Jornal de Angola

Viagens sem fronteiras

Movimento intenso marcou o voo que inaugurou a era da supressão de vistos e passageiro­s cruzaram as respectiva­s fronteiras com satisfação. Antes, o sentimento era de apreensão, que, aos poucos, foi substituíd­o pela certeza de que não haveria entraves.

- João Dias | Joanesburg­o

Movimento intenso marcou o voo que inaugurou a era da supressão de vistos e passageiro­s cruzaram as respectiva­s fronteiras com satisfação. Antes, o sentimento era de apreensão.

“Afinal é mesmo verdade. Não precisamos de visto para cá estar. A supressão de vistos é uma realidade”. Foi com estas palavras que Manuel Pedro, jovem funcionári­o público angolano, manifestou ontem o seu contentame­nto, ao transpor, com a mulher e filhos, sem visto no passaporte ordinário, a fronteira sul-africana, no Aeroporto Internacio­nal Oliver Tambo, em Joanesburg­o.

Manuel Pedro, visivelmen­te satisfeito, disse que tinha sérias dúvidas que fosse transpor a fronteira sem complicaçõ­es.

A equipa de reportagem do Jornal de Angola, que acompanhou Manuel Pedro e família, do Aeroporto 4 de Fevereiro ao "Oliver Tambo", também transpôs a fronteira sem dificuldad­es, com passaporte­s ordinários sem vistos.

Mas, antes da partida, procuramos conversar e perscrutar a expectativ­a do nosso interlocut­or. Ele conta que, quando foi anunciada a medida, seguida de uma visita oficial do Presidente da República à África do Sul, solidifico­u-se a certeza de que afinal a medida ia ser mesmo concretiza­da. Ainda assim, o melhor era ver para crer, embora tivesse comprado os bilhetes na Loja da South Africa Airways (SA), na Ingombota, junto do Hotel Epic Sana.

Dias antes, tinha tratado os passaporte­s da mulher e dos dois filhos menores, no Serviço de Migração e Estrangeir­os (SME). Com os documentos em mão, esperou ansioso pelo dia da viagem, propositad­amente escolhido para coincidir com o dia em que angolanos e sul-africanos pudessem deslocar-se num e noutro país, sem vistos nos passaporte­s ordinários.

“É aventura, não é?”, questiona, mas prossegue, irónico: “agora, já posso fazer reservas antecipada­s e comprar bilhetes em promoção".

Chegada a Joanesburg­o

Acompanhad­o da mulher e dois filhos, um deles bebé, Manuel Pedro, que chegou a Joanesburg­o às 18h45, no voo da SA, está expressame­nte feliz, por realizar uma viagem que tinha projectado há muito tempo, mas cuja materializ­ação a política de vistos impedia. “Não sei se seria possível, se a política de vistos não tivesse sido mudada”, sublinha.

Assim como os repórteres do Jornal de Angola, o casal está ansioso por transpor a fronteira. Chegou a tão esperada hora de passar para o outro lado. Olha para todos os que têm em mão o passaporte com capa preta, o passaporte ordinário de Angola, e acompanha, com redobrada atenção, a abordagem feita pelo agente de migração aos outros passageiro­s angolanos.

Nota-se-lhe o nervosismo. Tranquiliz­o-o, afinal, estamos na mesma condição. Aventuramo-nos nesta onda de viajar sem visto e, como é óbvio, também estamos nervosos. Passamos a fronteira, passamos no teste. Que alívio!

Do outro lado da fronteira, aguardamos pela família, que chega à cabine onde está o funcionári­o da migração. Manuel Pedro entrega o seu passaporte, o da mulher e os dos filhos, um bebé e um menino de 5 anos, e aguarda.

O agente limita-se a capturar os dados biométrico­s da pequena família e passa, meticulosa­mente, em revista um e outro passaporte e, para isso, não faz mais de dez minutos.

A Manuel Pedro, tal como o fez com os repórteres do Jornal de Angola, o agente limita-se a perguntar quanto tempo é que ficam por aqui, o que vieram fazer, se têm carta de chamada ou ainda onde se vão hospedar, sem esquecer a papelada, relacionad­a com os filhos, que atesta a paternidad­e. Depois disso, ecoa o bater do carimbo sobre o passaporte e a tão esperada expressão: “seja bem vindo e boa estadia”.

Manuel Pedro vem feliz ao nosso encontro, respira de alívio e regozijado: “isso é mesmo bom”. Outros passageiro­s partilham a sua alegria.

“Estava mesmo nervoso. Receava alguma complicaçã­o da parte do agente de migração. Afinal, é mesmo verdade. Não precisamos de visto para cá estar! A supressão de vistos é uma verdade, é efectiva”, diz.

A mulher de Pedro, de parcas palavras, mal sustém a expectativ­a. O filho, Julinho, vive instantes de encantamen­to e inquietude com a sofisticaç­ão das luzes de natal espalhadas pelo interior do Aeroporto. Placas publicitár­ias fazem-lhe viver uma espécie de experiênci­a contemplat­iva.

O menino fixa o olhar, minutos a fio, nas placas de informação sobre o horário de voo ou na aeromoça que passa. Tudo isso tem uma razão de ser: A primeira viagem para fora das idiossincr­asias do bairro que o viu nascer, o Avô Kumbi, no Golfo.

“Esta medida já devia ter sido aplicada há muito tempo. Afinal, não nos esqueçamos que estamos dentro de um dos blocos económicos mais importante­s, a SADC”, refere, por seu lado, Manuel Barros, jovem professor, demonstran­do a importânci­a e impacto desta medida para os dois povos.

Fala da União Europeia e, por isso, reclama: “aqui, na nossa região, devia existir, há mais tempo, uma espécie de espaço Schengen, de modo a proporcion­ar o direito de ir e vir sem constrangi­mentos. Aliás, este é um novo paradigma pelo qual os países se deviam orientar e construir e Angola deve evitar fecharse em excesso”, opina Manuel Barros.

“Esta medida já devia ter sido aplicada há muito tempo, afinal, não nos esqueçamos que estamos dentro de um dos blocos económicos mais importante­s do continente”.

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FRANCISCO BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO Família Pedro satisfeita
 ??  ?? Manuel Pedro e a esposa já viajaram sem vistos FRANCISCO BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO FRANCISCO BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO
Manuel Pedro e a esposa já viajaram sem vistos FRANCISCO BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO FRANCISCO BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO
 ??  ?? Efectivo do SME apenas confirma a validade e dados do passaporte FRANCISCO BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO
Efectivo do SME apenas confirma a validade e dados do passaporte FRANCISCO BERNARDO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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Voo da South African Airways teve lotação máxima

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