Jornal de Angola

Mexicanos revivem a tragédia de 1985

- Paula Medrano | EFE

Milhões de mexicanos reviveram com o recente terramoto o grande tremor de 19 de Setembro de 1985, que marcou um ponto antes e depois na história do país ao deixar mais de 10 mil mortos.

Naquele dia de Setembro, há quase 32 anos, às 7h17 da manhã, grande parte dos cidadãos preparava-se para ir trabalhar quando foi surpreendi­da pelo terramoto de 8,1 graus que assolou a capital do país.

O tremor desta vez atingiu 8,4 graus, segundo informaçõe­s do Serviço Sismológic­o Nacional (SSN) do México, que já registou 185 réplicas, a maior de 6,1 graus.

Miguel Ángel Ortíz estava na escola Conalep, na Cidade do México, quando o prédio desabou em cima dele, matando dezenas de colegas. Ele passou um dia inteiro soterrado até que foi resgatado.

“Em momentos assim a gente lembra-se muito do que vivemos naquela época,” contou minutos após o terramoto registado quase à meia-noite e que o surpreende­u em casa.

Abel Torres também ficou soterrado sob as ruínas da escola, no seu caso 72 intensas e dramáticas horas, e cada vez que há um novo tremor lembra-se do que viveu.

“Desta vez eu não senti tão forte porque estou numa área da cidade muito sólida, mas não deixa de assustar um pouco, foi muito longo e forte, notei durante mais de 30 segundos”, relatou.

Ele escutou o alarme sísmico e, como mandam as instruções preventiva­s, ficou debaixo do batente da porta, respirou e esperou até que a terra deixasse de tremer. Depois, o protocolo nestes casos: ligar para os familiares para comprovar que todos estão bem.

O sistema de alarme foi instalado em postes de várias ruas da capital para prevenir danos maiores e são muitos os cidadãos que se queixam da sua falta de efectivida­de ou dos seus erros, que fazem com que depois, quando soa, as pessoas não o levem tão a sério.

“Já faz muito tempo que não tocava. Fiquei tão nervoso que não encontrava a chave”, explicou. Pérez sentiu como as paredes da sua casa tremeram e a estrutura se moveu muito forte durante “um tempo muito longo”. Pérez também viveu o tremor de 1985 - que segundo números extraofici­ais deixou 45 mil mortos -, ainda que não o tenha sentido porque, com sete anos, estava no autocarro escolar e os amortecedo­res diminuíram o efeito. “Só me lembro que as pessoas saíam como loucas dos carros e que gritavam”, relatou.

Desde então os habitantes da capital “mudaram a mentalidad­e”, ainda que não possam baixar a guarda. “É preciso estarmos treinados, em alerta quando escutamos o alarme, não pensar que é falso e sair”, explicou Pérez.

Os moradores da Cidade do México estão acostumado­s aos tremores e, por isso, o pânico não se espalhou no Auditório Nacional, onde o cantor Alejandro Fernández se apresentav­a. Ao sentir que a estrutura do recinto começava a mover-se, muitos levantaram-se do seu assento e saíram de forma controlada.

“Ele cantava a última música e nesse momento começou o tremor. Tudo se movimentou e durou muito tempo, pelo menos uns dois minutos, por isso as pessoas começaram a levantar-se e a sair”, explicou Mario Almaguer, que estava presente no evento.

Muitas avenidas da capital começaram a ficar cheias de gente assustada, que comentava o ocorrido, enquanto os meios de comunicaçã­o não paravam de publicar vídeos dos fortes movimentos.

Mas quem viveu momentos de drama mesmo foi Samadeni Montés, que mora no município de Pijijiapan, a 80 quilómetro­s da cidade de Tonalá (Chiapas), uma das mais afectadas. Horas após o grande terramoto, a terra não parou de tremer e ela saiu para o quintal de casa com a família.

“Estava dentro da casa deitada e comecei a sentir o movimento, pensamos que ia ser passageiro, mas foi ficando mais forte. Não pensei duas vezes e agarrei a minha filha”, contou. “Os fios começaram a mexer-se, a luz apagou-se e o céu ficou muito feio, meio vermelho”, contou.

É preciso estarmos treinados, em alerta quando escutamos o alarme, não pensar que é falso e sair

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