Instabilidade política muito longe do fim
Milhares de pessoas estão a fugir de distritos anglófonos dos Camarões desde que as autoridades camaronesas declararam guerra contra os separatistas do país e numa altura em que cidadãos acusam as forças governamentais de violação sexual, mortes e perseguição.
Na estrada Kumba-Mamfé, na região anglófona dos Camarões, sul do país, o movimento diminuiu drasticamente. É por meio desta estrada que os bens comerciais da Nigéria são trazidos para os Camarões e vice-versa.
A comerciante Takem Ethel, 32 anos, disse à agência alemã Deutsche Welle que muitos negócios da região foram suspensos desde que o Presidente camaronês, Paul Biya, declarou no final da semana passada guerra aos grupos separatistas.
A situação é tensa nas cidades de Mamfé e Eyumojock, onde seis soldados e um polícia foram mortos na semana passada. O Governo diz que separatistas estavam a ser treinados naquelas cidades. Mamfé é a cidade natal de Julius Ayuk Tabe, que diz ser o primeiro presidente da Ambazónia, o nome dado ao Estado que os separatistas afirmam ter criado. A Arábia Saudita prometeu 100 milhões de dólares para a chamada G5 Sahel, força militar regional integrada por cinco países africanos, Mali, Mauritânia, Níger, Burkina Fasso e Chade, destinada a combater os grupos terroristas que actuam na África Ocidental, noticiou na terçafeira a Reuters.
A agência cita o Ministério maliano das Relações Exteriores, segundo o qual Riade fez a promessa durante uma visita ao país do Médio Oriente, no final de Novembro, do ministro das Relações Exteriores da Malásia, Abdoulaye Diop.
Paris, para a Reuters “o patrocinador estrangeiro mais expressivo do G5 Sahel”, pressionou Riade a tomar acções concretas para combater militantes islâmicos e o Presidente francês, Emmanuel Macron, pediu ao príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, para apoiar a força regional quando o visitou em Riade, em Novembro, lê-se no artigo da agência.
Os 100 milhões prometidos pela Arábia Saudita, se efectivado, são um grande impulso para a Força G5 Sahel, que diz precisar de cerca de 500 milhões de dólares para o seu primeiro ano de operações.
Washington prometeu, na voz de Rex Tillerson, o seu secretário de Estado, apoiar com 60 milhões de dólares a Força G5 Sahel, que qualificou de “sócios regionais” dos EUA.
A União Europeia prometeu apoiar com 50 milhões de euros, a França com oito milhões e cada país africano que integra o G5 Sahel com dez milhões de euros cada.
Este valor, somado, dá mais de 268 milhões de dólares, sem contar com Berlim, que há meses confirmou, através da chanceler Angela Merkel, o compromisso de financiar o G5 Sahel “com treino e fornecimento de equipamentos”.
Porém, em Outubro, um especialista mauritaniano em terrorismo, Isselmou Ould Salihi, disse ao canal de televisão Deutsche Welle que muitas das promessas ainda não foram efectivadas.
A ONU, apesar de ter aprovado a criação da força em Junho deste ano, recusa-se a financiá-la.
“Grandes promessas foram feitas na reunião de doadores em Berlim, mas quase nada chegou à região do Sahel”, lamentou Isselmou Ould Salihi.
Também em Outubro, a agência alemã noticiou que a força G5 Sahel estava sem dinheiro para executar a função para a qual foi concebida. No mesmo mês, o Secretário-Geral da ONU disse perante o Conselho de Segurança que a situação no Sahel “requer acções inovadoras” para apoiar os esforços da Força regional em áreas como segurança, desenvolvimento e governação.
Ao discursar num debate dedicado à força internacional de combate ao terrorismo realizado após uma delegação daquele órgão avaliar a operacionalização da força, António Guterres disse que a ONU precisa de “unir esforços para abordar as causas profundas da instabilidade” no Sahel, sob pena da falta de acção “ter graves consequências para a região e além fronteiras”.
António Guterres pediu “mais ambição nas suas opções” ao Conselho de Segurança, disse ser crucial “um forte apoio político com material e nas operações do G5Sahel” e que “apenas uma resposta multidimensional vai pôr fim à instabilidade na região”.
Intervenção essa que “deve ser reforçada nas áreas de governação, desenvolvimento e resiliência”,disse.
O G5 Sahel lançou a primeira campanha militar em Outubro, numa altura de forte agitação na região cujas fronteiras são regularmente atravessadas por grupos rebeldes, com destaque para a Al Qaeda e o Estado Islâmico. Estes grupos intensificaram os ataques a alvos militares e civis, incluindo atracções turísticas em capitais regionais, suscitando receios de que a zona se torne um novo viveiro para militantes.
A região do Sahel enfrenta o caos desde a queda, em 2011, do então Presidente líbio Muammar Kadhafi, desde que rebeldes islamitas assumiram o controlo do norte do Mali, em 2012, e desde que o Boko Haram aumentou a presença no norte da Nigéria.
A situação no Mali é particularmente preocupante. A Missão Multidimensional Integrada para Estabilização da ONU no Mali (MINUSMA) é considerada a mais perigosa no mundo. Entre 2013 e 2017, um total de 116 capacetes azuis morreram no Mali.
Arábia Saudita é o mais recente de vários países que prometeram apoio à Força G5 Sahel integrada por cinco Estados africanos e que continua à espera da ajuda prometida