Ismaelitas solidários com idosos
Em Angola desde 1988, a comunidade muçulmana Ismaelita conta com cerca de 800 membros e ajudam os mais carentes
Bila Mawete, 60 anos, residente no Beiral, há quatro meses, interrompeu o trabalho de montagem de cenário para a entrega de donativos, ao chamar a si a atenção dos membros da comunidade Ismaelita. O ancião, natural do Uíge, aproveitou a presença destes para solicitar a ajuda que muito espera: regressar à África do Sul, onde viveu durante 19 anos.
Regressado ao país, por vontade própria, e com a ajuda do Consulado de Angola, em Cape Town, foi encaminhado pelo Ministério da Assistência e Reinserção Social ao Beiral, a fim de localizar os familiares. De lá, Bila Mawete veio amputado dos dois membros inferiores, devido a diabetes.
Deseja regressar à África do Sul por motivos de saúde. Sente-se afectado por cataratas nos olhos. Quer, como disse, recuperar o dinheiro depositado em bancos, em terras de Nelson Mandela.
“Não falo português, apenas inglês e kikongo”, disse o nosso interlocutor, enquanto os membros da comunidade procuravam saber mais pormenores sobre ele. Conta que foi à África do Sul à procura de melhores condições de vida.
“Primeiro, fiquei dois anos em Joanesburgo e depois fui para Cape Town, onde permaneci 17 anos, com o estatuto de refugiado”, explicou, acrescentado que deixou de ter contacto com a mulher e os cinco filhos, depois de um período de internamento numa unidade hospitalar local.
“Apenas quero regressar à África do Sul”, suplicava o deficiente, apoiado numa cadeira de rodas, depois de entregar ao presidente da comunidade Ismaelita em Angola, Zahir Sidi, uma cópia do seu passaporte.
Feizal Esmail, porta-voz da organização, disse que é comum depararem-se com esse tipo de situações. “As solicitações encaminhamos à área correspondente de saúde, que responde pelo caso em particular. A equipa terá contacto com o beneficiário e o Beiral, que neste momento está a cuidar dele.”
Com os nossos médicos colaboradores, vamos regressar ao Beiral para analisar o estado do paciente e ver a possibilidade de resolvermos o problema da catarata ainda mesmo em Angola”, explicou. Apoio social Em Angola desde 1988, a comunidade muçulmana Ismailita conta com cerca de 800 membros, onde junto da sociedade tem procurado solucionar vários problemas decorrentes de índole social como saúde e educação.
Zahir Sidi disse que a acção feita no Beiral é uma sequência de outras que vem desenvolvendo um pouco por todo o país. “Nós juntamo-nos à Rede Aga Kan para o Desenvolvimento (AKDN), uma das redes mais inclusivas no mundo, que, inspirada na ética islâmica da compaixão e da responsabilidade por apoiar os mais vulneráveis, trabalha para o bem-estar comum de todos os cidadãos, independentemente do seu género, nacionalidade ou fé”, explicou.
O presidente da comunidade Ismaelita em Angola disse que as agências da AKDN têm representação internacional em 30 países e operam em áreas como a da saúde, educação, captação de água e saneamento básico, arquitectura e recuperação de monumentos históricos, micro-finanças, mitigação de desastres, desenvolvimento rural e promoção do empreendedorismo no sector privado, entre outros.
Promessa de mais apoios
O apoio da comunidade Ismailita ao Beiral veio mesmo a calhar. Foram estas as palavras da directora do lar, Guiomar Damião. Visivelmente satisfeita, disse que toda a doação é sempre bem-vinda. O movimento levou ao Beiral bens alimentares de primeira necessidade, roupa usada, calçado, artigos de higiene e fraldas para adultos, entre outros. Para surpresa dos idosos, os televisores do pavilhão 3 e do refeitório, até então avariados, foram substituídos por novos plasmas de 50 polegadas cada. Na altura da distribuição, que decorreu no refeitório, cada um de forma ordeira em grupos de cinco, entre homens e mulheres, aproximava-se e escolhia a sua preferência. Sameer Jaffer, o vice-presidente da comunidade Ismaelita, comprometeu-se a ajudar regularmente o Beiral, a julgar pela realidade da casa. “Notamos que esta comunidade precisa muito do nosso apoio”, frisou.
O apoio da Comunidade Ismaelita ao Beiral veio mesmo a calhar. Foram estas as palavras da directora do lar, Guiomar Damião. Visivelmente satisfeita