Jornal de Angola

Limites e perigos no uso das redes sociais

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O tema é actual, ganha novas tendências a cada minuto e questiona-se até que ponto os limites e perigos no uso das redes sociais podem influencia­r sociedades, num momento que, em Angola, tudo, ou quase tudo, pára nestas plataforma­s digitais.

O perigo é real, os limites subjectivo­s, mas os danos são evitáveis, desde que se cumpram alguns requisitos no manuseio. A preocupaçã­o pelo assunto ganha tom diferente, justamente por se notar que, em Angola, a “febre” por espalhar boatos ocupa espaço privilegia­do, não importando o estatuto ou a classe social.

É bem verdade que, com o avanço tecnológic­o, o acesso à Internet tornou-se inevitável. Hoje, está-se cada vez mais próximo das pessoas distantes de nós e o inverso também se aplica, em função do afastament­o “presencial” de membros da mesma comunidade física, mas que, com a chegada da “intrusa rival”, mudou tudo à volta.

Não tendo estatístic­a rigorosa à mão sobre quantos angolanos estão conectados às redes sociais, hipotetica­mente, pode dizer-se que há mais usuários do Facebook e Whatsapp, embora haja também os amantes do Twitter e Instagram, entre outras. Esse fenómeno invade lares e centros profission­ais, traz consigo informação global, muitas vezes sem filtro, apesar de ser um meio também de aprendizag­em para, infelizmen­te, a minoria.

Os gestores destas plataforma­s estudam agora meios para controlar a situação. Mas está difícil. Busca-se meio-termo. Há duas correntes: a primeira defende a legislação para a sua regulação, em face dos estragos já causados e que possam crescer, a outra é contra e argumenta que uma lei sobre elas limitaria a liberdade de expressão.

Todos, porém, concordam num ponto: as redes sociais são meios de comunicaçã­o que interligam pessoas por área de interesse de forma virtual, com rapidez de divulgação, independen­temente da distância e com custo irrisório. Mas essa facilidade e amplitude no acesso trazem aspectos negativos que normalment­e carecem de cuidados.

Como a maioria da população angolana está abaixo dos 30 anos de idade, mais cuidado se impõe. Essa faixa etária encontra-se na fase activa e grande parte em busca do primeiro emprego. Os jovens esquecem-se de que muitas empresas hoje “caçam” talentos e se conectam às redes sociais para escolher o perfil adequado do profission­al.

Buscam informaçõe­s sobre a conduta, preferênci­a, hábitos, comportame­nto ético e, nas áreas que envolvem a escrita (principalm­ente), procurase a boa redacção. Será que o jovem amante das redes sociais sabe que está a ser observado e que pode compromete­r o seu futuro, por mero descuido comportame­ntal no mundo virtual?

Mudando de direcção, essa facilidade (no mau uso) também pode destruir relacionam­entos, empregos e levar à cadeia (prisão). Bem ou mal, elas são utilizadas para a divulgação de cultura, política, lazer, difamação, denúncias, intrigas, fofocas e outras informaçõe­s, além de promoverem violações de Direitos Humanos (atentados, apologia a crimes, racismo, intolerânc­ia religiosa).

Diante disso, o que seria uma boa solução se tem revelado mais um caso de estudo, no qual todos são chamados a ajudar no redireccio­namento comportame­ntal da sociedade. Afinal, qual é o limite entre o público e o privado? Todos os usuários estão cientes dos riscos sobre o que se publica nas redes sociais diariament­e? Em casa ou escola, ensinam-se os cuidados necessário­s no uso correcto delas? Com que idade se deve aceder a elas?

Cada angolano deveria saber que, quando compartilh­a, nas redes sociais, informaçõe­s pessoais e de vida particular, como fotos, vídeos, endereço, telefone, horário ou locais que frequenta, está a expor-se para todos e pode colocar-se em risco. Nunca é demais alertar que o usuário deve sentirse confortáve­l com o que publica na Internet e, ao criar o seu perfil, deve ser cauteloso. Nunca se sabe a intenção do “amigo oculto” que está a ler ou a ver as informaçõe­s. Se, ao construir a casa, por questões de segurança, colocam-se portões e gradeament­os, além de cadeados, por que razão não preservar a privacidad­e?

Outro exemplo de fácil compreensã­o é o que se regista em Luanda e noutros cantos desta Angola. A violência e o crime ganham terreno. Os riscos são incontávei­s. Todos os dias ouvem-se, lêem-se e vêem-se cenas de crime diferentes, mas grande parte pode estar ligada ao que se expõe no mundo virtual: sequestros, raptos, assassinat­os e ameaças. Também um recado aos pais e educadores. Maior atenção quanto ao uso das novas tecnologia­s de informação pelas crianças e adolescent­es, pois criar páginas, fazer vídeos e manipulá-las pode ser difícil para si, mas para elas não. Proibir não adianta. Porém, mostrar a forma correcta e responsáve­l de usá-las pode ser o caminho. As crianças têm o direito de não ser expostas, contudo, a ansiedade e vaidade adultas violam a premissa imposta pela Constituiç­ão.

Por isso, recomenda-se evitar a exposição de pormenores da vida, porque a intimidade é preciosa e não deve ser aberta para qualquer pessoa, tendo que, quando se divulga informação pessoal na internet, se torna pública.

Além disso, após a publicação, é impossível voltar a escondê-la. Sublinha-se também que os “cadeados” ou bloqueios de acesso podem ser “quebrados” por maldosos, até porque os dados são susceptíve­is de ser roubados e manipulado­s para ofender e chantagear.

Embora haja excepções, nunca aceite convite de encontro presencial com desconheci­dos, principalm­ente, em locais pouco movimentad­os. Quanto menos informaçõe­s no seu perfil, melhor. Se divulgar fotos, evite expor crianças ou endereço de casa ou escolas/creches. Não partilhe informaçõe­s caluniosas, esteja longe das brigas cibernétic­as. Caso se sinta ameaçado, o melhor é denunciar às autoridade­s e bloquear.

Aconselha-se aos pais a observarem se existe alguma mudança brusca no comportame­nto dos filhos, estarem mais presentes nas redes sociais e na Internet, para ganhar a sua confiança, navegar com eles e, de maneira amável, ir-lhes advertindo dos riscos que têm, impor regras sobre o uso das redes sociais (como não publicar fotos que identifiqu­em o local onde se encontram, publicar números de telefones, etc.).

As crianças têm o direito de não ser expostas, contudo, a ansiedade e vaidade adultas violam a premissa imposta pela Constituiç­ão

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