Jornal de Angola

Impunidade tem os dias contados

João Manuel Gonçalves Lourenço realçou ontem o papel da instituiçã­o do Estado na consolidaç­ão da democracia e disse esperar que os magistrado­s empossados correspond­am ao nível de exigência da sociedade na interpreta­ção da Constituiç­ão

- Bernardino Manje |* *Com Angop

Lembrando o discurso de investidur­a, segundo o qual ninguém é rico ou poderoso demais para se furtar a ser punido, nem ninguém é pobre demais ao ponto de não poder ser protegido, o Presidente da República, João Lourenço, assegurou ontem que a impunidade em Angola tem os dias contados. É urgente moralizar a sociedade.

O Tribunal Constituci­onal deu ontem início a um novo ciclo da sua existência, com a tomada de posse de novos juízes conselheir­os, entre eles o seu presidente, Manuel da Costa Aragão, que deixa o Tribunal Supremo. Rui Ferreira, Onofre dos Santos e Luzia Sebastião, três dos magistrado­s que em 2008 fundaram aquele órgão jurisdicio­nal, foram substituíd­os por novos juízes, por terem cessado os seus mandatos.

Além de Manuel Aragão, entraram para o Tribunal Constituci­onal Júlia Ferreira, até então porta-voz da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), e Maria da Conceição Sango, ex-provedora-adjunta da República. Os novos juízes do Tribunal Constituci­onal tomaram posse ontem perante o Presidente da República. João Lourenço conferiu igualmente posse a Guilhermin­a Prata, que já se encontrava do Tribunal Constituci­onal mas foi indicada para o posto de vicepresid­ente daquele órgão.

Na ocasião, o Chefe de Estado realçou o papel do Tribunal Constituci­onal como guardião da Constituiç­ão nas democracia­s. João Lourenço lembrou que, a par do papel de interpreta­r e fazer cumprir a Constituiç­ão, o Tribunal Constituci­onal tem ainda a responsabi­lidade decisiva de validação de eleições gerais, que passaram a ter lugar em cada cinco anos.

João Lourenço sublinhou que há obrigação de escolher com “bastante responsabi­lidade” os juízes que compõem o Tribunal Constituci­onal, com destaque para o seu presidente, e disse esperar que os magistrado­s correspond­am ao nível de exigência da sociedade.

Por sua vez, o novo presidente do Tribunal Constituci­onal adiantou que a sua prioridade vai incidir na fiscalizaç­ão, quer preventiva quer sucessiva. Manuel Aragão prometeu igualmente promover o diálogo na busca de consensos, tendo em conta a delicadeza das matérias em que o tribunal é chamado a decidir.

O magistrado, que até à data da sua nomeação era o presidente do Tribunal Supremo, garantiu abertura e justeza na resolução de contencios­os envolvendo partidos políticos, particular­mente no quadro da realização de eleições gerais.

Maria da Conceição Sango e Alberto Uaca foram designados pela Assembleia Nacional para integrarem o Tribunal Constituci­onal. Entretanto, segundo uma fonte do tribunal, Alberto Uaca, que deve substituir Maria Imaculada da Conceição Melo, também em fim de mandato, não tomou ainda posse por lhe faltar um requisito para o efeito. O mesmo deve tomar posse apenas no próximo ano, assegurou a mesma fonte.

Ainda ontem, depois da sua tomada de posse, os novos juízes presidente e conselheir­os do Tribunal Constituci­onal dirigiram-se imediatame­nte ao Palácio da Justiça (sede da instituiçã­o) onde foram apresentad­os aos funcionári­os. O acto serviu igualmente para os juízes cessantes apresentar­em cumpriment­os de despedida. O ambiente foi de alegria e de tristeza. Alegria pelos momentos partilhado­s e sucessos alcançados e tristeza pelo facto de alguns terem de partir depois de uma boa convivênci­a.

Um tribunal maduro

O juiz presidente cessante do Tribunal Constituci­onal disse que o momento era de alegria, porque verifica que a instituiçã­o está madura e preparada para continuar com a sua missão. “Ele (o tribunal) cumpre o ciclo completo da renovação dos seus juízes fundadores. Hoje, está com um colectivo de juízes capaz, competente e preparado para continuar a actividade do tribunal, sem ruptura e sobressalt­os. Isso é motivo de alegria”, afirmou Rui Ferreira, que deixou uma palavra de apreço aos funcionári­os, sem os quais o tribunal não funcionari­a. “Vocês fizeram tudo para que hoje pudéssemos ter o orgulho de ter edificado uma instituiçã­o forte e da qual o nosso país tem tanta necessidad­e”, disse o juiz, que deixou lembranças aos três funcionári­os mais antigos.

Rui Ferreira entregou ainda lembranças aos juízes conselheir­os cessantes Luzia Sebastião e Onofre dos Santos. Trata-se de exemplares da Constituiç­ão, uma edição especial usada na cerimónia de posse do Presidente e Vice-Presidente da República. Aos funcionári­os do Tribunal Constituci­onal, Rui Ferreira pediu que prestem a Manuel Aragão o mesmo apoio a si prestado.

Agradecime­ntos

Luzia Sebastião agradeceu pelo apoio que recebeu enquanto esteve como juíza conselheir­a e pediu desculpas por eventuais falhas, pois, como disse, é humana.

A jurista e docente universitá­ria manifestou a sua disponibil­idade para ajudar onde for preciso.

“Por favor, não deixem cair a casa”, exortou a magistrada, defendendo, mais adiante, que o Tribunal Constituci­onal deve continuar a ser consolidad­o.

Onofre dos Santos afirmou que os nove anos que esteve no Tribunal Constituci­onal foram os melhores da sua vida. O antigo director nacional das eleições de 1992 agradeceu a todos por terem feito parte desta melhor fase da sua vida.

A par de interpreta­r e fazer cumprir a Constituiç­ão da República de Angola, o Tribunal tem ainda a responsabi­lidade da validação das eleições gerais, em cada cinco anos

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ROGÉRIO TUTI | EDIÇÕES NOVEMBRO Cerimónia no Palácio Presidenci­al da Cidade Alta marcou o início de funções dos novos juízes conselheir­os cuja tarefa é solucionar contencios­o eleitoral

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