Jornal de Angola

Assassinat­o de médica deixa sociedade chocada

A cidade do Dundo parou literalmen­te na sexta-feira para dar o último adeus a Dílvia Matias Cambinda no momento da partida dos restos mortais para Luanda. O funeral é realizado hoje no Cemitério de Benfica

- Nhuca Júnior

O lindo rosto da jovem que aparece na fotografia poderia ser motivo de uma reportagem sobre a beleza da mulher angolana. Além de jovem bonita, um outro motivo de reportagem podia ser o interesse de a sua história de vida poder despertar na juventude em Angola.

O interesse pelos estudos que ela sempre incorporou como desejo por um futuro melhor terminou na quartafeir­a de forma trágica. Dílvia Frederico Matias Cambinda, uma médica de 30 anos, natural de Luanda, já não está no mundo dos vivos. Foi brutalment­e assassinad­a e o único suspeito é a pessoa que lhe fez juras de amor eterno. Afinal, ela dormia com o “inimigo”.

A jovem médica, licenciada em 2013 pela Universida­de Jean Piaget, deu conta disso quando o marido, Vando Cambinda, natural da Huíla, começou a dar sinais de homem violento por não querer ouvir falar em separação, uma decisão tomada pela mulher depois de ter dado conta de que o marido a enganava que ainda estava empregado.

Foi desvincula­do da Administra­ção Geral Tributária (AGT) por um motivo que o

Jornal de Angola ainda não conseguiu definitiva­mente apurar, através do cruzamento de fontes, sendo uma delas a própria Administra­ção Geral Tributária.

Vando Cambinda já estaria na situação de desemprega­do muito antes do casamento, ocorrido em Dezembro de 2014, e decidiu apressar o enlace matrimonia­l.

Quando descobriu, um ano depois da celebração do matrimónio, a médica sentiu-se enganada, ainda mais por ter tomado conhecimen­to de que a razão da expulsão pode ser a descoberta pela AGT de que o marido, para ser admitido, terá incluído no processo de admissão um certificad­o de habilitaçõ­es falso do ensino médio.

Quando abordou o assunto com o pai, Simão Cabral, este aconselhou a filha a separar-se porque, a ser verdade a existência de um certificad­o de habilitaçõ­es falso, o marido pode não ser uma pessoa séria.

O Jornal de Angola chegou ontem à fala, por telefone, com o pai da médica, mas a conversa teve de ser interrompi­da várias vezes a pedido do pai, abalado com a morte cruel da filha, de quem se vai lembrar como uma “filha meiga e cheia de princípios”.“Este rapaz estragou-me a vida”, declarou, condoído, Simão Cabral, para quem Dílvia Matias Cambinda, a primogénit­a de quatro filhos que trouxe ao Mundo, sendo duas meninas e dois rapazes, “tinha tudo que um pai deseja para os seus filhos”. Com o pedido de separação vieram os acessos de ciúme, aumentados porque a médica não desejava ter filhos com o marido na condição de desemprega­do. O marido pressionav­a-a, porque achava que, havendo filhos no lar, o casamento estaria salvo. Em 2015, dois anos depois de ter terminado a licenciatu­ra, a médica conseguiu emprego no Hospital Geral do Dundo, província da Lunda-Norte, para onde viajou sozinha, com a recomendaç­ão de que o marido continuass­e na província de Luanda à procura de emprego. O marido decidiu, sem pôla ao corrente, ir ao encontro da esposa, ainda na condição de desemprega­do.

A jovem médica já vivia, em 2016, num apartament­o, numa nova urbanizaçã­o da cidade do Dundo, adquirida por ela e não pelo marido, como erradament­e publicámos na edição de ontem. As brigas continuara­m.

Ameaças recorrente­s

“A minha mulher é muito bonita. Se ela um dia não ficar comigo, eu vou matála. Vou atirá-la do prédio ou queimá-la”.

A citação é, presumivel­mente, da autoria do marido e ouvida pela família da médica, no dia da sua morte, através de um irmão de igreja do casal. Das duas opções macabras, o marido conseguiu pôr em prática uma.

As ameaças foram materializ­adas na noite de quartafeir­a, um dia depois de a médica Dílvia Matias Cambinda ter regressado da província de Luanda, onde esteve numa formação de uma semana, tendo ficado alojada em casa dos pais, situada no município de Viana, onde decorre o velório, que é transferid­o na manhã de hoje para o Quartel General do Exército, de onde sai o cortejo fúnebre para o Cemitério de Benfica, onde os restos mortais da médica vão ser sepultados às 10h00, num ambiente de grande consternaç­ão.

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DR Os restos mortais da médica vão hoje a sepultar num ambiente de grande consternaç­ão

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