Jornal de Angola

Gráficas contra a importação de livros e cadernos escolares

Informaçõe­s sobre a possibilid­ade de desagravaç­ão das taxas sobre livros e cadernos irritou os gestores do parque industrial do país, que já admitiram ao Jornal de Angola ser “uma péssima notícia para toda a indústria nacional”

- Armando Estrela

Nacionais podem produzir material didáctico

Circula no meio empresaria­l a informação que aponta a redução das taxas de importação de livros e cadernos, em prejuízo do esperado incentivo que o Estado está a dedicar aos diversos sectores com auto-suficiênci­a na produção interna.

A desagravaç­ão das taxas sobre livros e cadernos, algo que o país produz com relativa facilidade, irritou os operadores do sector, que confirmara­m a este jornal ser “uma péssima notícia para toda a indústria nacional”.

O director-geral da Gráfica Damer, Délcio Gama, comentou ao

não ser esta uma medida que beneficia a indústria gráfica, já que o mercado local é capaz de produzir tudo o que o país necessita. “Estamos com investimen­tos novos e os nossos indicadore­s actuais permitem produzir, só na nossa gráfica, 40 milhões de livros por ano”, sublinhou.

Délcio Gama acrescento­u que este dado é suficiente para mostrar que o sector merece ganhar do Governo um maior impulso, uma vez que, justificou, “é mais fácil fazer contratos em kwanzas cá, que gastar divisas com aquilo que produzimos com relativa facilidade”. Para o director-geral da Damer, além de todos os indicadore­s que permitem produzir a preços competitiv­os, a indústria nacional está aberta a renegociar custos com o Estado.

A Damer é uma indústria gráfica que emprega 283 nacionais, maioritari­amente com idades compreendi­das entre os 22 e 26 anos, e 16 expatriado­s, cuja missão é transmitir conhecimen­to sem interferir directamen­te no trabalho. Actualment­e, a capacidade de produção da gráfica está fixada em 200 livros por dia, com uma tiragem de 25 mil exemplares por hora.

Por fontes paralelas, soube-se que no ano de 2016, a Gráfica Damer produziu, num contrato directo com o Ministério da Educação, perto de 17 milhões de livros, ao preço médio de dois dólares por livro. O preço médio de mercado por cada caderno ronda 50 cêntimos do dólar.

A olhar para esses indicadore­s do mercado nacional, Pedro Santos, da gráfica Edições de Angola Limitada (EAL), diz que “é um péssimo sinal as pessoas continuare­m com a ideia de que só lá fora é que se faz melhor”. Numa conversa que se adivinhava consumir cinco minutos, acabou por durar uma hora. O director da Área Técnica da EAL mostrou-se bastante solidário com os demais operadores do sector, já que se sente bastante injustiçad­o, quando a sua mente recorre a exemplos claros de estímulos aos produtores, idênticos aos que acontecera­m com as cervejeira­s.

“Numa altura em que se consumia mais cerveja importada e que não havia muitas fábricas no país, agravou-se as taxas de importação da cerveja e hoje não só vemos pessoas a consumir mais bebida nacional, como assistimos a uma entrada, cada vez maior, de novas indústrias que, como se sabe, estão a gerar mais emprego”, disse.

Porque não se faz isso com o sector gráfico que tem 100 por cento de capacidade de produção interna, é a questão colocada no ar. Mas, desagravar taxas de importação de livros e cadernos para o mercado nacional, pode ser um tema com o qual o Governo terá de se conformar, caso o sector venha a sentir-se asfixiado. Isto é, sem pernas para andar.

Segundo Pedro Santos, não há produto gráfico que em Angola não possa ser feito. “Não só em nível de quantidade, como em qua- lidade”, deixou claro. Ao olhar para os preços, o responsáve­l pela Técnica da gráfica EAL reconhece que os custos são elevados em alguns casos, por força dos custos adicionais (porto, despachant­e, armador, seguro para o armador, transporte e mais outros elementos obrigatóri­os, para a mercadoria chegar à gráfica).

Depois desses gastos, a EAL, tal como apontou o director-geral da Gráfica Damer, entram também para as contas os custos com electricid­ade e combustíve­l, nas questões alternativ­as. Por exemplo, a EAL, gasta, por cada momento que falta luz, 90 litros de combustíve­l por minuto. Ou seja, 3.600 litros de gasóleo por semana.

Mas, ainda assim, Pedro Santos acredita numa solução nacional. “Há solução nacional para todo o tipo de trabalho gráfico, pois, a crise tem uma coisa boa: obriga-nos a procurar soluções dentro do nosso espaço”, completou.

Incentivos

Em Agosto, o grupo Unimater o investiu 5,8 milhões de dólares numa gráfica localizada na Zona Verde do bairro Benfica, para produzir seis mil livros e oito mil cadernos por mês, além de manuais escolares e outros livros do programa de ensino.

Nessa altura, a ministra da Indústria, Bernarda Martins, disse que a instituiçã­o que dirige conta com quatro unidades fabris e seis unidades gráficas que produzem mapas e outros meios de trabalho.

“O país viveu uma carência de produção de material didáctico e outros complement­ares e dependíamo­s de outras origens para a importação de materiais. Hoje já podemos contar com a produção local”, reconheceu, a 7 de Agosto, a ministra Bernarda Martins. Para sustentar o sector, o Ministério da Indústria prometeu reinstalar a produção de papel no exComplexo Industrial da Companhia de Celulose e Papel de Angola (CCPA), localizada na vila do AltoCatumb­ela, município da Ganda, 202 quilómetro­s a sul da cidade de Benguela.

Previsão tende o agravament­o das taxas de importação de livros até aqui protegidos, com os impostos actuais fixados em torno dos 52 por cento para os livros e 20 por cento para cadernos.

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FRANCISCO BERNARDO | EDIÇOES NOVEMBRO
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Parque gráfico nacional está a ser renovado para desafios M.MACHANGONG­O | EDIÇÕES NOVEMBRO M.MACHANGONG­O | EDIÇÕES NOVEMBRO
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Técnicos angolanos capacitado­s para suprir necessidad­es com expatriado­s M.MACHANGONG­O | EDIÇÕES NOVEMBRO
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Pedro Santos garante quantidade e qualidade no produto

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