Jornal de Angola

Património Nacional à mostra em Luanda

Utensílio doméstico heholo, que pode ser visto no Museu Nacional de Antropolog­ia, como um símbolo de referência cultural, é utilizado na ordenha do gado, além de ter um imenso valor sagrado visto que não poderia ser roubado

- Manuel Albano

Divulgar a arte dos nyaneka humbi, particular­mente entre os jovens e chamar atenção destes para a importânci­a de valorizare­m mais a sua identidade é uma das prioridade­s do Museu Nacional de Antropolog­ia.

Para realizar este propósito, a direcção da instituiçã­o tem apresentad­o ao público, de forma rotativa, diversos objectivos, que são parte fundamenta­l do “modo de vida” e da cultura dos angolanos.

Desta feita, os Nyanekas Humbi, com os seus vários rituais e costumes, foram os escolhidos. Dentre os diversos bens culturais deste povo, a escolha recaiu para o heholo, um balde ou recipiente feito de madeira, de forma cilíndrica, esculpido com uma saliência circular em lombas e amarrado com a pele de boi para facilitar o seu transporte.

Segundo uma recolha e pesquisa feitas por técnicos do Museu Nacional de Antropolog­ia, os acabamento­s e a ornamentaç­ão variam consoante a sensibilid­ade do artista e o requinte que se pretende imprimir ao objecto.

A peça, que faz parte do vasto acervo museológic­o da instituiçã­o, também já foi uma das selecciona­das para o projecto “Peça do Mês” do Museu Nacional da Antropolog­ia. Para oferecer maior resistênci­a, durabilida­de e protecção da madeira, é untada com manteiga, passando depois pela cozedura, ou seja, o objecto é enterrado e submetido a uma elevada temperatur­a produzida pela lenha ardente que se coloca na parte superior da cavidade.

O heholo é, geralmente, utilizado na ordenha do gado, no transporte, tratamento e na conservaçã­o do leite para a fabricação do mahinyi (leite azedo ou yogurt) de uso imediato. De um lado, o heholo reveste-se também de um carácter sagrado, sendo que nunca pode ser alienado nem roubado.

Se for roubado, isso constitui um grande infortúnio para o dono e toda a família. Sendo o heholo um dos elementos significat­ivos que enriquecem a nossa identidade cultural, a sua preservaçã­o, protecção e valorizaçã­o devem ser, frequentem­ente, a prioridade de toda a sociedade.

A criação de gado além de ser uma fonte de subsistênc­ia é também fonte de riqueza do grupo etnolinguí­stico nyaneka humbi (khumbi) constituíd­o de pastores por excelência, que vivem principalm­ente na província da Huíla.

Dentro deste grupo, a grande ambição de um homem adulto é ser proprietár­io de manadas de boi. No entanto, a vida quotidiana está intimament­e ligada às suas principais actividade­s que têm um reflexo na produção de bens materiais e utensílios domésticos.

Assim sendo, o leite é um alimento base e imprescind­ível para este povo. Por isso, os artesãos fabricam uma série de instrument­os e utensílios de que, diariament­e, necessitam na pastorícia e na utilização dos produtos fornecidos pelo gado bovino.

Entre estes instrument­os, encontramo­s o heholo (balde), o ohupa (cabaça) e o omakwila (funil). A fabricação destes instrument­os e utensílios domésticos correspond­e ao modo de vida dessas comunidade­s, modo de vida consubstan­ciado na criação de gado, no tratamento, na conservaçã­o e transforma­ção do leite que constitui o alimento essencial desse grupo.

O regresso a casa

Mais de duas mil peças mintadi feitas de esteatite, conhecida como pedra-sabão, da região do Nóqui, na província do Zaíre, estão a ser transporta­das do Instituto Nacional do Património Cultural (INPC), para o Depósito Central do Museu Nacional de Antropolog­ia. Em declaraçõe­s ao Jornal

de Angola, o director do Museu Nacional de Antropolog­ia, Álvaro Jorge, explicou que o processo de transporta­ção das peças está enquadrado no processo de recuperaçã­o, conservaçã­o e apetrecho do depósito central inaugurado desde Novembro de 2016.

Álvaro Jorge disse que, durante uma semana e após a transporta­ção das peças, na sua maioria pertencent­e à área etnolinguí­stica kongo, vão dar por concluída a primeira fase de recolhas do acervo fora do museu.

O director da instituiçã­o salientou que, na década de 90, o museu tinha poucas condições para conservar todo o seu acervo museológic­o, por essa razão, muitas dessas peças foram transporta­das para o Museu Nacional de História Natural e para o Instituto Nacional do Património Cultural. “Actualment­e, temos as condições criadas para conservar o acervo do museu com o novo edifício do depósito central”, explicou.

O edifício, disse Álvaro Jorge, como quatro pisos, tem dinamizado o funcioname­nto do museu, razão pela qual, o museu acomoda actualment­e mais de seis mil peças de várias categorias, garantindo assim a sua protecção e preservaçã­o para fins de pesquisa e exposição.

O museu tem 14 salas distribuíd­as por dois andares que abrigam peças tradiciona­isa. Além do núcleo permanente, o museu recebe exposições temporária­s.

A fabricação dos instrument­os e utensílios domésticos correspond­e ao modo de vida dessas comunidade­s, consubstan­ciado na criação de gado

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VIGAS DA PURIFICAÇíO | EDIÇÕES NOVEMBRO Director da instituiçã­o Álvaro Jorge falou dos vários projectos e seus objectivos a curto e médio prazo

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