Angola à conquista do espaço
Satélite tem um espaço de iluminação para África e parte da Europa
Depois da África do Sul, Nigéria e Egipto, Angola tornou-se ontem no quarto país africano a entrar para a indústria espacial, com o lançamento em órbita, ontem às 20h00, do seu primeiro satélite, o Angosat 1. Projectado por um consórcio russo, o acto de lançamento decorreu no cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, e o ministro de Estado do Desenvolvimento Económico e Social, Manuel Nunes Júnior, acompanhou o lançamento a partir da sala de comandos em Moscovo.
“O satélite angolano tem um tempo de vida útil de 15 anos. Por isso, o Executivo terá, durante este período, a necessidade de pensar em construir o Angosat 2”
O primeiro satélite angolano Angosat 1 foi lançado ontem com sucesso, através do foguete transportador ucraniano Zenit, a partir do cosmódromo Baikonur, no Cazaquistão. O lançamento aconteceu exactamente às 20horas e 58 segundos, tempo de Angola. Pode-se dizer que está a caminho da zona de trabalho.
O país ganha, assim, uma infra-estrutura que vai tornar os serviços de telecomunicações com custos mais baixos e de melhor qualidade. Com a entrada em funcionamento do primeiro satélite angolano, os serviços de televisão, telefonia e de Internet vão ser mais baratos. Este é um processo que vai contribuir para a inclusão digital e coesão nacional de todos angolanos.
Isto foi mesmo enfatizado pelo ministro de Estado para o Desenvolvimento Económico e Social, Manuel Nunes Júnior, que, em Moscovo, assistiu ao lançamento do satélite.
“Hoje, a Internet é um meio que tem efeitos muito grande na vida das pessoas e o Angosat vem dar resposta a muitas preocupações”, disse o ministro de Estado.
O governante sublinhou que, em termos estratégicos, este projecto é de extrema importância para o nosso país. “No mundo moderno, aqueles países que não apostarem no conhecimento, como estamos a fazer, ficam para atrás”, disse o ministro.
O Angosat 1 vai fornecer produtos e serviços que proporcionam comunicação entre empresas e pessoas, encurtando distâncias, minimizando a infoexclusão e contribuindo activamente para o desenvolvimento socioeconómico e, ao mesmo tempo, criar soluções de comunicações no mercado internacional.
O satélite levou sete horas para entrar em órbita e depois será submetido a testes, entre dois a três meses. Findo este período, o equipamento vai estar apto para ser usado, até completar os 15 anos previstos de vida útil.
O satélite tem cinco dias para encontrar a sua fase geostacionária, 24 dias para estar na zona de trabalho e, depois, passa para a fase de testes para avaliar as condições atmosféricas num período de até três meses.
Após o período de testes, começa o processo de comercialização pelo Infrasat. O Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação definiu que, para as vendas do satélite, estão reservadas já 40 por cento para as operadoras, 10 por cento para os serviços de segurança e defesa nacionais e outros dez para acções sociais (como sectores da Educação e Saúde e pequenos negócios).
Os preços dos serviços do satélite são “stander” ou, seja, os mesmos praticados internacionalmente, apesar de que a estratégia do Executivo seja torná-los mais atractivos.
O Angosat foi desenvolvido com o propósito de capacitar às empresas para o uso das tecnologias de comunicação mais modernas e inovadoras, possibilitando assim a promoção e o desenvolvimento de novos produtos e serviços de informação e comunicação.
O investimento do Satélite foi gerido por três contratos, nomeadamente, o da construção, aluguer do segmento espacial e do segmento terrestre, que ficou avaliado em 320 milhões de dólares, financiados por um consórcio de bancos liderados pelo VTB da Rússia. A responsabilidade do Governo Angolano foi de garantir a formação dos especialistas e a construção de infra-estruturas em terra, que assegurem o apoio dos serviços de gestão do satélite.
O ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, José Carvalho da Rocha, garantiu que o investimento feito tem o retorno garantido. Em dois anos pode ser reembolsado pelas operadoras que actuam no país, tendo em conta que estas, mensalmente, gastam em média 15 a 20 milhões de dólares para manterem os seus serviços.
Uma das grandes vantagens que as operadoras angolanas vão ter com o Angosat é pagar preços mais acessíveis e em Kwanzas. O Executivo deverá ter a capacidade política de pressionar as empresas a baixarem as tarifas actuais do mercado.
O projecto vai também ajudar a criar competências no ramo da engenharia e tecnologia espacial, contribuindo, assim, para a diversificação da economia angolana.
O Angosat1 é um dos sete projectos previstos ao abrigo do Programa Especial Angolano, que envolve a formação de quadros, a transferência de conhecimentos nesta área e o lançamento da Agência Espacial Angolana.
As negociações de concepção do projecto da Angosat entre Angola e Rússia foram um desafio que durou dez anos para concretização. Não é fácil os países entrarem na área da tecnologia por causa dos investimentos avultados e das exigências tecnológicas que as nações desenvolvidas exigem.
O satélite angolano tem um tempo de vida útil de 15 anos. Por isso, o Executivo terá, durante este período, a necessidade de pensar em construir o Angosat 2, que espera contar com a contribuição maioritária da mãode-obra nacional, cujos custos serão mais reduzidos, pelo facto de Angola ter já as bases criadas. Entrada em orbita Segundo dados do Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, com a entrada em órbita do primeiro satélite angolano, o sinal das tecnologias de informação e comunicação vai cobrir todo o território nacional, o que estimulará os serviços das operadoras nas zonas onde não há sinal.
O sinal do Angosat 1 proporcionará outros negócios para o país, por ter uma capacidade de iluminação desde a África do Sul até à Itália.
O satélite angolano foi construído na Rússia e tem segmento espacial: posição orbital 14.5 E, peso de mil 55 quilogramas, peso de carga útil 262.4 quilogramas, potência de carga útil três mil 753 W, banda de frequência CKU, número de repetidores 16C+6Ku e uma vida útil de 15 anos.
O centro de controlo e missão de satélites do AngoSat-1, responsável pela sua gestão, está localizado na comuna da Funda, norte da província de Luanda. Com o satélite geoestacionário artificial, o AngoSat-1 está a uma distância de 36 mil quilómetros, a partir do nível do mar. A sua velocidade coincide com o da rotação da terra e consegue cobrir um terço do globo terrestre.
Com um período de vida de 15 anos, possui 22 “trans-
ponders”, dispositivos de comunicação electrónica, e inclui duas estações de rastreio, uma em Angola e outra na Rússia. Estas estações vão permitir uma intervenção russa no controlo e comando do satélite, sempre que for necessário, enquanto Angola cria autonomia neste domínio. O Angosat 1 vai ter uma utilização de 99,2 por cento da capacidade prevista.
Para garantir o funcionamento do Angosat, o Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação teve a missão de formar e capacitar quadros em engenharia de satélites e sistemas de engenharia espacial. Neste momento, conta com 47 funcionários, que estão a trabalhar no centro de controlo e missão de satélites da Funda.
O centro é o órgão que vai controlar, rastrear e fazer a telemetria dos dados enviados pelo satélite Angosat1. O edifício foi construído numa área de 6.617 metros quadrados, tem três pisos, um heliporto, parque de estacionamento 50 lugares e áreas verdes.
O local foi escolhido pela Comissão Interministerial para a Coordenação Geral do Programa Espacial Nacional (PEN), tendo como base o baixo nível de interferência electromagnética, espaço para desenvolvimento do PEN e desenvolvimento da zona norte da província de Luanda.
Primeiro Satélite
O primeiro satélite foi lançado ao espaço por meio de um veículo Angara A5/BlokDM-03, a partir do cosmódromo de Plesetsk, na Rússia. Equipado com 16 transponders em banda C e 6 em banda Ku, para fornecer serviços de telecomunicações para Angola. O sinal da banda C poderá ser recepcionado em toda África e Europa.
O Angosat 1 é um projecto que vai fornecer oportunidades na expansão dos serviços de comunicação via satélite, acesso à Internet, rádio e transmissão televisiva. De acordo ainda com o Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, o projecto é parte integrante do Programa Espacial Nacional e um dos objectivos é a criação de competências nacionais no domínio das tecnologias de comunicação por satélite.
O projecto Angosat é resultado de um profundo estudo sobre a viabilidade da produção de um satélite angolano, entre a Comissão Interministerial de Coordenação Geral do Projecto de Telecomunicações via Satélite de Apoio Multissectorial (CISAT), criada por Despacho Presidencial nº 21/06 de 21 de Junho. O estudo contou com o Consórcio russo, liderado pela empresa ROSOBONEXPORT, RSC Energia (construtora do satélite Agosat-1).
O satélite Vai tornar o país numa referência no âmbito espacial, com reconhecimento a nível mundial na criação e capacitação de quadros altamente qualificados nas áreas de Engenharia e Tecnologia espacial. De acordo com a fonte, vai ainda apoiar o desenvolvimento sustentável, a defesa e a segurança do Estado, através da pesquisa e desenvolvimentos de tecnologias aeroespaciais, contribuindo assim para o posicionamento de Angola como um dos líderes na área Espacial em África.
Além da transmissão de conhecimento, a facilitação das comunicações com os países africanos, como a RDC, Zâmbia e Rwanda, que poderão usufruir da fibra óptica implantada ao longo do Caminho de Ferro de Benguela, destaca-se, como benefício, o lançamento da Angola Cables, o cabo que vai ligar Angola ao Brasil. Será o primeiro a unir o continente africano ao Sul-Americano, facto que facilitará as comunicações entre as duas margens do Oceano Atlântico.
Este cabo vai permitir também a conexão, no próximo ano, a um outro cabo no Brasil, do qual Angola participou e que liga os Estados Unidos da América a ao país latino-americano.
Com isso, o país poderá obter valiosos recursos financeiros com este serviço, pois o mesmo, uma vez em funcionamento, irá facilitar as comunicações entre o continente Sul-Americano e o asiático, sem ter de passar pela Europa e países árabes.
Satélite artificial
Um satélite artificial é um sistema que orbita em torno do nosso planeta, com uma altitude e velocidade constante, segundo informação do Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação. Geralmente, os satélites estão equipados com meios radioeléctricos e são dotados de energia, dispondo ou não de um sistema de controlo remoto.
O conceito do satélite artificial, enquanto veículo espacial e suporte de uma estrutura receptora e emissora, foi desenvolvido por Artur C. Clark, um radioamador britânico. A sua aplicação tornou-se realidade, quando Sergei Koreleve fez, em 1957, o lançamento para o espaço do Sputnik-1, satélite composto por um pequeno emissor de rádio.
Em Dezembro de 1961, quatro anos depois, é lançado no espaço o OSCAR-1, que se torna no primeiro satélite amador. Existem satélites que cumprem todas as aplicações necessárias, do ponto de vista técnico e científico, e que podem ou não ser repetidores, geradores e transdutores de informação diversa.