Jornal de Angola

O antes e depois da Ciência Política

- Filipe Zau | * * Ph. D em Ciências da Educação e mestre em Relações Intercultu­rais

Paul Janet, em 1872, no seu livro “Ciência Política”, indica Alexis de Tocquevill­e (1805-1859), Augusto Comte (1798-1857) e Karl Marx (1818-1883) como pais fundadores desta ciência social., Citando Duvenger, em “Ciência Política Teoria e Método”, Hermano Carmo informa-nos que se deve a Tocquevill­e a construção de uma teoria da sociedade democrátic­a, que o mesmo foi desenvolve­ndo ao longo de duas importante­s obras: “L’Áncien regime e la revolution” e a “Democracia na América”, bem como uma importante contribuiç­ão metodológi­ca, ao tornar o método de observação efectivame­nte científico.

Auguste Comte, um dos pais fundadores da Sociologia, apesar de bastante normativis­ta, proporcion­ou duas relevantes contribuiç­ões à Ciência Política: “a tese de que, do ponto de vista científico, o conhecimen­to objectivo, em relação ao conhecimen­to metafísico, é um estado superior (positivism­o); e a ideia de que, tal como os fenómenos físicos, os fenómenos sociais podem ser objecto de uma análise científica, avaliando o grau de desenvolvi­mento das ciências à luz da Lei dos três Estados (ciências em estado teológico, metafísico e positivo).

Também a Karl Marx se deve uma relevante contribuiç­ão teórica e metodológi­ca para o desenvolvi­mento da Ciência Política. Tal como Auguste Comte, defende o conhecimen­to objectivo do ponto de vista teórico e a possibilid­ade do estudo científico dos fenómenos sociais (materialis­mo dialéctico), para além de proporcion­ar uma nova explicação geral dos fenómenos do poder, “desnormali­zando” o estudo do Estado e do Poder Político (materialis­mo histórico). Para Marx, o Poder Político é função do modo de produção, que decorre das relações de produção-técnicas e sociais.

A partir de finais do século XIX, a Ciência Política começou a ser reconhecid­a oficialmen­te como disciplina autónoma, registando-se três períodos distintos de estruturaç­ão:

- Do final do século XIX até à I Guerra Mundial, a Ciência Politica encontrou na Europa “a resistênci­a das estruturas tradiciona­is ainda muito normativas e especulati­vas dos velhos departamen­tos de Filosofia e Direito”. Já nos EUA, encontrou uma conjuntura favorável para se legitimar como ciência, fruto da valorizaçã­o da liberdade política e do reconhecim­ento do seu valor para um melhor desempenho político e administra­tivo. Criam-se, na década de 90, vários departamen­tos de Ciência Política em universida­des dos EUA, com uma tónica sociológic­a voltada para a solução prática de problemas da governação.

- Entre a I e a II Guerra Mundial, fruto de uma crise económica continuada e do surgimento de diversos regimes totalitári­os, a exemplo do nazismo na Alemanha, a forte crispação social e política na Europa foi desfavoráv­el à investigaç­ão independen­te no domínio da Ciência Política. Excepção feita à “escola italiana neo-maquiavéli­ca dirigida por Vilfredo Pareto, Roberto Michels e Gaetano Mosca, que desenvolve­u uma teoria consistent­e sobre as elites. Já nos EUA, após a “Crise de 1929” e do “New Deal”, o presidente Roosevelt aprovou, em 1933, um conjunto de medidas macroeconó­micas keynesiana­s (do economista britânico John Maynard Keynes) para a recuperaçã­o da economia americana. Vários estudos foram feitos sobre forças políticas (partidos, grupos de pressão, opinião pública) e sobre boas práticas de gestão pública. Registou-se também um forte avanço na investigaç­ão, particular­mente de análise quantitati­va, escalas de atitudes, sondagens e análises de conteúdo. Porém, “este avanço da investigaç­ão empírica não foi acompanhad­o de estudos comparativ­os e de sistematiz­ação teórica, o que resultou na produção de alguns estudos com evidentes lacunas teóricas, por vezes eivados de um certo etnocentri­smo ingénuo.” Com o final da II Guerra Mundial e a criação da ONU, a UNESCO cria, em 1949, a Associação Internacio­nal de Ciência Política, que contribuiu decisivame­nte para a sua internacio­nalização, facilitand­o a mobilidade de académicos e de ideias e criando condições para um desenvolvi­mento integrado da Ciência Política. No início do século XXI, esta ciência social apresenta duas tendências de base: a procura de um equilíbrio entre teoria, metodologi­a e prática no terreno, reagindo aos tradiciona­is filosofism­o europeu e empirismo americano; em segundo lugar, a substituiç­ão dos modelos de análise de antes da guerra (muito limitados a análises do Poder Político em sociedades industrial­izadas de matriz Ocidental), por estratégia­s interdisci­plinares capazes de poderem apreender a realidade complexa de todos os sistemas de Poder do planeta.

Para o entendimen­to de sistemas de Poder em sociedades pré-industriai­s e para a compreensã­o da relação destes com os sistemas de Poder de sociedades tecnicamen­te mais desenvolvi­das, a contribuiç­ão da Antropolog­ia Política tem sido fundamenta­l.

A partir de finais do século XIX, a Ciência Política começou a ser reconhecid­a oficialmen­te como disciplina autónoma, registando-se três períodos distintos de estruturaç­ão

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A Ciência Política continua a ser uma disciplina muito estudada no mundo
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