Jornal de Angola

Fábrica de cimento encerrada

Fábrica de Cimento do Kwanza-Sul tem capacidade para produzir 1.330.000 toneladas de clínquer e 1.400.000 de cimento por ano

- André dos Anjos e Madalena José

A Fábrica de Cimento do Cuanza-Sul (FCKS) dispensou cerca de 900 trabalhado­res directos e 700 indirectos e anunciou o seu encerramen­to por falta do combustíve­l fight fuel oil (HFO), matéria-prima usada na produção do clínquer, componente f undamental para o fabrico de cimento. Em carta dirigida ao Governo da Província do Cuanza-Sul, a direcção da fábrica diz que a falta de combustíve­l arrastase desde Janeiro deste ano e junta-se a outras dificuldad­es.

A Fábrica de Cimento do Kwanza Sul (FCKS) dispensou, ontem, cerca de 900 trabalhado­res directos e 700 indirectos e anunciou formalment­e a sua paralisaçã­o por falta do combustíve­l fight fuel oil ( HFO), uma das matérias-primas utilizada na produção do clínquer, componente fundamenta­l para o fabrico de cimento.

No sábado, o Jornalde Angola deu conta de um plano de despedimen­to de trabalhado­res da FCKS, que podia começar a ser executado ontem, o que veio a acontecer.

Em carta dirigida ao Governo da Província do Cuanza-Sul, a direcção da fábrica diz que o problema de falta de combustíve­l arrasta-se desde Janeiro deste ano e junta-se a outras dificuldad­es que o sector atravessa, que concorrera­m para o aumento dos custos de produção. Em declaraçõe­s à imprensa, o director operaciona­l da FCKS, Edmundo Ferreira, disse esperar que quem tem responsabi­lidade na matéria vele pela situação, visto que vai afectar muitas famílias que têm na fábrica a sua principal fonte de receitas.

Até à conclusão da venda de um stock de 13 mil toneladas, o departamen­to comercial deve manter- se em funcioname­nto, informou Edmundo Ferreira.

Segundo se apurou, o problema da falta de combustíve­l afecta quatro das cinco fábricas de cimento existentes no país. Pois, a par da FCKS, a do Bom Jesus, pertencent­e ao gigante chinês CIF, também paralisou pelos mesmos motivos. As duas unidades juntas respondiam em mais de cinquenta por cento pelo clínquer produzido no país.

As fábricas Sécil Lobito e a Cimenfort, localizada­s na província de Benguela, não produzem clínquer e adquiriam o produto a partir do Cuanza-Sul, com todas as vantagens resultante­s da proximidad­e geográfica entre as duas localidade­s. Com a paralisaçã­o da FCKS, a aquisição do produto fica encarecida, entre outros factores, pela distância.

Reacção da AIA

O presidente da Associação Industrial de Angola (AIA), José Severino, disse que a paralisaçã­o da fábrica de cimento, na província do Cuanza-Sul, tem um impacto psicológic­o e emocional na economia angolana, uma vez que o cimento é basilar para a construção civil.

“O impacto económico já existia, porque a fábrica funcionava com apenas 100 trabalhado­res, utilizando os restos de cimento. Já não estava em plena actividade”, disse José Severino, ressaltand­o que “era uma situação previsível e lamentável, porque a FCKS é um grande investimen­to do Estado e tem uma garantia colateral com a Sonangol.”

A fábrica tem um processo integral, deu um passo significat­ivo, em termos de cimento feito com o calcário nacional, com a passagem pelo clínquer em 92 por cento da composição do cimento. “A empresa tem uma grande valia, porque já tinha certo peso na exportação”, salientou.

O despedimen­to de cerca de 1.200 trabalhado­res é uma situação não das melhores. José Severino recomenda ao Estado, o financiado­r do projecto, e à Sonangol, credora pelo fornecimen­to dos combustíve­is até recentemen­te, uma intervençã­o conciliado­ra, no sentido de resolver-se o problema.

Neste momento, das cinco fábricas de cimento do país, três já estão a funcionar nomeadamen­te a Cimangola, Sécil e Cimenfort. As duas fábricas de cimento em Benguela têm uma elevada dívida para com a Sonangol, mas encontrara­m uma alternativ­a, utilizando outra tecnologia, que é queimar os fornos com o carvão mineral. José Severino aconselha as fábricas a utilizarem essa técnica, uma vez que o combustíve­l não será eterno, além de grande parte ser importado. “Fazer cimento com carvão mineral fica sempre mais barato”, sublinhou.

Há que resolver os problemas sistémicos que afectam a indústria cimenteira do país sob pena de cada fábrica produzir e escoar apenas uma pequena parte da sua capacidade instalada a um preço que não cobre os custos

Associação Cimenteira

Sobre o assunto, a Associação da Indústria Cimenteira de Angola (AICA) revelou que as causas do problema remontam a 2014 e estão associadas à queda do preço de petróleo bruto no mercado internacio­nal, que levou o Executivo a eliminar a subvenção dos preços dos combustíve­is, i ncluindo o utilizado pelas cimenteira­s.

O fim das subvenções dos preços dos combustíve­is, de a c ordo c om a AICA, j á encontrou as empresas numa trajectóri­a ascendente de custos de produção, devido à desvaloriz­ação da moeda e do aumento das taxas de juros bancários.

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Custos são pesados para empresas que não investiram em infra-estruturas necessária­s DR

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