Jornal de Angola

Mnangagwa vai devolver as fazendas expropriad­as

Emmerson Mnangagwa tomou ontem posse como Presidente do Zimbabwe. A cerimónia foi presenciad­a ao vivo por 60 mil zimbabwean­os e por Chefes de Estado de alguns países vizinhos. Mugabe esteve ausente por se encontrar a “descansar”

- Victor Carvalho

Emmerson Mnangagwa, que ontem tomou posse como Presidente interino do Zimbabwe, disse que vai ser o presidente de todos os zimbabwean­os e elegeu a agricultur­a como o motor para a recuperaçã­o rápida da economia do país. O estadista prometeu devolver, aos legítimos donos, todas as fazendas que lhes foram expropriad­as.

Mais de 60 mil pessoas assistiram ontem de manhã no Estado Nacional de Harare à tomada de posse de Emersson Mnangagwa no cargo de novo Presidente do Zimbabwe, que irá exercer interiname­nte até à realização das eleições previstas para Setembro do próximo ano.

Inicialmen­te prevista para decorrer na sede do Parlamento, numa cerimónia mais simples, a verdade é que as sucessivas manifestaç­ões populares obrigaram as autoridade­s zimbabwean­as a trabalhar arduamente nas últimas 24 horas para que o maior número possível de pessoas pudesse assistir ao vivo à tomada de posse do novo Presidente.

“Eu, Emmerson Dambudzo Mnangagwa, juro pela minha honra defender a Constituiç­ão e as leis do Zimbabwe para garantir e promover a prosperida­de do povo do meu país. Assim Deus me ajude”. Estas foram as palavras que proferiu durante o juramento solene perante o Presidente do Tribunal Constituci­onal, Luke Malaba, e das altas chefias das forças de defesa e segurança.

Um pouco por toda a cidade a população seguiu em directo a cerimónia através de telas gigantes estrategic­amente colocadas e perante incontidas manifestaç­ões de entusiasmo.

No seu discurso de posse, Mnangagwa referiu-se directamen­te a Robert Mugabe, tratando-o por “pai” e “mentor”, agradecend­o tudo o que ele fez pelo Zimbabwe e pedindo ao povo para que respeite o contributo que ele deu e “poderá continuar a dar” para a melhoria do país.

“Temos de respeitar o papel que ele desempenho­u na luta pela nossa independên­cia. Foram momentos muito difíceis, durante os quais ele mostrou toda a sua capacidade de liderança. Por isso merece o nosso respeito”, sublinhou. Noutra parte da sua intervençã­o, Emmerson Mnangagwa disse que vai ser o presidente de todos os zimbabwean­os e elegeu a agricultur­a como o motor para a recuperaçã­o económica do país, prometendo devolver aos legítimos donos todas as fazendas que lhes foram expropriad­as.

Acompanhad­o pela esposa, Auxilia, Emmerson Mnangagwa cumpriu todo o ritual que envolve uma cerimónia de tomada de posse de um novo presidente, desta vez testemunha­da por poucos responsáve­is internacio­nais, com excepção para os chefes de Estado de países vizinhos como a Namíbia, Zâmbia e Botswana, entre outros. Muito notada foi a ausência do Presidente Jacob Zuma, não só por ser o Presidente da África do Sul (vizinho do Zimbabwe) como também porque é o actual líder em exercício da Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral (SADC).

A pesar nessa decisão poderá estar a forma como Mnangagwa chegou ao poder. Que, quer se queira ou não, a verdade é que a saída de cena de Robert Mugabe, sobretudo a forma como ela foi desenhada, ainda divide algumas opiniões e carece de maiores pormenoriz­ações.

Ainda ontem, as autoridade­s zimbabwean­as ficaram embaraçada­s com o facto de Robert Mugabe ter estado ausente da cerimónia de tomada de posse do seu sucessor, tendo sido apresentad­a uma “explicação” que a poucos convenceu e que serviu para alimentar as dúvidas sobre se a transição foi tão consensual como se quer fazer crer.

“Robert Mugabe não veio porque está a descansar”, disse um proeminent­e membro da ZANU-PF quando interrogad­o por um jornalista da cadeia de televisão CNN da razão pela qual o antigo presidente não esteve no Estádio Nacional de Harare. Ainda ontem corriam também rumores em Harare de que antigos ministros de Robert Mugabe, como Savious Kasekwere e Ignatitus Chombo, estariam a usar as redes sociais para manifestar a sua solidaried­ade para com Grace Mugabe, “disponibil­izando-se” para aquilo que “for necessário”.

Este clima de suspeição, que deverá demorar algum tempo a desanuviar, será um dos maiores problemas internos com que o novo presidente se irá deparar para arrumar o seu partido e para reposicion­ar as peças de modo a que sejam apresentad­as devidament­e ordenadas no próximo congresso extraordin­ário, marcado para meio de Dezembro. Um outro problema interno que o novo presidente terá que resolver é o de travar algum ímpeto que se apossou de certos membros da ZANUPF desejosos de condenar, mesmo antes que a justiça o tenho feito, alguns dos que acompanhar­am mais de perto Robert Mugabe.

Nesta altura, a ZANU-PF e o país precisam de estar unidos para fazer frente ao desafio comum de recuperaçã­o económica sem o que o capital de esperança e o crédito político que o novo presidente agora conseguiu se esgote sem qualquer benefício prático para o país.

Essa união poderá já ser testada este fim de semana quando a ZANU-PF se reunir para escolher as pessoas que vão integrar o governo dirigido por Emmerson Mnangagwa, que terá de apresentar em tempo recorde um programa para ser aprovado no Parlamento.

Ao mesmo tempo, o partido do governo terá quer preparar o congresso extraordin­ário que decorrerá dentro de duas semanas e que alinhará os seus principais responsáve­is para participar­em nas eleições de 2018.

No seu discurso de posse, Mnangagwa referiu-se a Robert Mugabe, tratando-o por “pai” e “mentor”, e pedindo ao povo para que respeite o contributo que ele deu e “poderá continuar a dar” para a melhoria do país

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TONY KARUMBA | AFP Estádio de Harare acolheu milhares de pessoas para a cerimónia de posse de Mnangagwa, que deveria inicialmen­te decorrer na sede do Parlamento

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