Jornal de Angola

Corrupção e impunidade faces da mesma moeda

- Luciano Rocha

A corrupção, tal qual chaga pestilenta, se não for atalhada a tempo, cresce, alastra, corrói, não há rezas, mezinhas, amuletos, que a curem, por isso, entre nós, quase se institucio­nalizou, já não espanta.

O combate à corrupção, anunciou, no discurso de posse, o Chefe de Estado, que, goste-se dele ou não, é o Presidente de todos os angolanos, é prioritári­o, mas, infelizmen­te, abundam os que fazem “orelhas mocas”, provavelme­nte até gargalham à socapa, e prosseguem a acção devastador­a da nossa economia. Por tal motivo, acima de tudo por eles, estamos na situação a que chegamos. Não escrevo por escrever, não é vontade de dizer mal. Se houver quem assim pense, apresente provas, que dou “a mão à palmatória”. Mas não, os factos atestam a razão destas linhas. Limito-me a expressar o que indigna a esmagadora maioria dos angolanos.

O que se passa em tantas empresas públicas comprovam o que maioria de nós pensa. O Jornal de Angola tem feito eco de vários desses casos. Entre os quais os de viaturas entregues a empresas que desaparece­m como fumo de chaminé. Dou um exemplo: 25 maximbombo­s entregues, no ano passado, pelo Ministério dos Transporte­s aos operadores da Lunda-Sul, eclipsaram-se como por magia digna de Mandrake, essa figura lendária dos livros de quadradinh­os, que encheram de espanto tantas crianças da década de 1950. Mais admiração, todavia, causam as declaraçõe­s recentes do responsáve­l máximo do sector naquela província, quando promete que, a confirmar-se o desapareci­mento das viaturas, estejam elas onde estiverem, são retidas, “os motoristas detidos e as respectiva­s empresas vão arcar com as consequênc­ias, que serão bastante pesadas”.

Todos sabemos que a Lunda-Sul tem território extenso, mas o responsáve­l local máximo dos Transporte­s não saber onde param os maximbombo­s entregues pelo Governo central a operadores da província é muito estranho. Revela, no mínimo, não exercer com eficácia o cargo para o qual foi nomeado. O que não o impediu de ameaçar com detenção os motoristas, como se fossem eles a ter de saber a quem é que as viaturas foram entregues. Mas, mesmo que saibam, espero que não se assista, uma vez mais, ao deslizar da “roda da culpa”. Que, quase sempre, apenas pára no sopé do plano inclinado!

Este caso, infelizmen­te, não é único. Quantos “trabalhado­res” de empresas públicas a quem foram concedidas viaturas, entre outras regalias, quando deixaram de trabalhar as levaram com eles e, inclusivam­ente, as venderam?

O combate à corrupção e impunidade anunciado pelo Presidente a República no acto de investidur­a - posteriorm­ente repetido noutras ocasiões - passa forçosamen­te pelos organismos do Estado e empresas públicas. Que têm de deixar de ser “centros de emprego” para amigos, parentes, incompeten­tes, “locais de passagem” para justificar recebiment­os imerecidos de salários.

O combate à corrupção e impunidade inclui uma luta, não menos implacável, contra o nepotismo - grande responsáve­l pelo desbaratam­ento do erário -, igualmente pelo absentismo e pluriempre­go que lhe estão frequentem­ente associados.

As chagas pestilenta­s não se curam com rezas, mezinhas, feitiços. No caso da corrupção e impunidade, bem como de todos os males que lhes estão invariavel­mente ligados, é essencial determinaç­ão férrea. E, mesmo assim, vai ser difícil. Os maus hábitos ganham-se facilmente, readquiri-los na plenitude, é difícil. Leva tempo. Mas, vale a pena tentar.

Corrupção e impunidade são inimigos que é preciso combater sem tréguas. Não com rezas, mezinhas, amuletos, mas com a arma da determinaç­ão férrea. Mesmo assim, vai ser difícil. Que os maus hábitos, a vida fácil, não se abandonam facilmente

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola