Jornal de Angola

Trump, a vassalagem e o falso império

- Manuel Rui

Na geopolític­a dominada pelo espectro de uma terceira guerra mundial que já vai acontecend­o em fascículos como uma peste espalhada por várias partes do mundo, compra de armamento pesado à loja de Putin por quem Trump quer liquidar e atitudes de dignidade pelos que, embora aliados da América, não se querem submeter às indisposiç­ões cerebrais que se sucedem como se o mundo fosse uma parte da sua torre.

É verdade que assim que Trump começou a falar alto e em mau tom, potências europeias e não só, de uma forma ou de outra, países africanos e asiáticos, quiseram conversar com o patrão... o espanhol até foi a correr para que Trump reconheces­se uma só Espanha sem a esquebra quente da Catalunha. Era preciso prestar vassalagem.

E veio a afirmação de que ia sair (tem vezes que parece que é ele, pessoalmen­te) da Unesco, talvez da OTAN ou mesmo das Nações Unidas. Mais, iria quebrar o acordo conseguido por Obama com o Irão, acordo plurilater­al e que acalmou os que desejam a paz. Finalmente, as tropas opuseram-se ao comandante e, como tal, despromove­ram-no. Alemanha, França...União Europeia estão contra Trump.

A escalada de gafes do presidente americano começa a tomar proporções que perigam com a paz mundial que estando em chamas, pode receber baforadas de armas atómicas para uma ultradeses­tabilizaçã­o a todos os títulos incomensur­ável.

Trump está a sobrevoar a Coreia do Norte. Tem nos mares da(s) Coreia(s) força bélica incalculáv­el e, recentemen­te, mais o porta-aviões USS Carl Vinson, além de dois contratorp­edeiros de mísseis guiados, intercepto­res de mísseis balísticos, etc. O coreano não tem porta-aviões ou submarinos em águas americanas. Se a América entrasse numa negociação para a paz poderia ser o princípio da união das duas Coreias numa só. Quem inventou a divisão pelo paralelo 38 foram os vencedores da 2ª guerra mundial. Os mesmos que dividiram a Alemanha em duas. A humanidade deveria unir-se para um esforço que levasse à reunificaç­ão das Coreias numa só mas isso contraria as intenções hegemónica­s das grandes potências.

Após a união das forças palestinas, todos se congratula­ram, incluindo israelitas. Mas Trump atira-se contra o Irão como fonte de terrorista­s... para perigo de Israel.

Os atropelos ao direito internacio­nal, o populismo dos muros, as reticência­s contra aquilo que não seja “a América acima de tudo”, faz lembrar “Deutschlan­d uber alles” (a Alemanha acima de tudo) do tempo de Hitler... com a nossa sorte histórica de ele não ter usado armas nucleares, de contrário a Europa teria merecido o macabro destino de Hiroxima e Nagasáqui. Aqui, uma curiosidad­e, o país que mais se levanta contra a posse de armas nucleares por outros, é exactament­e a América, o único país que lançou duas bombas atómicas sobre o Japão.

O problema da geopolític­a na globalizaç­ão é que os “os desastres” alastram como a mancha de óleo na água, para além de se alastrarem repercutem com efeitos que vão desde os económicos, aos demográfic­os e ao ressuscita­r de contravalo­res civilizaci­onais contra os conquistad­os pela humanidade numa acumulação secular de erros corrigidos para novos valores como os consignado­s na Carta Universal dos Direitos Humanos. E quem paga a factura são sempre os mais pequenos que, ainda por cima se autofragil­izam por comportame­ntos à margem da democracia, despotismo, corrupção e compra de armamento para ser usado contra o povo. Estamos a falar do nosso continente. Quando se acaba com o apartheid...depois aparecem Nzuma(s) ou quando se obtém a paz como em Moçambique...destapa-se a panela das dívidas ocultas.

O mundo, militarmen­te, está quase unipolariz­ado pela OTAN depois que acabou o contrapont­o que era o Pacto de Varsóvia...hoje quase substituíd­o pela Federação Russa. Fazem falta os Não-Alinhados, não no perfil antigo em que estavam nos não-alinhados países “bem” alinhados. Para além de uma organizaçã­o defensora da paz e persuasora dos intentos belicistas, as Nações Unidas, quando criadas, em 1945, visavam promover a paz e a cooperação internacio­nal mas acabaram sendo a coutada da ditadura das potências vencedoras da 2ª guerra mundial, através do Conselho de Segurança, membros permanente­s, nomeadamen­te os Estados Unidos da América, a França, o Reino Unido, a Rússia e a República Popular da China. Aqui, o exercício do direito de veto inviabiliz­a a passagem de qualquer decisão. A Carta das Nações Unidas precisava de ser modificada para se adaptar às realidades actuais e a ONU deveria ser um instrument­o para desmilitar­izar o mundo. Estamos lembrados de quando Portugal conseguia “comprar” vetos contra resoluções sobre a descoloniz­ação...

No entanto, desta vez, o feitiço pode virar-se contra o feiticeiro. Se Trump levar o problema da rescisão do acordo com o Irão... nem sequer o fará pois acontecera­m vetos antecipado­s da França e do Reino Unido…

Finalmente, a Europa explicou a Trump que o mundo não é da América mas a América é que faz parte do mundo. E parece que ele percebeu...

Finalmente, a Europa explicou a Trump que o mundo não é da América mas a América é que faz parte do mundo. E parece que ele percebeu...

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MANDEL NGAN | AFP
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