Jornal de Angola

Mbanza Kongo tem falta de água

Cidade de Mbanza Kongo vive uma escassez de água potável e energia eléctrica. As obras de construção da nova estação de tratamento e distribuiç­ão do precioso líquido só estarão concluídas no próximo ano

- Fernando Neto

Os habitantes de Mbanza Kongo enfrentam uma “gritante” escassez de fornecimen­to de água potável. O precioso líquido há muito não jorra nas torneiras de alguns chafarizes dos bairros e em certas casas numa parte da histórica cidade. O problema constrange­dor para as famílias, que são obrigadas a acarretar água a partir de poços e do rio Lueji, sem temer as consequênc­ias do consumo de água imprópria para a saúde humana, é reprovado pelos pacatos cidadãos. Diariament­e, muit a s s ão a s pessoas que “deambulam” de um lado para o outro à procura de água para o consumo e higiene doméstica.

“Estamos a sofrer por falta de água potável”, clamou Maria Lufiau Lusu, moradora do bairro Sagra Esperança, na rua Comandante Dangeroux, principal avenida da cidade de Mbanza Kongo. Ela explicou que já não jorra água na torneira de casa desde o início de Outubro e socorre-se à fonte água n a t u r a l d e n o minada “Santa”, onde existe um reservatór­io construído no período colonial.

O l ocal tem registado grande enchente devido à procura de água. Maria Lufiau Lusu acorda, muitas vezes, às quatro horas da manhã e só regressa a casa às sete horas, depois de conseguir água, cuja qualidade é questionáv­el, uma vez que as condições higiénicas do local representa­m um verdadeiro atentado à saúde pública. Os esgotos de latrinas e de águas residuais são ali direcciona­dos, inundando o sítio de dejectos e materiais nocivos, que por força da água das chuvas escorrem até à fonte, deixando a água impura.

Para acarretar água em locais distantes, às vezes, como disse Maria Lufiau Lusus, alugam motorizada­s de três rodas, conhecidas por “mutua mbuagi”, que em kikongo significa cabeça de mosca. Os motoqueiro­s cobram 100 kwanzas por cada bidon de 25 litros. O rio Bandua é um dos locais nos arredores de Mbanza Kongo, onde se vende água, cuja qualidade é também duvidosa. No Bandua, foram inst a l a d a s motobomba s equipadas com várias mangueiras que f acilitam o enchimento de recipiente­s.

Devido às enchentes no espaço, que serve ainda para lavagem de viaturas, os motoqueiro­s e candonguei­ros aturam filas, tudo na ânsia de amealharem algum dinheiro para o bolso, numa altura em que a crise vai apertando cada vez mais a vida de “todos.” Diante do problema, os habitantes esperam uma intervençã­o urgente do governo provincial, para que, à semelhança do que aconteceu com a energia eléctrica, garantir a distribuiç­ão regular de água a todos os bairros.

“O governo provincial tem que fazer tudo para resolver este problema de água, porque, na vida de uma pessoa, a água e a energia são essenciais. Já foi superado o problema do fornecimen­to de energia eléctrica na região, agora falta água”, disse Maria Lufiau Lusu, para quem as casas de banho necessitam de água, depois de serem utilizadas.

António Massamba Lelo, 25 anos, vive com os pais no bairro 11 de Novembro, na zona vulgarment­e conhecida como Cuimba, onde foi construído em 2010 um chafariz acoplado com uma lavandaria. O incompreen­sível é que naquele chafariz nunca jorrou água. Projectos semelhante­s foram executados em vários bairros periférico­s da cidade de Mbanza Kongo, mas muitos funcionara­m por apenas algumas semanas. Actualment­e, todos os chafarizes construído­s, no quadro programa de combate à pobreza, estão votados ao abandono.

“Tenho acarretado água num poço denominado Mbangu. Saio de casa às cinco horas, para fugir das enchentes”, disse António Massamba, acrescenta­ndo que algumas pessoas são obrigadas a dormir à berma do poço para ocupar um lugar, sobretudo no período de cacimbo, onde o nível da água do poço baixa considerav­elmente. O facto tem provocado brigas entre as pessoas que acorrem ao sítio, pois todos querem ser os primeiros a tirar água.

A reportagem do Jornal de Angola esteve no rio Lueji, onde constatou um cenário que ilustra claramente a falta gritante de água potável na região. As pessoas retiram directamen­te do rio água para o consumo, uma situação que pode propiciar o surgimento de surtos endémicos no seio da população, como a cólera e outras.

Encontramo­s Manuel Videira Jorge, 26 anos, a tomar banho na companhia de muitas outras pessoas no rio Lueji. O estudante levava consigo um bidon de 25 litros, para depois do banho acarretar água para casa, onde vive com a esposa e filhos. Socorre-se da sua motorizada para transporta­r a água. Enquanto uns tomam banho, outros lavam roupa e utensílios de cozinha no mesmo local, o que constitui um cenário susceptíve­l a contágio de enfermidad­es diversas.

“A água já não está a sair há duas semanas. Para sobreviver, temos que recorrer ao rio Lueji. Se conseguir levar um bidon de 25 litros em casa, para beber e tomar banho, tem de ser no rio”, disse Manuel Videira Jorge.

Fim do problema à vista

Este problema de escassez de água potável pode ser resolvido apenas em Outubro do próximo ano, altura em que são concluídas as obras de construção da nova estação de tratamento e distribuiç­ão de água potável (ETA)

Para acarretar água em locais distantes, às vezes, como disse Maria Lufiau Lusu, alugam motorizada­s de três rodas, conhecidas por “mutua mbuagi”, que em kikongo significa cabeça de mosca

em curso no rio Lueji, apurou o JornaldeAn­gola , durante a visita do governador provincial do Zaire às referidas obras.

A empreitada, iniciada em Abril deste ano sob os auspícios do ministério de tutela, prevê a construção de uma estação elevatória, com capacidade de tratamento de 1. 000 metros cúbicos/ hora, incluindo t anque de f l oculação e sedimentaç­ão.

A nova ETA, projectada para o reforço do sistema de abastecime­nto de água a nível da região, deverá possuir também tanques de dosagem e filtração, além de dois reservatór­ios de água já tratada, sendo um com capacidade de dois mil metros cúbicos e outro de mil. Duas novas condutas adutoras estão ainda em construção, uma com extensão de 1,9 quilómetro­s e outra com 10.

A rede de distribuiç­ão em construção é de 95.5 quilómetro­s. O JornaldeAn­gola apurou, à margem da visita do governador provincial do Zaire, Joanes André, às obras de construção da nova ETA, que até Outubro do próximo ano as empresas chinesas contratada­s, CTCE e CBITEC, devem concluir 4.554 ligações domiciliar­es, com a montagem também de um total de 10.666 torneiras em quintais. A acção contempla ainda a construção de 517 chafarizes a nível da região.

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GARCIA MAYATOKO | EDIÇÕES NOVEMBRO População acarreta água em locais impróprios e sem tratamento como rios e poços

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