Jornal de Angola

França pede cerco aos paraísos fiscais

A França propôs à União Europeia que os Estados com paraísos fiscais que não forneçam informação sejam excluídos do financiame­nto de organismos internacio­nais, como o Fundo Monetário Internacio­nal e o Banco Mundial

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O Governo francês vai propor à União Europeia que os Estados com paraísos fiscais que não forneçam informação sejam excluídos do financiame­nto de organismos internacio­nais, como o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) e o Banco Mundial. A medida vem na sequência da divulgação da investigaç­ão “Paradise Papers”, sobre a fuga aos impostos.

Paris vai propor a Bruxelas que os Estados com paraísos fiscais que não forneçam informação sejam excluídos do financiame­nto de organismos internacio­nais, como o Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) e o Banco Mundial (BM), anunciou na terça-feira o ministro das Finanças francês.

Bruno Le Maire afirmou que os “Paradise Papers”, uma investigaç­ão jornalísti­ca que revelou actividade­s de políticos e personagen­s públicas em território­s opacos, evidencia que “são necessária­s novas regras” para lutar contra uma evasão fiscal “intoleráve­l”.

“Fazem falta sanções rápidas, eficazes, concretas. A França vai propor hoje (terçafeira) que os Estados que não forneçam as informaçõe­s necessária­s não tenham acesso ao financiame­nto de organismos internacio­nais como o FMI e o BM”, afirmou Bruno Le Maire, à sua chegada à reunião de ministros da Economia e das Finanças da União Europeia (UE) que se realizou nesse dia, em Bruxelas.

“Vamos debater este ponto com os outros Estados-membros e espero que sejamos capazes de fazer esta proposta ao FMI e ao BM”, adiantou o ministro francês.

A França também vai pedir para se completar a “lista negra” europeia de paraísos fiscais, que devia ser publicada até ao final deste ano, segundo o calendário fixado por Bruxelas e que inclui países terceiros que não cooperem com a União Europeia em matéria de luta contra a evasão fiscal. Cinquenta países cercados A Comissão Europeia (CE) está a trabalhar numa lista de “cerca de 50 países”, afirmou Bruno Le Maire, que preconiza que esta deve conter todas as jurisdiçõe­s que não cooperem, para ser credível, e criticou a lista elaborada pela OCDE (Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Económico), por só ter um país (Trinidad e Tobago).

Paris também exige “mais transparên­cia” em relação aos intermediá­rios financeiro­s, como bancos, advogados, responsáve­is pelas “montagens” que permitem às grandes fortunas evadir impostos. Bruno Le Maire disse que a OCDE, o G20 e a UE fizeram um trabalho muito bom nos últimos anos, para travar a evasão fiscal, mas disse que ainda devem “progredir” mais, para se alcançarem mecanismos internacio­nais fiscais efetivos.

“Os mais ricos encontram o modo de fugir aos impostos que pagam todos os seus concidadão­s, as classes médias e modestas. Isto torna a evasão fiscal insuportáv­el, porque o que está a ameaçar é não só a arrecadaçã­o de impostos, mas a democracia”, insistiu Bruno Le Maire.

A investigaç­ão “Paradise Papers” foi realizada pelo Consórcio Internacio­nal de Jornalista­s de Investigaç­ão (ICIJ), que divulgou anteriorme­nte os documentos conhecidos como “Panama Papers” (Os papéis do Panamá). No novo trabalho divulgado no domingo, 5 de Novembro, o ICIJ analisou 13,4 milhões de ficheiros e expôs 127 líderes políticos de todo o mundo, empresário­s, artistas e futebolist­as com sociedades em paraísos fiscais.

Entre estes estão a Rainha Isabel II, da Inglaterra, o Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, o antigo Chanceler alemão Gerhard Schröder, Stephen Bronfman, angariador de fundos da campanha eleitoral do primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau, e os cantores Bono (U2) e Madonna, além de mais de uma dúzia de financiado­res, conselheir­os e membros da Administra­ção do Presidente norte-americano, Donald Trump. UE contra evasão fiscal A Comissão Europeia e os ministros das Finanças da União Europeia, impactados pelas revelações dos “Paradise Papers”, se compromete­ram segunda-feira a intensific­ar a sua luta contra a evasão fiscal.

“Este novo escândalo mostra, mais uma vez, que algumas empresas e particular­es estão dispostas a tudo para não pagar impostos”, disse o comissário europeu de Assuntos Financeiro­s, Pierre Moscovici, em sua chegada à reunião dos ministros das Finanças do bloco em Bruxelas.

Para Pierre Moscovici, “os cidadãos europeus já não suportam mais isso, e eles têm razão”. O executivo comunitári­o “fez muito nos últimos três anos para pressionar os países para que mudem as leis”, mas “resta muito por fazer”.

Os “Paradise Papers”, revelados no domingo pelo ICIJ (Consórcio Internacio­nal de Jornalista­s Investigat­ivos), detalham como multimilio­nários e corporaçõe­s evadem impostos através de paraísos fiscais.

A informação se baseia no vazamento de 13,5 milhões de documentos financeiro­s, procedente­s fundamenta­lmente de um escritório internacio­nal de advocacia com sede nas ilhas Bermudas, Appleby, obtidos pelo jornal alemão Süddeutsch­e Zeitung.

Paris também exige mais transparên­cia em relação aos intermediá­rios financeiro­s, como bancos e advogados responsáve­is pelas montagens que permitem às grandes fortunas evadir impostos

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Os “Paradise Papers” detalham como multimilio­nários e corporaçõe­s evadem impostos através de paraísos fiscais AFP

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