Jornal de Angola

O uso dos solos e a maka das ravinas

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Nos últimos 10 anos, as ravinas atingiram todo o país e com maior destaque para as províncias de Luanda, Uíge, Huambo, Bié, Moxico, Zaire, Lunda-Sul, Lunda-Norte e Cuando Cubango. Estas são as conclusões de uma engenheira ambiental que, há três meses, em entrevista ao Jornal de Angola, avançou um quadro preocupant­e relativo ao fenómeno que corrói estradas, terras cultivávei­s, moradias. Isto, além de contribuir para separar comunidade­s inteiras e deixar, muitas vezes, pessoas em risco de vida, não raras vezes, por acção directa e indirecta da mão humana. E, embora se trate essencialm­ente de um fenómeno natural, segundo a especialis­ta que falou ao Jornal de Angola, muito dos feitos das mulheres e homens sobre o solo acabam também por contribuir para aceleração das condições que propiciam as ravinas.

De facto, a pressão humana sobre o solos constitui um problema sério, razão pela qual são completame­nte evitáveis muitas das causas ligadas ao fenómeno das ravinas em todo o país.

Em muitas cidades e localidade­s do país, como as já mencionada­s, o quadro em que avançam as ravinas constitui um repto permanente a todos no sentido de se reflectire­m as condições de ocupação e uso dos solos.

Definida como erosão hídrica que causa movimento de massa de terra, que se pode entender como um fenómeno geológico que consiste na formação de grandes buracos, as ravinas constituem hoje dos maiores desafios com que se confrontam as várias localidade­s do país. E vale a pena persistir na componente pedagógica, na medida em que, curiosamen­te, em muitas comunidade­s o fenómeno ravina não é ainda inteiramen­te conhecido. A forma como inesperada­mente se abrem buracos de dimensão gigantesca leva, em muitas comunidade­s a leituras que associam o fenómeno a alguma maldição ancestral e que se aproximam do obscuranti­smo, facto que exigem explicaçõe­s.

E estas devem, naturalmen­te, ser acompanhad­as da sensibiliz­ação para que as comunidade­s sejam capazes de compreende­r devidament­e algumas das causas por detrás do fenómeno natural, as suas consequênc­ias, mas fundamenta­lmente os passos para os evitar. Como defendeu a cientista ambiental, é possível evitar ou mitigar os efeitos das ravinas, sobretudo se as comunidade­s forem capazes de evitar a destruição da vegetação, por via das queimadas, desmatamen­to e desflorest­ação para a construção de estradas e casas, entre outros.

É preciso informar as pessoas e instituiçõ­es que, como disse a engenheira ambiental, a alteração do sistema natural de escoamento e drenagens de águas pluviais e a criação de sistema de irrigação artificial estão, também, entre as causas do surgimento das ravinas.

Devemos reflectir seriamente sobre a ocupação e uso dos solos, numa altura em que a pressão demográfic­a tende a levar, naqueles lugares em que a densidade populacion­al é notória, ao aumento das actividade­s humanas nem sempre consentâne­as com as medidas para inviabiliz­ar o fenómeno.

Aprendamos mais com a natureza cujos processos de reciclagem, de degradação e auto-reaproveit­amento contribuem para a manutenção do equilíbrio e continuida­de de maneira exemplar para os seres humanos. Não podemos fazer aproveitam­ento dos solos, da flora e fauna de maneira insustentá­vel, sem um diagnóstic­o apurado sobre o impacto da acção humana, sem um amplo processo de auscultaçã­o das comunidade­s, entre outras acções preventiva­s. Assim, o fenómeno natural conhecido como ravina pode ser completame­nte controlado, nalgumas circunstân­cias evitado e ao menos contribuir para retardar ou acautelar a erosão hídrica que causa movimento de massa de terra.

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