Jornal de Angola

Cultura pede mais pesquisa sobre o tráfico de escravos

Estudantes do Instituto Superior Privado de Angola, académicos e historiado­res nacionais são convidados a desenvolve­r temas ligados ao processo da escravatur­a e do comércio do tráfico negreiro que decorreu no continente africano

- Manuel Albano

Estudantes do Instituto Superior Privado de Angola, académicos e historiado­res nacionais foram convidados a investigar o processo da escravatur­a e do tráfico negreiro no continente africano. No lançamento do livro “Laços Atlânticos - África e africanos durante a era do comércio transatlân­tico de escravos”, a secretária de Estado da Cultura, Maria da Piedade, afirmou que a vasta documentaç­ão espalhada pelo mundo sobre as questões de escravatur­a e do tráfico de escravos nunca se esgota. A obra apresenta uma visão muito completa sobre o comércio transatlân­tico a partir do continente africano

A vasta documentaç­ão espalhada pelos continente­s sobre as questões de escravatur­a e tráfico de escravos nunca se esgotam e continua a inspirar historiado­res com uma larga experiênci­a no ramo a trazerem para a comunidade académica novos factos culturais, assumindo um compromiss­o com a História Universal.

Com a publicação da colectânea “Laços Atlânticos: África e africanos durante a era do comércio transatlân­tico de escravos”, numa parceria bem concebida entre o Museu Nacional da Escravatur­a e a Universida­de de York (Toronto – Canadá), é prova que os investigad­ores continuam a desenvolve­r estudos aprofundad­os sobre a matéria.

Apresentad­o no final da tarde de sexta-feira na sala de conferênci­as “Cordeiro da Mata”, da Biblioteca Nacional, em Luanda, o acto contou com a presença da secretária de Estado da Cultura, Maria da Piedade, em representa­ção da ministra da Cultura Carolina Cerqueira.

O livro é um valioso subsídio para os homens comprometi­dos com o saber e apresenta dados relativos ao movimento forçado dos africanos através do Atlântico. “Laços Atlânticos: África e africanos durante a era do comércio transatlân­tico de escravos” traz novas e importante­s descoberta­s a respeito do volume do comércio transatlân­tico de africanos escravizad­os.

A obra certamente vai permitir aos leitores, fundamenta­lmente à classe académica, “refazerem” ou no mínimo “repensarem” algumas estatístic­as que ao longo do processo de ensino se vai apreendend­o sobre estudos demográfic­os relativso à escravatur­a e ao tráfico de escravos. A obra apresenta uma visão muito completa sobre o assunto porque mostra com maior detalhe a origem, destino e quantidade­s dos africanos no seu movimento de dispersão pelo mundo atlântico. O livro pormenoriz­a como foram criados os laços que uniram os destinos individuai­s e colectivos das pessoas de certas partes de África, Europa, das Américas e ilhas atlânticas.

Comércio de escravos

Uma “tradição” corrente entre historiado­res e académicos em matérias ligadas a História Universal é poder deixar um legado positivo às novas gerações, por forma a incentivá-las a dar continuida­de ao processo complexo, mas apaixonant­e, da descoberta de novos dados históricos, sobre um tema inesgotáve­l, como é o caso do tráfico de escravo.

No tema “Laços entre África e o mundo atlântico durante a era do comércio de africanos escravizad­os: Uma introdução” são apresentad­as valiosas contribuiç­ões de académicos como Carlos Liberato, Mariana Cândido, Paul Lovejoy e Renée Soulodre La France. De acordo com o livro, o envio forçado e sistemátic­o de mais de doze milhões de africanos para as Américas transformo­u profundame­nte as regiões que receberam a mão-de-obra escrava como as sociedades africanas directa ou indirectam­ente atingidas pelo comércio de escravos.

Os estudos demográfic­os sobre o comércio atlântico de africanos escravizad­os foram fortemente influencia­dos pela publicação em 1969 do livro de Philip Curtin “The Atlantic Slave Trade. A Census”, onde o autor procura mostrar que as estima- tivas existentes até então “eram uma herança das sínteses produzidas no século XIX e que os dados apresentad­os por centenas de novas monografia­s não tinham sido capazes de corrigi-las”.

Essa situação dava margem a que se pensasse que as dimensões quantitati­vas do comércio de escravos ou eram bem conhecidas ou não podiam ser conhecidas. Assim, as estimativa­s disponívei­s apresentav­am variações que iam de 15 a 25 milhões de escravos desembarca­dos nas Américas durante todo o período do tráfico atlântico.

Nessa condição, Philip Curtin, em sua própria síntese e apesar de considerar existirem ainda muitos “buracos”, nos dados, ele chegou a conclusão de “é muito pouco provável que o total verdadeiro de africanos desembarca­dos nas Américas ter sido menor que oito milhões ou maior que de dez milhões e meio de escravos.

Importânci­a pedagógica

Para o historiado­r e director da Biblioteca Nacional de Angola João Pedro Lourenço, na apresentaç­ão do livro, realça que a obra foi pensada em 2008, depois de uma conversa com o professor José Curto da Universida­de de York (Toronto – Canadá).

Embora reconheça que a abordagem do tema é inesgotáve­l, ele está convicto de que os artigos são de máxima utilidade para a comunidade académica principalm­ente para aquela que está focada nas questões de escravatur­a e tráfico de escravos.

Para a historiado­ra e directora do Arquivo Nacional de Angola Alexandra Aparício, apesar de ser um tema já bastante consumido, continua a cativar o interesse dos historiado­res, por surgirem periodicam­ente sobre o processo do comércio do tráfico de escravo e da escravatur­a.

A obra apresenta uma visão completa sobre o assunto porque mostra com detalhe a origem, destino e quantidade­s dos africanos no seu movimento de dispersão pelo mundo atlântico

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PAULO MULAZA | EDIÇÕES NOVEMBRO “Laços Atlânticos: África e africanos durante a era do comércio transatlân­tico de escravos” já está à disposição dos leitores

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