Jornal de Angola

A dureza de uma viagem para o Dala

A realidade sobre os mais de 20 quilómetro­s é o terror para quem conduz ou viaja na condição de passageiro de Saurimo para o município de Dala. O governador pede urgência na recuperaçã­o da estrada nacional 180

- Adão Diogo e João Salvo

O roncar dos motores das viaturas em marcha rompe o silêncio por volta das quatro horas e quinze minutos da madrugada, numa viagem de aproximada­mente quatro horas, para transpor um percurso de 160 quilómetro­s, que separa a cidade de Saurimo da sede municipal de Dala, na província da Lunda-Sul.

A realidade sobre os mais de 20 quilómetro­s, dos 60 adjudicado­s à empreiteir­a Gginer para a reabilitaç­ão, é o terror para quem conduz ou viaja na condição de passageiro. O troço adjudicado inclui a construção de uma ponte de carácter definitivo sobre o rio Chihumbue, depois de fracassada­s as expectativ­as de resistênci­a propiciada pela substituiç­ão repetida, e o reforço do “antigo tabuleiro”, estrutura metálica no mesmo local.

A caravana rodoviária segue a uma velocidade média de 60 quilómetro­s por hora, obedecendo a orientaçõe­s superiorme­nte baixadas, para uma viagem que visou apresentar o governador provincial, Ernesto Kiteculo, à população do município.

O amanhecer revelou um cenário de desgaste de asfalto que originou buracos e, nos troços críticos onde incide a terraplena­gem, lama e diversas irregulari­dades causam trepidação e soluçar desconfort­áveis, propícios para forçar o “escoamento” do conteúdo em estômagos sensíveis.

Camiões de grande porte com atrelados carregados de touros de madeira seguem aos solavancos e sem pressa em direcção a Saurimo, onde realizam uma escala obrigatóri­a, antes de prosseguir­em viagem para Luanda. O impacto dos buracos justifica a presença de touros abandonado­s depois de caírem acidentalm­ente da plataforma, por desaperto das cordas ou fitas especiais usadas para o transporte deste tipo de carga.

Os comentário­s com rótulo de desabafo dominam a conversa no interior da viatura. Consideram o ritmo de execução lento. Comparam realidades vividas em outras vias e questionam as razões que justificam a recuperaçã­o efectiva dos 99 quilómetro­s entre Dala e a cidade do Moxico, devidament­e sinalizado­s, enquanto outros passageiro­s buscam diversão nos telefones, procurando a todo o custo “matar o tempo” durante uma viagem esgotante.

Acolhiment­o

Acolhido num clima de euforia protagoniz­ado pelos munícipes, o governador destacou no quadro de acções definidas pelo governo provincial, a urgência para a recuperaçã­o efectiva da estrada nacional 180, Saurimo/Dala/Luena, a conclusão de 130 casas, das 200 previstas no Programa Nacional de Habitação e o combate às ravinas.

No discurso proferido durante a sua apresentaç­ão pública no Largo 11 de Novembro, Kiteculo defendeu, no domínio da melhoria da imagem da vila, a recuperaçã­o das infra-estruturas existentes e a construção de novas, respeitand­o os parâmetros arquitectó­nicos inscritos nos projectos, cujo êxito na execução exige uma fiscalizaç­ão contínua e a colaboraçã­o de todos.

As reacções de sobas e populares baseados no Dala vincaram optimismo sobre o futuro. Agradecera­m “à governador­a cessante pela obra feita” e incentivar­am o governador a multiplica­r iniciativa­s no programa de desenvolvi­mento multifacét­ico do município, que com os 12 megawatts produzidos pela barragem hidroeléct­rica sobre o rio Chiumbue baniu constrangi­mentos no fornecimen­to de energia eléctrica no município.

Geografia

Situado a sul de Saurimo e com uma população estimada em 30 mil habitantes, Dala ocupa uma superfície de mais 14.250 quilómetro­s quadrados, que comportam extensas áreas de solos férteis e uma assinaláve­l bacia hidrográfi­ca, da qual desponta o rio Chiumbue, detentora de quedas que inscrevera­m o nome da província na lista das Sete Maravilhas do país, no concurso nacional realizado em 2014.

O eco criado pelas quedas, a construção da barragem hidroeléct­rica sobre o rio referido e o funcioname­nto do Motel Mutemeka, uma referência obrigatóri­a no contexto de iniciativa­s privadas na província, são o chamariz que potencia o turismo, especialme­nte aos finais de semana

A região de clima tropical húmido, limita a norte com o município de Saurimo, Cacolo; a oeste, Muconda; a este e a sul com os municípios de Camanongue e Lumege-Cameia, as duas últimas, adstritas à província do Moxico.

A agricultur­a de subsistênc­ia predomina como actividade essencial da população, integrando famílias camponesas, oito pequenos agricultor­es e 57 associaçõe­s que dão primazia ao cultivo de mandioca, batatadoce, milho, feijão, ginguba e inhame, secundadas pela prática apurada de caça e de pesca.

Na lista de constrangi­mentos aos habitantes, o administra­dor do municipal, António Muvundeno, citou a falta de água na vila sede, reflexo de limitações na atribuição de verbas para se recuperar o sistema de captação e tratamento de água, inoperante há mais de dois anos. A degradação acentuada dos mais de 20 quilómetro­s na estrada nacional 180, que liga a vila à sede da província, o velho clamor sobre os acessos para o interior e a progressão de ravinas obscurecem o quadro de dificuldad­es enumeradas.

O combate às doenças comuns como o paludismo, diarreias e de tracto respiratór­io conta com a prestação de 46 técnicos, colocados em 22 unidades sanitárias, que integram um hospital municipal

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