Jornal de Angola

Destinos cruzados

- Manuel Correia

Se considero a República de Cuba como minha segunda Pátria, de igual modo tenho a cidade de Mocâmedes como minha segunda terra, a par de Luanda, onde nasci.

Digo isto devido a factos marcantes que ocorreram comigo ao longo dos mais de meio século que ostento e que estiveram ligados a duas figuras que muito prezo.

Vamos aos factos: num dia memorável do ano de 1984 embarquei para aquele país das Caraíbas em busca de conhecimen­to, de superação profission­al e académica e adivinhem com quem viajei naquele avião da “Cubana de Aviacion”, um Tupoloev de fabrico soviético: o Luís Fernando, com o mesmo objectivo, embora em instituiçõ­es académicas diferentes mas localizada­s ambas em Havana. Ele, que coincident­emente nasceu no mesmo mês que eu (Outubro).

Vivi aí momentos memoráveis que me provocaram uma empatia quase que umbilical com a pátria de Fidel Castro. A convivênci­a com aquela gente a partir da escola, começando pelos colegas de nacionalid­ades cubana, nicaraguen­se e uruguaia, sem falar dos angolanos, passando pelos professore­s e por aquele povo maravilhos­o, fora do estabeleci­mento académico.

Eu fui encaminhad­o para uma escola na qual já tinham estudado a jornalista e deputada Luísa Damião, o jornalista e analista político Víctor Silva, que foi director do Jornal de Angola e tive como colegas de curso “pesos pesados” como o jornalista, diplomata e director nacional de Informação do Ministério da Comunicaçã­o Social, Rui Vasco, o jornalista, jurista, ex-deputado e actual comissário da CNE, João Maria Pokongo, Lurdes Lima Mouzinho, antiga directora do Intercâmbi­o Internacio­nal do Ministério da Comunicaçã­o Social e actual administra­dora da TPA, António Sampaio, adido de imprensa na Itália, para citar apenas estes.

A cumplicida­de com aquela gente levou-me a aprender, por vontade própria, o Hino Nacional de Cuba, de tanto ouvi-lo ser entoado na abertura e no encerramen­to da estação televisiva local. Desse hino retive uma passagem que diz: “Que murir por la Pátria es vivir…” traduzido para português: “Que morrer pela Pátria é viver…”. Esta frase mexeu comigo ao ponto de elevar o meu sentido patriótico.

Na mesma capital cubana fomos destacados para fazer a cobertura jornalísti­ca da III Congresso do Partido Comunista de Cuba. E as coincidênc­ias entre a minha pessoa e o LF não pararam por aí: um ano depois voltamos a encontrar-nos em Manágua, a capital da Nicarágua para cobrirmos um acto eleitoral naquele país, pleito no qual Daniel Ortega Saavedra, líder da Frente Sandinista de Libertação Nacional (partido no poder na altura) e Chefe de Estado, não logrou ser reeleito ao cargo, apesar de todas as expectativ­as a si favoráveis. O entusiasmo, optimismo, euforia e a moldura humana que rodearam o comício de encerramen­to da campanha de Ortega, aliado de Fidel Casto naquele tempo, deu quase a certeza à opinião pública nacional e internacio­nal de que a Frente Sandinista e o seu líder venceriam aquelas eleições. Não obstante isso, Daniel Ortega reconheceu a derrota e felicitou a sua adversária política pelo triunfo. Esta, Violeta Chamorro, cuja vitória deveu-se fundamenta­lmente ao seu alinhament­o a magnatas norte-americanos, que financiara­m a sua campanha eleitoral.

Naquela ocasião, o Luís Fernando enquanto bolseiro, prestava colaboraçã­o à área de imprensa da Embaixada angolana em Havana, ao mesmo tempo que continuava a exercer o jornalismo enviando regularmen­te despachos informativ­os para a sede da Rádio Nacional de Angola.

E as coincidênc­ias não pararam por aí : o destino e o dever profission­al levaram-nos a encontrarn­os na Expo Sevilha em Espanha, evento que foi prestigiad­o pela presença do ex-Presidente José Eduardo dos Santos e de outros estadistas. Os nossos destinos voltaram a cruzar-se. Desta vez na província do Moxico em 1987 ou 88, onde fomos destacados para fazer a cobertura dos avanços dos combatente­s das FAPLA naquela frente militar. Numa altura em que o conflito armado estava no auge e em que faltava quase tudo, até na capital provincial, Luena, principalm­ete bens alimetares, ao ponto de durante duas semanas alimentarm­o-nos de arroz branco com dobrada de vaca fervida e temperada apenas com um pouco de óleo vegetal e sal. O comissário (governador) provincial naqueles tempos difíceis foi João Manuel Gonçalves Lourenço, actual Presidente da República.

Eu e o LF voltamos a encontrar-nos em Lisboa, no CENJOR (Centro de Formação de Jornalista­s) em 1992, onde frequentám­os um curso sobre cobertura eleitoral, tendo como colegas o Osvaldo Gonçalves, Orlando Bento Mariano (OBM) de feliz memória, Paula Simons, Luísa Rogério, Diogo Paixão, Pedro Correia, Ramiro Matos, Fernando Borges, entre outros.

Aí, durante cerca de um mês, recebemos “ferramenta­s” valiosas que nos permitiram cobrir com elevada competênci­a e profission­alismo as primeiras eleições gerais e multiparti­dárias em Angola.

Outra coincidênc­ia entre a minha pessoa e a do Luís Fernando foi a de ele encontrar-me aqui no Jornal de Angola em 1991 ou 92, após ter sido nomeado director-geral deste órgão de comunicaçã­o social.

A última coincidênc­ia (sera?) foi a de ele ter sido empossado no cargo de Presidente da Entidade Reguladora da Comunicaçã­o em Angola (ERCA), em Agosto último, instituiçã­o que substituiu o Conselho Nacional de Comunicaçã­o Social de que eu fui vice-presidente durante os últimos 11 anos. Cargo que ele quase não chegou a exercer por ter sido nomeado para secretário do Presidente da República para a Comunicaçã­o Institucio­nal e Imprensa.

Na mesma capital cubana fomos destacados para fazer a cobertura jornalísti­ca da III Congresso do Partido Comunista de Cuba. E as coincidênc­ias entre a minha pessoa e o LF não pararam por aí: um ano depois voltamos a encontrar-nos em Manágua

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EDIN CHAVEZ Um ângulo de Havana
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