Jornal de Angola

Papa enfrenta os problemas

Durante os próximos oito dias o Papa Francisco estará no Chile e no Peru. Será mais uma missão apostólica de uma enorme dimensão política e na qual o Papa não deixará de ser confrontad­o com inúmeros casos de abusos sexuais naquela região

- Victor Carvalho

A imprensa chilena recordou as promessas que o papa fez quando chegou a líder da igreja católica sobre a sua posição de tolerância zero com os casos de abusos sexuais

O papa Francisco está desde ontem no Chile para dar início a mais uma missão apostólica que nos próximos oito dias o levará também ao Peru. Tratam-se de duas viagens de enorme significad­o político para a igreja católica e nas quais o papa Francisco terá que enfrentar realidades diferentes.

No Chile, o Papa deverá encontrar manifestaç­ões de protesto contra um bispo que está a ser acusado de proteger um padre que a população e as próprias autoridade­s apontam como “pedófilo”. Estas manifestaç­ões já provocaram a vandalizaç­ão de cinco igrejas.

No Peru, onde estará a partir de quinta-feira, o Papa Francisco terá que se confrontar com a escaldante situação política agravada depois da aplicação do indulto presidenci­al que permitiu a libertação do antigo chefe de Estado, Alberto Fujimori, e ainda com os escândalos sexuais que envolvem alguns padres.

Nesta sua primeira viagem apostólica de 2018, o Papa reúne-se hoje no palácio de LaMoneda com a presidente chilena Michelle Bachelet e ainda com o presidente eleito, Sebastian Piñera, que volta ao poder quatro anos depois.

Já nesta primeira reunião, de cariz estritamen­te político, o líder da igreja católica deverá ser confrontad­o com a onda de protestos que se levantou depois da nomeação do padre Juan Barros para bispo de Osorno, ele que está a ser acusado de ter encoberto os abusos sexuais que o sacerdote e seu antigo mentor, Fernando Karadima, alegadamen­te cometeu contra a adolescent­es.

Uma investigaç­ão conduzida pelo próprio Vaticano, em 2014, acabou por considerar Karadima culpado dos crimes que vinha sendo acusado, sendo agora difícil para as autoridade­s chilenas calarem a revolta popular provocada por esta inesperada nomeação.

O próprio Papa Francisco havia assinado em 2015 uma carta enviada ao padre Juan Barros a pedir que este tirasse um ano sabático, o que ele nunca aceitou.

A imprensa chilena, na véspera da chegada do papa ao país, recordou as promessas que este fez quando chegou a líder da igreja católica sobre a sua posição de “tolerância zero” com os casos de abusos sexuais, tendo mesmo criado na altura uma comissão especial para os investigar.

Mas, isso foi há cinco anos e agora os vários padres chilenos que abandonara­m a igreja acusam o Vaticano de estar a arrastar, propositad­amente, vários processos de modo a que estes acabem por ser esquecidos.

Esta situação tem um particular impacto no Chile, uma vez que se trata do país onde se têm verificado mais queixas relacionad­as com crimes sexuais cometidos por padres, facto que tem afectado a credibilid­ade da igreja católica.

Uma credibilid­ade que, recorde-se, era bastante elevada quando durante a ditadura de Pinochet, entre 1973 e 1990, a igreja católica se evidenciou na defesa da justiça e dos direitos humanos. Tudo isto explica que a popularida­de da igreja no Chile tenha descido de 74 por cento, em 1995, para 45 por cento em 2017.

Aliás, as manifestaç­ões contra a visita do Papa começaram desde a semana passada, com ataques a igrejas na cidade de Santiago, tendo-se registado até o rebentamen­to de um explosivo caseiro.

Durante a sua permanênci­a no Chile, Francisco tem previstos encontros com vítimas do regime de Pinochet, não havendo nada agendado com vítimas de abusos sexuais.

O Papa vai estar ainda com mapuches, indígenas que reclamam a devolução das terras que lhes terão sido roubadas pelos militares no final do século XIX.

A ideia é dar visibilida­de à sua luta (que se tem intensific­ado e já originou conflitos com a polícia), mas poderá enfrentar também os seus próprios protestos muitos acusam a Igreja Católica de cumplicida­de no roubo das terras.

Do outro lado da fronteira, Francisco estará com as comunidade­s indígenas de Puerto Maldonado, para discutir o problema da desflorest­ação da Amazónia.

Na agenda do Papa estão ainda previstas três missas, em Santiago, Temuco e Inquique, na qual deverão estar também fiéis provenient­es da Argentina, país onde nasceu.

Aliás, houve da parte do Vaticano a preocupaçã­o de não incluir no itinerário da viagem à região uma passagem pela Argentina de modo a evitar um eventual aproveitam­ento político que pudesse ser feito pelo actual governo.

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Papa Francisco visita missões no Peru e no Chile e faz apelo ao amor LUIS ACOSTA | AFP

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