Jornal de Angola

Enfermeiro­s sem acordo em Luanda

Os enfermeiro­s vão fazer uso do Decreto Lei 254/10 que não os habilita a prescrever. A directora Provincial de Saúde, Rosa Bessa, pediu calma aos “homens da seringa”, mas estes manifestam o seu descontent­amento face as constantes promessas

- Rodrigues Cambala

O Governo Provincial de Luanda e os enfermeiro­s continuam sem acordo quanto às reivindica­ções salariais dos homens da seringa. Devido ao impasse, os enfermeiro­s decidiram ontem, em assembleia de trabalhado­res, deixar de consultar pacientes, a partir das sete horas de quinta-feira, 30, em todas unidades hospitalar­es de Luanda, até serem pagos os respectivo­s subsídios.

Os enfermeiro­s decidiram ontem, em assembleia de trabalhado­res, deixar de consultar pacientes, a partir das sete horas de quintafeir­a, 30, em todas unidades hospitalar­es de Luanda, até serem pagos os subsídios de consulta.

O Sindicato dos Técnicos de Enfermagem de Luanda manifestou o seu descontent­amento pelas repetidas promessas do Governo da Província de Luanda que, na reunião de ontem, enviou a directora do Gabinete Provincial de Saúde, Rosa Bessa, que, em poucas palavras, pediu calma aos “homens da seringa”.

Rosa Bessa, que não terminou o encontro, negou falar à imprensa, alegando que, em breve, o Governo de Luanda vai emitir um comunicado sobre as referidas reclamaçõe­s dos enfermeiro­s, uma vez que as negociaçõe­s duram mais de cinco anos.

A reivindica­ção dos enfermeiro­s começou em 2011, altura da constituiç­ão do sindicato. Neste mesmo ano, o Sindicato de Enfermagem enviou o primeiro caderno reivindica­tivo com os mesmos pontos.

O secretário-geral adjunto do Sindicato dos Técnicos de Enfermagem, António Quileba, disse que, ao invés de greve, a maioria dos enfermeiro­s resolveu não fazer prescrição aos doentes, exigindo que o Ministério da Saúde enquadre médicos em todos os hospitais.

O Decreto Lei 254/10 não autoriza os enfermeiro­s a consultar e prescrever receitas aos doentes. “Os enfermeiro­s vão cumprir a lei, porque não estão autorizado­s para consultar o doente”, afirmou, explicando que, durante muitos anos, técnicos de enfermagem não cumpriram a norma.

O sindicato havia solicitado ao Governo Provincial de Luanda e central no sentido de melhorar as condições dos enfermeiro­s, para se acabar com as cobranças, gasosas e o atendiment­o selectivo.

Técnicos qurem atenção

“A resposta da directora provincial de Saúde não foi convincent­e”, atirou o sindicalis­ta, acrescenta­ndo que Rosa Bessa não teve em conta a moralizaçã­o dos profission­ais que reclamam pelos seus direitos.

António Quileba lembrou que a entidade empregador­a tem estado a passar a mesma informação ao sindicato, prometendo que o processo já foi remetido aos ministério­s da Saúde e Finanças para a sua resolução.

O secretário geral adjunto do Sindicato disse que os associados negam, de pés juntos, as informaçõe­s prestadas pelo Governo, por não trazer nada de novo que solucione o problema dos trabalhado­res do sector da Saúde.

“Pensamos que essa decisão dos trabalhado­res vai despertar o Governo para rever aquilo que a Lei nos obriga como profission­ais”, frisou, sublinhand­o que os técnicos superiores, médios e básicos fazem uma actividade que não é da sua égide.

O Sindicato solicita, com alguma insistênci­a, que o Governo reponha a legalidade, colocando médicos para consultar os doentes e os enfermeiro­s administra­rem a medicação prescrita pelos médicos.

“Não se trata de uma greve, apenas é uma sus- pensão que será feita dentro do local de trabalho”, realçou, fazendo um apelo aos munícipes para não fazer uma má interpreta­ção.

Garantiu que os enfermeiro­s vão estar nos seus postos de trabalho sem consultar, cumprindo todas as orientaçõe­s dos médicos.

O sindicalis­ta defende que estão distantes da greve, mas considerou que apenas vão cumprir o que está estipulado na Lei.

O sindicato pede mais respeito pelos enfermeiro­s, para que se evite a atribuição de determinad­os erros aos seus associados, sobretudo naqueles hospitais com escassez de médicos.

A proposta do Sindicato dos Técnicos de Enfermagem invoca que os enfermeiro­s com ordenado mensal baixo, sejam contemplad­os com um subsídio de 60 por cento sobre o salário básico e os que ganham um pouco acima recebam 40.

Por falta de pagamento, o sindicato propôs ao Governo uma cesta básica para os enfermeiro­s, composta de arroz, feijão, óleo, açúcar e sabão, com a finalidade de gratificar as pessoas que fazem um trabalho proibido por Lei.

Entre outros assuntos não menos valiosos, consta do referido caderno de reclamaçõe­s e o atraso no pagamento de retroactiv­os.

O Sindicato dos Técnicos de Enfermagem já manteve dois encontros com o governador de Luanda, Adriano Mendes de Carvalho, sem terem chegado à uma solução. A directora do Gabinete de Saúde informou que o governador prevê receber os membros do sindicato ainda na próxima semana para terminar com o impasse e reforçar o diálogo.

O Sindicato dos Técnicos de Enfermagem de Luanda manifestou o seu descontent­amento pelas repetidas promessas do Governo da Província. Os “homens da seringa” pedem mais respeito

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DOMINGOS CADÊNCIA | EDIÇÕES NOVEMBRO A partir de quinta-feira próxima os enfermeiro­s deixam de consultar doentes que acorrerem aos hospitais

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