Mnangagwa assume hoje a presidência do Zimbabwe
Antigo Vice-Presidente de Robert Mugabe assume a chefia interina do Estado com a responsabilidade de preparar as eleições gerais que terão lugar no próximo ano e com a promessa de recuperar e manter a estabilidade desejada
Numa cerimónia simples, que decorre na sede do Parlamento, Emmerson Mnangagwa assume hoje a presidência interina do Zimbabwe com a principal responsabilidade de preparar as eleições gerais do próximo ano. O acto de posse é orientado pelo líder do Parlamento, Jacob Mubenda.
A cerimónia de posse de Emmerson Mnangagwa será dada pelo presidente do Parlamento após o que o novo líder partirá para a sede da ZANU-PF onde presidirá à primeira reunião do partido
Numa cerimónia simples, que decorrerá na sede do Parlamento, Emmerson Mnangagwa assumirá a partir de hoje a presidência interina do Zimbabwe com a principal responsabilidade de preparar as eleições gerais que terão lugar no próximo ano.
A posse será dada pelo líder do Parlamento, Jacob Mubenda, após o que Mnangagwa partirá para a sede da ZANU-PF onde presidirá à primeira reunião do partido na sua qualidade de Presidente da República.
Fonte da ZANU-PF disse ao Jornal de Angola que nessa reunião deverão ser escolhidos os elementos que farão parte do novo governo e reconstituído o seu Comité Central, visto que algumas das 40 pessoas que foram expulsas do partido na reunião de sábado passado pertenciam àquele órgão dirigente.
A fonte não quis adiantar pormenores sobre as esperadas mudanças no executivo, “isso é da competência do futuro Presidente”, mas sublinhou ser normal que Emmerson Mnangagwa queira ver junto de si pessoas da sua inteira confiança.
Neste começo de uma nova era no Zimbabwe estão empenhadas todas as forças partidárias, restando saber se estarão na disposição de conceder um período de graça para que o novo Presidente possa mostrar trabalho.
Mas esse período de graça, se for concedido, não será muito longo, até porque a ZANU-PF já tem agendado para meados de Dezembro um congresso extraordinário no qual serão ratificadas as escolhas que agora Mnangagwa irá fazer e que, certamente, nem todas serão do agrado da oposição.
Até porque, é bom que se diga, a oposição está muito céptica em relação àquilo que poderá ser o trabalho do novo Presidente, pois por várias vozes recordam que ele foi até há duas semanas o braço direito de Mugabe e o seu potencial sucessor na Presidência da República.
Para já existe a garantia da parte dos militares de que não deixarão que a ZANU-PF quebre as garantias de segurança e de imunidade que foram dadas à família Mugabe, o que por si só é um facto que pode contribuir para arrefecer certos ânimos revanchistas e manter assim a estabilidade desejada no início desta nova era.
Ontem pela primeira vez desde que apresentou a sua resignação, Mugabe foi visto numa foto publicada no jornal Herald e na qual aparece ao lado da esposa e de três dos seus mais fiéis seguidores e que nunca o acompanharam desde que os miliares decretaram a sua prisão domiciliária.
Quer isto dizer que, aos poucos, a vida no Zimbabwe vai retomando o seu curso normal, abrindo espaço para que se possa começar a pensar no futuro imediato. Um futuro no qual Emmerson Mnangagwa tem um papel preponderante.
Os desafios a vencer
Um dos grandes desafios que Emmerson Mnangagwa terá de vencer vai ser o de conseguir convencer os Estados Unidos e a União Europeia (UE) a levantarem as sanções que pesam sobre o Zimbabwe e que são responsáveis pela grave crise económica que empobreceu miseravelmente o país.
Essas sanções levaram à paralisação da economia zimbabweana, impedida de importar as principais matérias-primas de que necessita para manter a indústria em funcionamento e assim produzir riqueza para o país.
Por outro lado, essas sanções fecharam os mercados tradicionais para as exportações do Zimbabwe, obrigado ao recurso a outras fontes de financiamento sem que houvesse, antecipadamente, a criação de estruturas para que isso pudesse ser feito da melhor forma.
Por exemplo os diamantes, que começaram a ser explorados no país há cerca de quatro anos, não estão a conseguir as receitas esperadas devido a essas mesmas sanções e à inexistência
de especialização interna no sector, levando o Zimbabwe a recorrer a intermediários internacionais para a sua comercialização, o que diminuiu de modo muito significativo as suas margens de lucro.
Um outro desafio que o novo Presidente do Zimbabwe terá pela frente é o de desfazer a ideia, que a sua carreira política deixa perceber, de ter sido durante mais de cinco décadas um dos principais homens de confiança de Robert Mugabe.
Muitos ainda acreditam que se não fosse a “pressa” de Grace Mugabe chegar ao poder e Emmerson Mnangagwa estaria, mais uma vez, na linha da frente no apoio a uma nova recandidatura de Robert Mugabe, pelo menos, à liderança da ZANU-PF, não obstante este já ter 93 anos de idade.
Mas, o grande desafio de Emmerson Mnangagwa vai ser mesmo conseguir confirmar junto dos zimbabweanos a enorme janela de esperança que ele ajudou a abrir. Isso ele só conseguirá fazer se tiver um forte apoio internacional, pois no estado em que a economia do Zimbabwe se encontra, por si só, muito dificilmente recuperará o imenso tempo perdido.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) disse já que o país necessita de “profundas reformas económicas” para se recuperar, posicionando-se na linha da frente para participar num plano mais alargado de ajuda.
Mas esse plano, quer o FMI queira ou não, só pode funcionar se a União Europeia e os Estados Unidos levantarem as sanções em curso e que têm impedido o desenvolvimento do Zimbabwe, tanto do ponto de vista económico como, sobretudo, social, uma vez que freia a aplicação de medidas que aliviem o sofrimento e a penúria da população na satisfação das suas necessidades mais básicas.
Durante demasiados anos, a União Europeia e os Estados Unidos usaram a população como “refém” para obrigar Robert Mugabe a resignar.
Agora que ele já resignou, o povo zimbabweano confia em que a União Europeia e os Estados Unidos possam dar o passo que possibilite à nova liderança do país criar as condições para a aplicação de medidas capazes de mobilizar os zimbabweanos em torno de um programa credível para a resolução dos seus problemas mais urgentes.
Fundo Monetário Internacional afirma que o Zimbabwe necessita de “profundas reformas económicas” para se recuperar, posicionando-se na linha da frente para participar num plano mais alargado de ajuda