Trump, a vassalagem e o falso império
Na geopolítica dominada pelo espectro de uma terceira guerra mundial que já vai acontecendo em fascículos como uma peste espalhada por várias partes do mundo, compra de armamento pesado à loja de Putin por quem Trump quer liquidar e atitudes de dignidade pelos que, embora aliados da América, não se querem submeter às indisposições cerebrais que se sucedem como se o mundo fosse uma parte da sua torre.
É verdade que assim que Trump começou a falar alto e em mau tom, potências europeias e não só, de uma forma ou de outra, países africanos e asiáticos, quiseram conversar com o patrão... o espanhol até foi a correr para que Trump reconhecesse uma só Espanha sem a esquebra quente da Catalunha. Era preciso prestar vassalagem.
E veio a afirmação de que ia sair (tem vezes que parece que é ele, pessoalmente) da Unesco, talvez da OTAN ou mesmo das Nações Unidas. Mais, iria quebrar o acordo conseguido por Obama com o Irão, acordo plurilateral e que acalmou os que desejam a paz. Finalmente, as tropas opuseram-se ao comandante e, como tal, despromoveram-no. Alemanha, França...União Europeia estão contra Trump.
A escalada de gafes do presidente americano começa a tomar proporções que perigam com a paz mundial que estando em chamas, pode receber baforadas de armas atómicas para uma ultradesestabilização a todos os títulos incomensurável.
Trump está a sobrevoar a Coreia do Norte. Tem nos mares da(s) Coreia(s) força bélica incalculável e, recentemente, mais o porta-aviões USS Carl Vinson, além de dois contratorpedeiros de mísseis guiados, interceptores de mísseis balísticos, etc. O coreano não tem porta-aviões ou submarinos em águas americanas. Se a América entrasse numa negociação para a paz poderia ser o princípio da união das duas Coreias numa só. Quem inventou a divisão pelo paralelo 38 foram os vencedores da 2ª guerra mundial. Os mesmos que dividiram a Alemanha em duas. A humanidade deveria unir-se para um esforço que levasse à reunificação das Coreias numa só mas isso contraria as intenções hegemónicas das grandes potências.
Após a união das forças palestinas, todos se congratularam, incluindo israelitas. Mas Trump atira-se contra o Irão como fonte de terroristas... para perigo de Israel.
Os atropelos ao direito internacional, o populismo dos muros, as reticências contra aquilo que não seja “a América acima de tudo”, faz lembrar “Deutschland uber alles” (a Alemanha acima de tudo) do tempo de Hitler... com a nossa sorte histórica de ele não ter usado armas nucleares, de contrário a Europa teria merecido o macabro destino de Hiroxima e Nagasáqui. Aqui, uma curiosidade, o país que mais se levanta contra a posse de armas nucleares por outros, é exactamente a América, o único país que lançou duas bombas atómicas sobre o Japão.
O problema da geopolítica na globalização é que os “os desastres” alastram como a mancha de óleo na água, para além de se alastrarem repercutem com efeitos que vão desde os económicos, aos demográficos e ao ressuscitar de contravalores civilizacionais contra os conquistados pela humanidade numa acumulação secular de erros corrigidos para novos valores como os consignados na Carta Universal dos Direitos Humanos. E quem paga a factura são sempre os mais pequenos que, ainda por cima se autofragilizam por comportamentos à margem da democracia, despotismo, corrupção e compra de armamento para ser usado contra o povo. Estamos a falar do nosso continente. Quando se acaba com o apartheid...depois aparecem Nzuma(s) ou quando se obtém a paz como em Moçambique...destapa-se a panela das dívidas ocultas.
O mundo, militarmente, está quase unipolarizado pela OTAN depois que acabou o contraponto que era o Pacto de Varsóvia...hoje quase substituído pela Federação Russa. Fazem falta os Não-Alinhados, não no perfil antigo em que estavam nos não-alinhados países “bem” alinhados. Para além de uma organização defensora da paz e persuasora dos intentos belicistas, as Nações Unidas, quando criadas, em 1945, visavam promover a paz e a cooperação internacional mas acabaram sendo a coutada da ditadura das potências vencedoras da 2ª guerra mundial, através do Conselho de Segurança, membros permanentes, nomeadamente os Estados Unidos da América, a França, o Reino Unido, a Rússia e a República Popular da China. Aqui, o exercício do direito de veto inviabiliza a passagem de qualquer decisão. A Carta das Nações Unidas precisava de ser modificada para se adaptar às realidades actuais e a ONU deveria ser um instrumento para desmilitarizar o mundo. Estamos lembrados de quando Portugal conseguia “comprar” vetos contra resoluções sobre a descolonização...
No entanto, desta vez, o feitiço pode virar-se contra o feiticeiro. Se Trump levar o problema da rescisão do acordo com o Irão... nem sequer o fará pois aconteceram vetos antecipados da França e do Reino Unido…
Finalmente, a Europa explicou a Trump que o mundo não é da América mas a América é que faz parte do mundo. E parece que ele percebeu...
Finalmente, a Europa explicou a Trump que o mundo não é da América mas a América é que faz parte do mundo. E parece que ele percebeu...