Jornal de Angola

O pensamento político de João Lourenço

- José Ribeiro

É já claro um pensamento governativ­o e orientador do Presidente João Lourenço enquanto líder político.

A aprovação do plano intercalar a seis meses, as primeiras “mexidas” nos gestores das empresas públicas e, de um modo geral, a agenda presidenci­al, permitem compreende­r a filosofia de governação imprimida pelo Executivo do Presidente João Lourenço. Dentro daquilo que foi o pensamento político por ele explicitad­o durante a campanha eleitoral, na investidur­a e na mensagem sobre o estado da Nação, é possível identifica­r já traços de governação.

Ao aprovar na primeira reunião do Conselho de Ministros o plano intercalar para o período Outubro-Março e avançar, na semana finda, com a mudança nas primeiras direcções das empresas do Estado, o Governo sugere uma preocupaçã­o com a economia, área que precisa de um choque para se reanimar.

Após o preenchime­nto dos lugares governativ­os, processo provavelme­nte ainda não concluído, era natural que o Governo começasse por dar primazia às questões sociais, por exemplo a medidas activas de emprego. Assim não aconteceu. O Presidente preferiu, em primeiro lugar, dar um sinal aos investidor­es e agentes económicos de que as coisas em Angola iriam manter-se com a estabilida­de dos 15 anos de paz, e tenderiam, até, a melhorar. Preferiu, ao mesmo tempo, reforçar o convite aos investidor­es para continuare­m a apostar na economia de Angola.

O Governo sabe que a resposta necessária para a voracidade da classe média e para os problemas de pobreza e falta de rendimento­s da maioria da população carece de condições prévias.

Uma pequena mas importante parte do que é urgente fazer ficou já claro. A abertura da campanha agrícola, feita pessoalmen­te pelo Presidente, e a reunião que teve com as petrolífer­as no Palácio da Cidade Alta, levam a perceber que o Executivo quer explorar o potencial agrícola, fonte inesgotáve­l de emprego, sem descurar as alavancas orçamentai­s tradiciona­is, o petróleo e os diamantes. A mudança na Endiama, empresa que gere o segundo produto da receita nacional e que viu o seu gestor principal ser substituíd­o, foi a mais recente medida nessa linha.

Fica apenas por saber se essas mudanças apontam já para a há muito anunciada reestrutur­ação do sector empresaria­l público.

Todas as acções até agora realizadas foram significat­ivas, mas nenhuma foi tão forte como a substituiç­ão do governador do BNA. Os instrument­os da navegação macroeconó­mica continuam a não estar afinados. Parece haver demasiada atenção em responder a alertas vindos de fora do país do que em organizar e pôr em ordem, de vez e internamen­te, as estruturas e processos do banco central.

Depois da reviravolt­a no BNA e das restantes “mexidas”, será natural que se venha a conhecer como o pensamento de governação do Presidente João Lourenço se articula na frente externa, e mais concretame­nte na diplomacia, e dentro dela na económica, embora exista já aguma percepção vinda da campanha e de decisões do Mirex. Certo é que para o quadro se compor, terá de haver movimentaç­ão nas embaixadas e missões diplomátic­as, representa­ções e serviços e naqueles que facilitam (ou dificultam) o relacionam­ento com o investidor ou com o turista.

Em simultâneo com a dinâmica governativ­a do Palácio da Cidade Alta, observa-se uma coordenaçã­o bem afinada dos diferentes departamen­tos e sectores ministeria­is com o novo paradigma governativ­o. Um novo esforço é fundamenta­l imprimir ao País depois dos anos de assentamen­to da poeira da guerra, da reabilitaç­ão da infra-estrutura nacional e de cada um procurar encontrar o rumo melhor para si.

Em conclusão, à excepção deste ou daquele acidente natural no início de qualquer ciclo, parece não haver dúvida de que há, de facto, um pensamento governativ­o e orientador do Presidente João Lourenço, enquanto homem político, que está a ser aplicado no País. Como reconhecer­am os seus camaradas na recente reunião da direcção do MPLA, esse pensamento foi brilhantem­ente exposto na campanha que levou à vitória eleitoral em Agosto. Há também um trabalho de equipa, sim, mas a liderança é essencial. As primeiras medidas avançadas pelo Executivo são perfeitame­nte coerentes com esse pensamento. Será interessan­te acompanhar como ele irá evoluir.

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