CARLOS GOMES
Aprender com a África do Sul
“ANGOLA deve, com humildade, aprender com a África do Sul o processo de transformação de uma economia paralela e informal para uma economia onde as empresas são devidamente auditadas e cotadas em bolsa, porque isso proporcionará maiores ganhos e maior transparência na gestão da coisa pública, no quadro da necessidade de moralização da nossa sociedade. Importa que levemos muito a sério o combate a práticas de gestores e funcionários públicos que lesam o interesse público do Estado e dos cidadãos”, afirmou o Chefe de Estado angolano, João Lourenço, durante o momento histórico que marcou o reforço dos laços entre Angola e África do Sul.
A cerimónia culminou com a rubrica de vários acordos, entre os quais o da supressão de vistos em passaportes ordinários, permitindo, assim, a livre circulação, há muito desejada, de pessoas entre os dois países.
Já com o olhar nos benefícios que advirão desse passo oportuno, estratégico e decisivo, no âmbito do desafio de diversificação económica a que se propôs, o Chefe de Estado angolano sustenta que o estreitamento de laços com a África do Sul “far-nos-á compreender as vantagens de uma cooperação mais próxima e concreta, sem necessidade de recorrer a mercados longínquos e tantas vezes inadequados para satisfazer as reais necessidades dos nossos povos”.
Em termos de vantagens comparativas e competitivas, a África do Sul, mais concretamente Joanesburgo, dista de Luanda pouco mais de duas horas e 45 minutos, em voo aéreo directo. É a economia mais diversificada de África e representa sozinha 25 por cento do PIB do continente (o PIB nominal é de 317 biliões de dólares norte-americanos, em 2015, enquanto o PIB per capita situa-se em 6.600 dólares). É a 38.ª economia no ranking mundial.
A África do Sul tem a seguinte composição do PIB: i) Serviços, 67 por cento; ii); Indústria, 30,3 por cento; e iii); Agricultura, 2,4 por cento. A inflação situa-se abaixo de dois dígitos (6,2 por cento, em Janeiro de 2016). Principais produtos agro-pecuários: milho, trigo, açúcar, frutas, legumes, carne, aves, carne de carneiro, lã e lacticínios. Principais produtos industrializados: automóveis, máquinas, produtos químicos e bens alimentares.
Os principais parceiros económicos, em termos de exportação, são o Japão, Alemanha, Reino Unido, China e Holanda, com um volume de transacções na ordem de 85,14 biliões. Principais parceiros de importação: Alemanha, China, Estados Unidos da América, Arábia Saudita e Japão, com um volume de 86,81 biliões e com um rácio em termos de défice de apenas 1.67 biliões, além de ser a maior potência militar da região da SADC (Comunidade de Desenvolvimento da
Com esse “pontapé de saída”, estamos convencidos de que a participação de Angola na Cimeira União Europeia “vs” África, que decorre em Abidjan, será coroada de êxito
África Austral).
Dito isso, concluímos, de facto, o muito que temos a aprender com a África do Sul, desde que se materializem os protocolos assinados no passado dia 24 de Novembro, marcando, assim, o reforço das relações bilaterais e estratégicas com benefícios recíprocos. Justifica-se, desta forma, a escolha acertada da África do Sul, como o primeiro destino da agenda de visitas de Estado que o Presidente João Lourenço efectuou e efectuará, necessária e obrigatoriamente, ao exterior do país, para a concretização do desiderato da diversificação económica, cujos efeitos imediatos começarão já a ser sentidos hoje, dia 1 de Dezembro, com a entrada, nos respectivos países, de cidadãos nacionais portadores de passaportes ordinários, sem o “pesadelo” do visto de entrada, que mais do que beneficiou, causou, isso sim, incomensuráveis prejuízos aos dois países, sobretudo a Angola.
Com esse “pontapé de saída”, estamos convencidos de que a participação de Angola na Cimeira União Europeia “vs” África, que decorre em Abidjan, será coroada de êxito, na estratégia do Plano Intercalar da mobilização de investidores e recursos financeiros externos para o país.