Homenagem aos fundadores do jornal “O Estandarte”
Fundado no dia 1 de Dezembro de 1933, “O Estandarte” tornou-se um prestigiado e ousado veículo cultural de afirmação identitária, celebração religiosa e social, dirigido por insignes nacionalistas angolanos
Foram fundadores do “Estandarte”, de periodicidade mensal, o Reverendo Gaspar de Almeida, Sebastião Gaspar Domingos, António Victor de Carvalho e João Sebastião Rodrigues, grupo a que se juntou uma plêiade de nacionalistas, muitos dos quais desempenharam um papel de singular importância no processo de luta de libertação nacional, tais como Deolinda Rodrigues de Almeida, Agostinho Pedro Neto e o seu filho, António Agostinho Neto eSequeira João Lourenço, pai do actual Presidente da República de Angola, João Gonçalves Lourenço.
Segundo o Bispo Emílio de Carvalho, num texto escrito no dia 1 de Dezembro de 2004, publicado na última edição impressa do “Estandarte” de Dezembro de 2005, “O Estandarte” surgiu primeiro com os subtítulos, Mensário “Pregoeiro cristão dos bairros”, e “Órgão e propriedade de crentes evangélicos africanos portugueses”. No Natal de 1947, o subtítulo do jornal passou a “Órgão e propriedade de crentes evangélicos angolanos”, numa clara atitude de ousado nacionalismo, quando o Jornal completava quinze anos de produção jornalística.
O Reverendo Gaspar de Almeida dirigiu “O Estandarte”desde a data da sua fundação, invertendo de forma criativasituações adversas, cumprindo sempre os seus objectivos, muitos dos quais adaptados aos contextos, expressos no “editorial inaugural” da edição de 1933, com o título “Aos que nos lerem”. Os objectivos expressos no referido editorial eram os seguintes, “Levar as boasnovas de salvação a todos os que labutam neste continente do ocidente, sem distinção de cores”, “Lutar pela defesa dos princípios que constituem a base fundamental da nossa salvação, presente e futura” e “Lutarpelo levantamento da nossa raça, pela verdade do ponto de vista religioso, pela pacificação da família angolana.” Procurando alargar o escopo dos seus objectivos, o editorial aventurou-se em penetrar um pouco mais no âmago do regime, afirmandose “disposto a buscar e acordar em cada um dos leitores, o eco adormecido das suas consciências e lembrar-lhes dos seus deveres e direitos como cidadãos, para com a Pátria e Religião”. O Jornal surgiu tendo por divisa Cristo e por código a Bíblia, não deixando destapar, de forma velada, o véu do nacionalismo e da independência. Direcção Segundo o Bispo Emílio de Carvalho, no texto que vimos citando,em 1933 o corpo directivo do “Estandarte” era constituído pelo Reverendo, Gaspar de Almeida, Director, João Sebastião Rodrigues, Secretário de Redacção, e Domingos Francisco da Silva, Administrador. Em 1934, Sebastião Gaspar Domingos ocupou o lugar de Administrador e Domingos Francisco da Silva, passou a Redactor. Em Março de 1947, António Victor de Carvalho foi nomeado Administrador, função que acumulou com a de Redactor principal do Jornal. Em Março de 1950, a seu pedido, António Victor de Carvalho deixou de fazer parte do corpo redactorial. Em Maio de 1950, Gaspar de Almeida passou a Director e Administrador, com colaboradores diversos. Durante a ausênciado Reverendo Gaspar de Almeida em Portugal, o jornal ficou nas mãos do Reverendo, Júlio João Miguel e António Victor de Carvalho, que voltou a desempenhar as funções de Redactor principal, em Janeiro de 1953. Neste ano Sebastião Gaspar Domingos voltou a Administrador e Nobre Pereira Dias, passou a Secretário de Redacção.
Em Outubro de 1957, Deolinda Rodrigues de Almeida ocupou o cargo de Secretária de Redacção, cargo ocupadopela primeira vez por uma mulher. Em 1959,Deolinda Rodrigues de Almeida partiu para o Brasil e Isaac Aço foi nomeado Redactor do Jornal e Raul Matoso, passou a Secretário de Redacção. Em 1960, Emílio João Miguel de Carvalho foi nomeado Redactor Principal, tendo como Secretário, Aurélio Diogo da Siva Coimbra e o Reverendo, Manuel Francisco Abrigada, como Administrador. “O Estandarte” foi publicado, novamente, em Janeiro de 1975. No entanto, em Dezembro de 2005, surgiu a última edição impressa, com o Reverendo, Gaspar de Almeida, Director Honorário, Hermenegildo de Sousa, Director Executivo, e Roberto Webba, Director Executivo Adjunto. A redacção esteve a cargo de Domingos João, Chefe, Manuel Custódio e Analide Veríssimo e Costa. Assinaram na condição de colaboradores, Maria Eugénia Gaspar de Almeida e Sousa, Irene Webba, Maria Luísa Gaspar Silvestre, Idalina Bamba e Estevão Paulo Neto. Censura Pela ousadia e ideais nacionalistas, “O Estandarte” esteve sempre condicionado à comissão de censura colonial e inspirou a criação do jornal “Apostolo” da igreja católica. “Muitos artigos e notícias não foram publicados ou foram simplesmente amputados e vetados por essa famigerada Comissão, que implementava assim as directrizes recebidas das autoridades coloniais. Dou apenas um exemplo: um dos artigos retirado pela Comissão de Censura, em Outubro de 1938, tinha como título, “Será verdade?” assinado por Fernando Pamplona, escrito na altura em que o presidente da República Portuguesavisitou as colónias e com ele veio esse jornalista, enviado especial do “Diário da manhã”. Ao chegar a Benguela onde foi prestada calorosa recepção ao presidente, ele escreveu algumas crónicas de viagens, dentre elas “Ao Sol do Império”,de 25 de Agosto de 1938. Esse artigo foi acusado por, segundo a Comissão de Censura, conter calúnias que comprometiam a acção do governo naquela província, por esta razão o artigo foi retirado”, escreveu o Bispo Emílio de Carvalho. Palestra A palestra, um projecto do Memorial Dr. António Agostinho Neto, realizada,sábadoúltimo, foi testemunhada pelo Bispo, Gaspar João Domingosda Igreja Metodista Unida, celebrou os oitenta e quatro anos do“Estandarte”, tendo constituído uma singela homenagem aos fundadores e colaboradores do histórico jornal. Loide Ana de Almeida Santos, filha do Reverendo Gaspar de Almeida, desenvolveu o tema, “Desafios do jornal “O Estandarte”, tendo afirmado que “O Estandarte” descreveua vida de um povo que tentou a união de Cabinda ao Cunene, onde os problemas de uns eram os de todos e a fórmula que usávamos era a nossa cristandade, cujo lema era o amor e respeito ao próximo”. Por sua vez,Albino Manuel Pascoal, Kolombolo, enquanto moderador e orador, abordou, como complemento, o tema, “Artigos de Agostinho Neto no jornal “O Estandarte”.
“O Estandarte” esteve sempre condicionado à comissão de censura colonial e inspirou a criação do jornal “Apostolo” da Igreja Católica