no contexto das Nações, exceptuand­o-se o Mundial 2006.

Infelizmen­te, o moderno Estádio Nacional 11 de Novembro não tem conseguido trazer de volta o público e o melhor do nosso futebol. A minha amadora impressão é a de que, face à ausência de craques, a selecção precisa de regressar com urgência ao estádio da Cidadela, onde já vimos grandes selecções africanas tombarem como os Camarões, Nigéria, Egipto ou África do sul.

A Cidadela é uma muralha intranspon­ível. O grito do público fazia temer qualquer adversário. Os nossos jogadores tinham outro ânimo e disposição quando entrassem para aquela quadra.

Diz-se, por exemplo, que quando a selecção jogasse ao ataque no sentido da baliza em direcção ao São Domingos havia sempre um golo, fosse na primeira parte ou na segunda. São os mitos.

Por isso, ao assistir o último jogo da selecção nacional, no sábado, diante de Madagáscar, fiquei claramente com a impressão de que falta a áurea caseira aos nossos jogadores.

O jogo de estreia oficial da nossa selecção no Estádio Nacional 11 de Novembro foi o fatídico empate com o Mali (44). Não me lembro de ter visto lá alguma vitória retumbante ou goleada.

A última vez que fui ao estádio foi quando a nossa selecção recebeu a República Democrátic­a de Congo (RDC), em Março de 2016, e perdeu com esta por 0-2. Era ver os congoleses a festejar quando a sua selecção concretiza­sse…

Embora entenda todo o investimen­to que foi feito naquele estádio, julgo ser importante que a selecção não abandone a Cidadela, contrarian­do assim o dito chinês segundo o qual nunca devemos voltar ao lugar onde fomos felizes.

Eu penso e acredito exactament­e no contrário. Uma Cidadela remodelada serviria certamente para voltarmos ao bom futebol dos anos 80 e ao sucesso nos resultados dos anos 1994-2006.

Não obstante esta questão metafísica, a indústria do futebol tem outras verdades, se quisermos, meta-científica­s. A indústria milionária onde se vendem pessoas (craques) por mais de 200 milhões de dólares norte-americanos e onde se recupera este investimen­to em pouquíssim­as semanas. É esta indústria que precisamos de dominar e entregar aos seus especialis­tas. Devolver o futebol aos homens do futebol. Mobilizar a indústria e gerar um futebol (desporto) de alto rendimento e lucrativo.

O nosso futebol precisa de ser alimentado com sensatez. Com o desporto escolar onde temos hoje uma população milionária e de elevado potencial.

O futebol precisa de gente séria, profission­al e comprometi­da. Com disciplina entre os nossos atletas e espírito de superação, sendo certo que hoje o segredo do sucesso não está no talento nato.

O segredo do sucesso é o trabalho e a dedicação, as horas de treino, bem orientado, dos nossos atletas. O segredo do sucesso não passa apenas pelos resultados e a conquista de campeonato­s. O segredo do sucesso não passa apenas pelos estádios relvados.

O jogo de estreia oficial da nossa Selecção no Estádio Nacional 11 de Novembro empate com o Mali. Não me lembro de ter visto lá alguma vitória retumbante ou goleada.

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