PRÉMIO CAMÕES
A vitória de um escritor muito divertido
Germano Almeida venceu este ano o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da Língua Portuguesa. Por cá, a premiação do escritor caboverdiano, dono de uma obra iniciada em 1982 e traduzida em vários países, foi pouco referenciada, tanto pela comunicação social, quanto pelo público, incluídos os ditos amantes da literatura.
Na verdade, a obra de Germano Almeida é pouco conhecida pelos angolanos. O autor deste artigo confessa ter tido até agora pouco contacto com o a obra deste escritor, embora reserve grata memória de “O testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo”, romance já adaptado ao cinema.
No romance, escrito em 1989 e levado ao grande écran em 1997, Germano Almeida conta a história de Napumoceno da Silva Araújo, homem de vida dupla e conduta duvidosa, que tenta manter uma boa imagem. Cabo-verdiano pobre de S. Nicolau, torna-se num importante e rico comerciante do Mindelo. Possui uma empresa de importações-exportações chamada Araújo Lda e chega ao cargo de vereador do município de São Vicente.
Ao ganhar este ano o Prémio Camões, Germano Almeida contrariou o equilíbrio luso-brasileiro das últimas quatro edições do Prémio Camões. À 30ª edição, o prato da balança voltou a pender para a Língua Portuguesa escrita nos países de África e a literatura de Cabo Verde reuniu o consenso do júri.
O anúncio feito pelo ministro português da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, de ser um autor africano o vencedor, não surpreendeu completamente, pois a rotatividade entre o triângulo habitual já estava a causar melindres. Desde 2013, o prémio fugia às literaturas africanas e, depois de Mia Couto, o nome de Germano Almeida era um dos favoritos.
A rotatividade na atribuição do Prémio Camões foi quebrada pela primeira vez em 1994, quando Jorge Amado venceu após Rachel de Queiroz, repetindo-se em 1995 e 1996 com Portugal, através de José Saramago e Eduardo Lourenço, até Pepetela repor a repartição mais consensual do Camões em 1997.
Na plateia, Abraão Vicente, ministro da Cultura de Cabo Verde, disse ser a obra de Germano Almeida “interessante e com uma grande originalidade na língua portuguesa devido ao auto-humor que contém”.
Segundo o governante, o autor “sabe rir-se de si e do mundo e, nesse sentido, apresenta uma visão muito irónica, que, sem ser violenta, é crítica”. Para Abraão Vicente, Germano Almeida “é um escritor muito divertido.”
José Luís Jobim, o presidente, disse que o júri “deliberou conceder por unanimidade o Prémio Camões ao autor caboverdiano Germano Almeida, pela riqueza de uma obra onde se equilibram a memória, o testemunho e a imaginação; a inventividade narrativa alia-se ao virtuosismo da ironia no exercício da liberdade, de ética e de crítica, conjugando a experiência insular e da diáspora cabo-verdiana. A obra atinge uma universalidade exemplar no respeito à plasticidade da língua portuguesa.”