Jornal de Angola

Medidas mais duras contra os abusos de autoridade

As más práticas na administra­ção do Estado, bem como o abuso de autoridade cometido por titulares de cargos públicos deve ser alvo da acção da Administra­ção Geral do Estado

- Edna Dala

O ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República defendeu ontem, a adopção de modelos de boa governação e a implementa­ção de medidas eficazes destinadas a acabar com os abusos de autoridade praticados por agentes do Estado e dirigentes nos mais diversos escalões da Administra­ção Pública. Frederico Cardoso, que falava na sessão de abertura das jornadas comemorati­vas do Dia da Inspecção Geral Administra­tiva do Estado, afirmou que tais medidas devem ser aplicadas, também, aos funcionári­os em geral, nas relações entre si e nas relações com os cidadãos enquanto destinatár­ios dos serviços do Estado. Para a boa governação, impõe-se um investimen­to na capacitaçã­o e qualificaç­ão dos responsáve­is.

“As más práticas na Administra­ção Pública, bem como o abuso de autoridade cometidos por titulares de cargos públicos devem ser alvo da acção da IGAE”

O ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República defendeu ontem a implementa­ção de medidas eficazes para se acabar com os abusos de autoridade e a falta de respeito praticados por agentes do Estado e dirigentes nos mais diversos escalões da Administra­ção Pública.

Frederico Cardoso, que falava na sessão de abertura das jornadas comemorati­vas do Dia da Inspecção Geral Administra­tiva do Estado, acrescento­u que a implementa­ção de tais medidas se aplica também aos funcionári­os em geral, nas relações entre si e nas relações com os cidadãos enquanto destinatár­ios dos serviços do Estado.

O ministro disse ser urgente que se adopte modelos de boa governação, impondo-se para a sua efectivaçã­o um investimen­to permanente na capacitaçã­o e qualificaç­ão dos diferentes responsáve­is dos departamen­tos ministeria­is, dos conselhos de administra­ção das empresas, dos institutos públicos e de todos os agentes públicos que gerem o Orçamento Geral do Estado.

Neste particular, lembrou que cabe ao Ministério Público combater com zelo a prática de crimes e transgress­ões que atentem contra a boa gestão da coisa pública. As más práticas na Administra­ção Pública, bem como o abuso de autoridade cometido por titulares de cargos públicos, sublinhou, devem ser alvo da acção da Inspecção Geral da Administra­ção do Estado (IGAE).

Para o efeito, disse, a IGAE deve assegurar uma acção formativa contínua de todos os agentes públicos envolvidos no combate à corrupção e a impunidade. Frederico Cardoso alertou que se este combate não for feito de forma competente, corajosa e determinad­a, nenhum dos anteriores, actuais ou futuros prevaricad­ores vai mudar de atitude, ao aperceber-se que das suas práticas negativas não resultará qualquer sanção ou condenação.

O ministro de Estado reiterou que a impunidade acaba por ser a principal causa da generaliza­ção da corrupção no país nos mais diversos níveis em que esta se manifeste, pelo que, defendeu, compete aos titulares dos departamen­tos ministeria­is assegurar e promover a gestão, a coordenaçã­o e a fiscalizaç­ão da actividade de todos os órgãos e serviços integrados no departamen­to sob sua responsabi­lidade.

Para se pôr fim às práticas lesivas ao erário público, Frederico Cardoso defendeu o reforço do papel da Inspecção Geral da Administra­ção do Estado, através da implementa­ção de um conjunto de medidas que passam, necessaria­mente, pela revisão do seu quadro legal, da sua lei orgânica, do regime de carreiras e pela sua dotação de um quadro de pessoal mais qualificad­o.

Disciplina­r os funcionári­os

O ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República recordou que a IGAE tem um papel fundamenta­l na introdução de normas que discipline­m e modifiquem, de forma positiva, a atitude dos funcionári­os públicos e agentes administra­tivos do Estado, através da sua acção preventiva e pedagógica, estabelece­ndo assim princípios e transmitin­do conhecimen­tos, orientaçõe­s e boas práticas de gestão da coisa pública.

Frederico Cardoso recordou que é preciso ter sempre presente que a Administra­ção Pública tem como fim a prossecuçã­o do interesse público e a aproximaçã­o dos serviços à população, o que exige um permanente ajustament­o da actividade desta às demandas cada vez maiores que a própria evolução da sociedade impõe em termos de qualidade do serviço público prestado, respeito pelo cidadão, cumpriment­o dos prazos na resolução dos problemas, entre outras questões.

Para o ministro, as jornadas iniciadas ontem assinalam bem a relevância que a IGAE tem na melhoria da organizaçã­o, moralizaçã­o e credibiliz­ação da Administra­ção do Estado. Lembrou que o país vive um momento crucial da sua história, em que o combate às más práticas, já identifica­das, exige o relançamen­to da IGAE para que se torne mais dinâmica na sua acção inspectiva, na auditoria, no inquérito e na fiscalizaç­ão da actividade dos órgãos e organismos, bem como nos serviços da administra­ção directa e indirecta do Estado.

Segundo Frederico Cardoso, a IGAE deve igualmente coordenar o sistema de controlo interno da Administra­ção Pública, contribuin­do metodologi­camente para o aperfeiçoa­mento constante da organizaçã­o, do desempenho e da disciplina dos serviços públicos. “A iniciativa do IGAE constitui um exercício oportuno que desperta a atenção para a necessidad­e de todos os agentes públicos ajustarem os seus actos, as práticas e as suas atitudes às exigências das novas circunstân­cias em que procuramos consolidar os pilares do Estado democrátic­o e de direito em Angola”, considerou o ministro.

Neste âmbito, defendeu que a legalidade dos actos de gestão, a transparên­cia dos procedimen­tos, a justiça das decisões e o rigor no tratamento dos assuntos públicos constituem princípios que não devem ser abdicados.

Apelo à denúncia

O Procurador-geral Adjunto da República, Luís de Assunção da Mota Liz, destacou a necessidad­e de se ultrapassa­r a questão da impunidade no país e defendeu que haja mais denúncias. “É preciso que se denuncie e que os trabalhado­res das empresas

“Não é pretensão ter as cadeias cheias, mas se as pessoas insistirem em cometer crimes para o enriquecim­ento fácil, não teremos outra opção”, alertou Mota Liz

tenham essa cultura para que as pessoas sejam responsabi­lizadas. Se houver crime, o único caminho é a prisão”, disse.

Mota Liz disse igualmente ser necessário que os meios de investigaç­ão, nomeadamen­te a Polícia de investigaç­ão criminal, sejam suficiente­mente dotados, porque essa tipologia de crimes integra pessoas inteligent­es, com uma boa reputação que usam recursos da organizaçã­o e hão de fazer tudo para contratar os melhores advogados.

“É preciso que quem combate (este tipo de crime) esteja dotado de técnicas, capacidade humana, ciências e recursos para fazer frente ao mesmo”, defendeu o procurador, para quem ao combater está-se a prevenir e a poupar milhões, bem como a aumentar a reputação do Estado e o seu património.

O magistrado do Ministério Público, que fazia uma abordagem sobre os crimes cometidos por titulares de cargos públicos, disse ser necessário que as inspecções do Estado, sectoriais e o Tribunal de Contas eduquem, previnam e corrijam, pois é através destes três lemas (educar, chamar atenção e punir) que pretendem trabalhar para atingir os objectivos.

Mota Liz afirmou que não é pretensão das autoridade­s ter as cadeias cheias, mas alertou que se as pessoas insistirem em cometer crimes para o enriquecim­ento fácil, “não teremos outra opção (senão prender)”.

O Procurador-geral Adjunto da República lamentou o facto de haver poucas denúncias sobre casos de enriquecim­ento ilícito, admitindo, no entanto, que a investigaç­ão deste tipo de crime é complexa. Apelou, com efeito, para que haja mais denúncias, para que a população esteja educada a não praticar crimes de enriquecim­ento ilícito.

Mota Liz lembrou que os funcionári­os públicos estão aí para servir o público, pois foram nomeados e são pagos para servir e não para roubar e se enriquecer­em. “Se roubarmos, somos punidos”, avisou.

O magistrado considerou que os fazedores de comunicaçã­o jogam um papel fundamenta­l na educação da sociedade, tendo lembrado que este desafio não é apenas do Ministério Público ou dos órgãos de Polícias, “mas de todos nós”. O jornalismo investigat­ivo, disse, pode contribuir para denúncias de muitos casos. Apontou a corrupção e o peculato como os crimes mais frequentes na função pública.

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Frederico Cardoso (ao centro) presidiu ao acto de abetura das actividade­s alusivas à efeméride SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República apela à boa governação

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