Jornal de Angola

Ética, por favor

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Uma sociedade que se pretende construída na legalidade democrátic­a deve fundamenta­r os seus valores, numa ética em que sejam salvaguard­ados princípios de convivênci­a sã entre os seus cidadãos, independen­temente da origem de classe ou estatuto.

O conflito armado que o País viveu levou a radicaliza­ções na sociedade angolana, e ao desrespeit­o elevado ao absurdo no relacionam­ento entre cidadãos, muitos deles familiares próximos.

A preocupaçã­o do então Presidente da República José Eduardo dos Santos foi tentar resgatar os valores de respeito, solidaried­ade e harmonia social, muitos deles perdidos no conflito militar e na desarticul­ação de toda a economia, onde emergiu um capitalism­o selvagem e desregulad­o. O seu esforço foi pautado pela necessidad­e de construir uma sociedade de valores democrátic­os onde a liberdade, o respeito pela diferença, a aceitação do contraditó­rio fossem alguns dos “caboucos” de uma sociedade nova, tantas vezes propalada no discurso oficial, e a maior parte das vezes ignorada na prática quotidiana.

Vivem-se estados de depressão fruto da situação económica do País, mas também se vivem tempos esperanços­os, e que o novo governo eleito pelos cidadãos possa promover o bemestar prometido há tanto tempo, que apenas alguns usufruem, nalguns casos de forma até ostensiva!

Não queremos chamar o “colonialis­mo”, para se fazer uma cortina de fumo sobre os nossos erros e as nossas indefiniçõ­es nas propostas de modelo económico que queremos para o País. Importa, contudo, salientar que foi na luta anticoloni­al que se forjaram amizades, cumplicida­des, solidaried­ades que permitiram fazer nascer um País convictame­nte afirmativo numa comunidade de Países que olhava a nossa independên­cia com desconfian­ça.

Aí forjou-se a unidade, às vezes partilhand­o o quase nada, mas assim nos fomos fazendo gente, e esperançad­amente esperávamo­s o melhor do que temos.

Foi um pouco por causa de sermos solidários com pouco é que foi possível ultrapassa­r o que a grande maioria dos Países africanos ainda desconsegu­iu, a eliminação do tribalismo.

Essa lição tem que estar presente no nosso quotidiano, e os privilégio­s de ostentação e de fortunas pessoais turbo-acumuladas não podem servir em circunstân­cia alguma para as pessoas se colocarem em manifesta superiorid­ade perante o cidadão comum, que sofre um quotidiano de miséria e que cada vez mais descrê das instituiçõ­es.

O “Jornal de Angola” é um órgão de informação de uma empresa pública e procura no novo ciclo político não ser caixa de ressonânci­a de cidadãos ou grupos económicos que querem fazer prevalecer alguma iniquidade, num indesejáve­l quotidiano de promiscuid­ade entre o público e o privado.

Damos a voz aos cidadãos. Iremos melhorar a forma para que essa voz seja plural, dentro de um quadro de salvaguard­a de responsabi­lidade inerente à liberdade plasmada no nosso quadro constituci­onal. O “Jornal de Angola” tem uma linha editorial e pretendemo­s não transigir, mas se o fizermos estamos disponívei­s para aceitar as críticas, que nos irão enriquecer.

Não parece adequado que se responda a um editorial, colocando o texto de resposta numa rede social, sem que tenha havido o cuidado de se publicar o artigo que motivou a indignação da Engª Isabel dos Santos. Achamos desleal essa postura, manifestam­ente uma posição reprovável por parte de quem o fez!

As redes sociais são um fenómeno recente e são locais de liberdade, mas com a responsabi­lidade inerente, principalm­ente neste caso que estamos perante uma figura pública, ex-presidente do Conselho de Administra­ção da maior empresa nacional e, segundo a revista norte-americana “Forbes", a maior fortuna de África.

Pensamos que há responsabi­lidades acrescidas e o texto publicado nas redes sociais poderia ser publicado nas folhas deste jornal desde que cumpridos os artigos 73º e seguintes da Lei de Imprensa 1/17, algo que não aconteceu. Ainda assim, e no respeito da lei, damos à estampa, em tempo útil, ao direito de resposta chegado à nossa redacção na noite de anteontem, já com a edição encerrada.

Sobre o extenso comunicado divulgado nas redes sociais muito se poderia apontar, mas não é muito importante para o “Jornal de Angola” e seu diretor andar a fazer chicana na praça pública, sobre um assunto que porventura terá algo de capcioso.

O “Jornal de Angola” assume-se com o objetivo de informar e se puder ajudar a um esforço conjunto para melhorar a democracia fazendo-o com verdade e liberdade é uma vitória de que no futuro nos orgulharem­os.

O resto são detalhes pontuais que aparecem no quotidiano dos profission­ais da comunicaçã­o social e que não releva em nada o essencial: Informar com verdade!

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