Recomendado novo plano para melhorar saneamento
Especialistas apontam soluções para minimizar as dificuldades que a capital do país enfrenta com as inundações, mau estado das vias e saneamento básico
Luanda poderá contar, em breve, com um plano director municipal metropolitano, uma sugestão apresentada por um grupo de engenheiros, arquitectos e urbanistas ao governador, para ajudar as autoridades a controlar de forma mais eficaz as obras de carácter urbanístico a serem realizadas na província.
O engenheiro Resende Oliveira, o primeiro ministro da Construção do então governo da República Popular de Angola, e um dos participantes ao encontro com o governador Adriano Mendes de Carvalho, referiu que o plano vai permitir que se autorize, acompanhe, fiscalize melhor a ocupação dos solos.
“A ocupação de terrenos tem de ser realizada com responsabilidade e discernimento. Não se pode admitir que cada um chega e ocupe os solos”, disse o antigo ministro da Construção do Governo de Agostinho Neto.
Para tal, os peritos em engenharias e arquitectura recomendaram ainda ao governo a criação de uma estrutura para as autoridades provinciais acompanhar, fiscalizar e autorizar ou não a forma de ocupação e utilização dos solos.
Enquanto isso, explicou Resende Oliveira, os engenheiros e arquitectos deverão aconselhar as autoridades da província a proceder urgentemente à desobstrução de todas as linhas de água, valas de drenagens de Luanda, no sentido de permitir que as casas mal construídas e lixo mal colocados sejam retirados, para que essas infra-estruturas funcionem em pleno.
Outro participante ao encontro com o governador provincial é o engenheiro civil António Venâncio, que defendeu uma maior fiscalização profissionalizada e de rigor nas obras, principalmente na rede rodoviária e de drenagem na capital, para se evitarem os grandes erros de engenharia que se verificam nalgumas artérias.
António Venâncio deu exemplo de várias obras ao nível do tráfego rodoviário e de drenagem e colecta de águas residuais, com destaque para as avenidas Ngola Kiluanje, 21 de Janeiro, Deolinda Rodrigues e a vala da Senado da Câmara, que considera serem “trabalhos com grandes erros de palmatória”.
Com um total de oito milhões de habitantes, a província de Luanda tem outros problemas, que também foram criticados pelo engenheiro. Um deles tem a ver com as obras das cidades do Kilamba e do Sequele, que têm edifícios que apresentam muitas fissuras.
Para o engenheiro civil, estas edificações tiveram muitos problemas na sua construção, principalmente nos seus assentamentos que vinham dos solos, avançando que as f undações t erão falhado nalguns locais, daí as fissuras.
António Venâncio realça que estas obras são igualmente um exemplo de que a falta de fiscalização é um dos factores que fez com que se chegasse à actual situação dos prédios das duas pequenas centralidades, uma terminologia da qual discorda plenamente.
Kilamba não é centralidade
Com mais de 20 mil apart amentos, a Cidade do Kilamba é habitada, há quase ci nco anos, mas grande parte dos seus edifícios apresentam já muitos problemas, que o engenheiro acredita que ainda podem ser solucionados.
“É preciso que as pessoas admitam os erros e chamem os técnicos para que ajudem a corrigir as falhas actualmente detectadas”, alerta António Venâncio, para quem as obras do Kilamba e do Sequele podem ter tido problemas com os assentamentos diferenciais resultantes da má compactação dos solos ou de um péssimo estudo dos terrenos.
O engenheiro civil afirma que as obras em causa podem ter alguma qualidade, mas seriam melhor executadas se houvesse uma fiscalização profissionalizada.
Questionado s obre a designação das mais novas cidades de Luanda, António Venâncio considera ignorância daqueles que decidiram considerar Kilamba e Sequele de centralidades. “Uma centralidade não tem nada a ver com um conjunto de casas, mas algo relacionado com memórias, urbanismo e comportamento das pessoas, como era a zona da Gajajeira e a Mutamba”.
O especialista em fiscalização e obras públicas diz que as centralidades no Kilamba e Sequele podem surgir em função do desenvolvimento dessas localidades e do comportamento dos seus moradores.
“Alguém criou esse termo de centralidade, que não é, de certeza, um engenheiro, urbanista ou arquitecto, mas uma obra da mesma pessoa, se calhar, que inventou erradamente o termo autoestrada, à actual avenida Fidel Castro Ruz”, remata.
A ocupação de terrenos tem de ser realizada com responsabilidade e discernimento. Não se pode admitir que cada um chegue e ocupe os solos