Jornal de Angola

UM DIA HISTÓRICO

Angola e África do Sul aboliram as restrições na circulação de cidadãos dos dois países. Na sua primeira visita de Estado, o Presidente da República, João Lourenço, apelou ao investimen­to sul-africano e garantiu todo o apoio do Governo angolano. Vários ac

- Cândido Bessa | Pretória

Ministro das Relações Exteriores de Angola Manuel Augusto e homóloga da África do Sul, Maite Nkoana-Mashabane, trocam pastas dos acordos assinados

Um dia histórico para Angola e África do Sul, mas também para a Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral (SADC). Este é o sentimento que se viveu ontem em Pretória, África do Sul, depois das delegações ministeria­is de Angola e da África do Sul assinarem, no Palácio Presidenci­al Union Buildings, vários acordos e memorandos de entendimen­to, testemunha­dos pelos Presidente­s João Lourenço e Jacob Zuma.

Uma das mais influentes jornalista­s sul-africanas, Yolisa Njamela, do canal CGTV, que acompanhou as conversaçõ­es e a cerimónia de assinatura dos documentos, afirmou que o entendimen­to entre as duas principais potências da região (África do Sul em termos tecnológic­os e industrial e Angola com os seus vastos recursos naturais), pode impulsiona­r a industrial­ização regional, com reflexos para a melhoria das condições de vida da população.

A opinião da jornalista é consensual. Os dois Presidente­s fizeram questão de sublinhar nos seus discursos o papel dos dois países no processo de integração regional e como motores da nova dinâmica que pretendem imprimir à cooperação na SADC, organizaçã­o criada para promover o desenvolvi­mento económico coordenado da região, reduzir a pobreza e melhorar as condições de vida da população.

Em forma de reflexão e para realçar a necessidad­e de uma cooperação mais estreita entre os Estados membros da comunidade, o Presidente João Lourenço lembrou as vezes sem conta que as autoridade­s dos países têm de recorrer a “mercados longínquos e muitas vezes inadequado­s para satisfazer as reais necessidad­es” dos seus povos.

“A nossa acção comum no plano bilateral e no quadro da SADC podem potenciar o desenvolvi­mento dos nossos dois países, da região e mesmo do continente africano”, afirmou o Presidente João Lourenço, para sublinhar que “os problemas africanos devem ser resolvidos pelos próprios africanos, para benefício do bem-estar geral”.

O Presidente João Lourenço lembrou que os dois países partilham e assumem os principais objectivos da SADC, como o estímulo do comércio de produtos e serviços entre os Estados membros, a melhoria da qualidade de vida da população e a maximizaçã­o dos recursos naturais da região, além da busca de soluções em comum para os principais desafios da região. João Lourenço lembrou as oportunida­des que se abrem com a facilitaçã­o da circulação de pessoas e bens numa região de cerca de 200 milhões de consumidor­es, mas afirmou que nada valerá o poderio interno de cada país se estes consumidor­es não tiverem capacidade aquisitiva e se as economias não se tornarem competitiv­as ao nível global.

“A dinâmica que conseguirm­os criar vai depender o desenvolvi­mento sustentado dos nossos dois países e, também, de toda a subregião e mesmo do continente africano no seu todo”, disse, para defender acções concertada­s em prol do bemestar dos povos da região e de toda a humanidade.

Aprender com os outros

Ao justificar a escolha da África do Sul para a sua primeira visita de Estado, o Presidente João Lourenço afirmou que, passados 15 anos desde o fim da guerra, Angola aproveitou pouco as grandes capacidade­s e potenciali­dades que a África do Sul tem para o seu rápido desenvolvi­mento.

“Dirigimo-nos a África do Sul com o sentido de humildade, consciente­s de que a África do Sul, em termos de desenvolvi­mento, está bem acima de Angola, que precisamos do investimen­to privado do empresaria­do sul-africano”, disse o Presidente João Lourenço, sublinhand­o que Angola deve apreender com a África do Sul o processo de transforma­ção de uma economia paralela e informal para uma economia onde as empresas são devidament­e auditadas e cotadas em bolsa, proporcion­ando assim maiores ganhos e maior transparên­cia na gestão da coisa pública.

“Precisamos dizer ao mundo, em especial à África do Sul, de que Angola continua naquela fase em que precisa de investir fortemente nas suas infra-estruturas destruídas pela guerra”, disse, para manifestar a sua convicção de que a África do Sul tem esta capacidade de apoiar nesta fase que considerou difícil para Angola.

A África do Sul tem uma economia quase três vezes superior à angolana, se comparado a riqueza produzida no país durante o ano (PIB). Com um Produto Interno Bruto avaliado em 294,8 mil milhões de dólares, a África do Sul tem uma economia diversific­ada. Já Angola, com um Produto Interno Bruto avaliado em 102 mil milhões de dólares, de acordo com dados de 2015, depende muito de um único produto, o petróleo.

“Sairemos desta visita de Estado confiantes de que contamos com a África do Sul para o nosso desenvolvi­mento, para este momento difícil que o nosso país está a atravessar e temos a certeza de que não só Angola vai sair a ganhar, mas ao contrário também a África do Sul”, afirmou o Presidente, reconhecen­do que os dois países têm já assinados, desde que estabelece­ram relações diplomátic­as, 33 acordos e memorandos de entendimen­to em vários domínios, mas, para que as populações sintam, de facto, o impacto destes instrument­os jurídicos negociados e assinados entre delegações ministeria­is dos dois países, e as facilidade­s, era preciso um impulso nas relações bilaterais.

A ideia, agora, é redinamiza­r os acordos assinados e dar uma outra velocidade à cooperação entre os dois países, conferir um carácter estratégic­o ao relacionam­ento e explorar mais seriamente todas as imensas possibilid­ades existentes entre Angola e a África do Sul para ampliar a cooperação em todos os domínios da vida económica e social.

A nossa acção comum no plano bilateral e no quadro da SADC podem potenciar o desenvolvi­mento dos nossos dois países, da região e mesmo do continente africano

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PEDRO PARENTE | ANGOP
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Chefes de Estado testemunha­ram a assinatura de importante­s instrument­os jurídicos FRANCISCO BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO

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