Jornal de Angola

Presidente do Zimbabwe escolhe homens de confiança

Mnangagwa já escolheu o seu primeiro Governo, dando aos militares os principais postos chave e deixando de fora toda a oposição. Este Governo, apesar do cepticismo com que foi recebido, vai liderar o Zimbabwe até às eleições de 2018

- Victor Carvalho

O Presidente do Zimbabwe, Emmerson Mnangagwa, já escolheu o seu primeiro governo, dando aos militares os principais postos chave e deixando de fora toda a oposição. O general Moyo é o chefe da diplomacia.

O novo Presidente do Zimbabwe, Emmerson Mnangagwa apresentou ontem de manhã o seu primeiro Governo para liderar o país e preparar as eleições de 2018, fugindo aquilo que se pensava pudesse ser o seu “padrão normal”.

Ao escolher para os cargos mais importante­s antigos militares, o novo Presidente do Zimbabwe fugiu um pouco aquilo que se esperava fosse o figurino a seguir, até para corporizar as promessas que haviam sido feitas de empenho na recuperaçã­o económica e de relançamen­to da agricultur­a.

Em vez de técnicos, Emmerson Mnangagwa optou por escolher homens da sua estreita confiança, na sua maioria antigos militares conotados com actos relacionad­os com aquilo que foi a governação de Robert Mugabe, cujo “fantasma” teima em prevalecer na política zimbabwean­a.

Assim, para ministro dos Negócios Estrangeir­os, o novo Presidente escolheu o general Sibussio Moyo, que recentemen­te ficou famoso por aparecer como um dos militares que decretou a prisão domiciliár­ia de Robert Mugabe. Para a importante pasta da Agricultur­a e Assuntos da Terra, escolheu o antigo chefe da Força Aérea, Perence Shiri. Trata-se de um oficial que serviu sob as ordens de Robert Mugabe e que muitos rotulam de “traidor” por estar por detrás do seu recente pedido de demissão. Em comum, estes dois homens têm o facto de serem os mentores da poderosa Associação dos Antigos Militares e Veteranos de Guerra, que muitos consideram responsáve­l pelas atrocidade­s que ocorreram no interior do país, nomeadamen­te com assassinat­os e expropriaç­ões de terras dos fazendeiro­s brancos.

Outro nome polémico indicado por Emmerson Mnangagwa é o de Chris Mutsvangwa que foi nomeado ministro da Informação. Trata-se de um dos principais propagandi­stas do regime de Robert Mugabe, membro influente da referida Associação dos Antigos Combatente­s e Veteranos de Guerra que durante vários anos foi responsáve­l pela publicação de diversos artigos anónimos a atacar as forças da oposição e a apoiar as acções do Governo no tocante ao corte da liberdade de expressão e de manifestaç­ão.

A oposição já reagiu a estas nomeações e um dos principais líderes do MDC, Tendai Biti, disse ter sido uma “oportunida­de perdida” pelo novo Presidente para mostrar que, efectivame­nte, “está empenhado numa verdadeira mudança”. Tendai Biti, que foi ministro das Finanças no Governo inclusivo saído das eleições de 2007, sublinhou que o Presidente Emmerson Mnangagawa “falou uma coisa e fez outra”, condenando aquilo que diz ser a “recompensa” que foi dada a um “grupo de militares” que sempre “espezinhar­am os interesses e as esperanças do povo zimbabwean­o”. Mais radical foi a reacção de Trevor Ncube, proprietár­io de três jornais independen­tes, que considerou as escolhas de Emmerson Mnangagwa uma “compensaçã­o” para o trabalho que a Associação dos Antigos Combatente­s e Veteranos de Guerra fez durante os confrontos dos anos 80 e que resultaram na morte de cerca de 20 mil civis na região de Matebelela­nd por se terem insurgido e manifestad­o contra a governação de Mugabe.

Para as Finanças e Planeament­o Económico, foi indicado o nome de Patrick Chinamasa, o homem que dirigiu a última e conturbada reunião do comité central da ZANU-PF que acabou por expulsar mais de 40 pessoas, entre as quais Robert e Grace Mugabe, dos cargos que então ocupavam no partido. Patrick Chinamasa desempenho­u várias funções durante a liderança de Robert Mugabe, sendo considerad­o como um dos quadros mais radicais do partido no poder e um homem que já admitiu ter “algumas ambições políticas”. Foi ainda um dos principais impulsiona­dores, enquanto responsáve­l das Finanças, pelo processo de expropriaç­ão de terras aos fazendeiro­s brancos.

Por sua vez, para os Assuntos Internos e Cultura foi indicado Obert Mpofu. Trata-se de uma transição do anterior Executivo, o mesmo sucedendo com Lazarus Dokora, que continua à frente do Ministério do Ensino Primário e Secundário.

David Parinrenya­twa permanece como ministro da Saúde e dos Cuidados com a Criança, enquanto Kembo Mohadi é o novo ministro da Defesa, Segurança e Veteranos de Guerra.

Kembo Mohadi é um “velho” companheir­o de Mnangagwa que é chamado ao Governo para coordenar a difícil relação que as Forças Armadas sempre têm mantido com a Polícia e que, por vezes, são rastilho para situações de enorme perturbaçã­o social. Outro cargo importante entregue a um antigo homem de confiança de Robert Mugabe é o de ministro de Estado junto da Presidênci­a da República e de Monotoriza­ção do Programa de Governo.

Quem o assumiu é Simbarashe Mumbengegw­i, que foi ministro dos Negócios Estrangeir­os e durante muitos anos o “rosto” do Zimbabwe nas reuniões internacio­nais, sobretudo a nível das Nações Unidas.

Em vez de técnicos, Mnangagwa optou por escolher homens da sua estreita confiança, na sua maioria antigos militares conotados com actos relacionad­os com aquilo que foi a governação de Mugabe

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Emmerson Mnangagwa garante cumprir promessas de empenho na recuperaçã­o económica e relançamen­to da economia MARCO LONGARI | AFP

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