Show Piô emociona plateia inspirada na independência
Lucas de Brito brilha em palco com sucessos musicais que imortalizam o colega Mamborrô na canção infantil
A quinta edição do Show Piô, realizada sábado à noite, no Centro de Conferências de Belas (CCB), em Luanda, foi um verdadeiro sucesso promovido pela comunhão entre as antigas estrelas da canção infantil angolana e a geração de crianças da independência, hoje homens feitos.
Pelo quarto ano consecutivo, o moderno anfiteatro construído há poucos anos no Futungo II, zona que encerra em si um pedaço de grande valor da história da arte feita por crianças, pelas memórias do “Acampamento de Pioneiros”, encheu-se de gente ávida de revisitar, no imaginário, momentos e lugares que marcaram a infância e adolescência dos meninos de 1970, 80 e 90.
Foram muitos, idos de vários pontos da cidade, os fãs que lotaram os três mil lugares da sala, quase sempre desocupados, porque a força da música não deixava ninguém ficar sentado. E nem o calendário do dia do Mundial da Rússia atrapalhou os planos dos “showistas piô”, que preferiram os momentos de emoção e pranto aos dribles do futebol.
Na plateia, Martins Cristóvão, a estrela do “Pipiadora”, era a exibição mais aguardada. “A mulher que eu tinha trazia azar na vida/ foi a Zuca/ que me arranjou dois homens/ quem manda mais é o Tubia/ quem paga a renda é o Luís”, cantavam as “R:7”, um grupo de fãs fantasiadas com adereços do “Sítio do Pica Pau Amarelo”, seriado infantil brasileiro, muito seguido na TPA.
O mais ovacionado voltou a ser Mamborrô, para a maioria a “estrela maior” daquele movimento artístico forjado na Rádio Nacional de Angola. Coube a Lucas de Brito, Maya Cool na fase adulta da carreira, levar ao palco o menino que deixou o Sumbe natal e virou em Luanda um sucesso nacional, ao ponto de ocupar o segundo lugar no “Top dos Mais Queridos”, em 1984, com uma canção de criança.
“Eu tinha o Mamborrô como o meu maior ídolo. Acho que as coisas não são por acaso. Vou contar aqui um episódio muito rápido. Quando era criança, seguia o Mamborrô até na escola. Ele estudava no Kiluanje e eu vivia no Alvalade. Ofereci a minha irmã mais velha, para namorar com o Mamborrô, de tão fã que eu era. Foi meu irmão.Um dos grandes mentores que tive na vida artística. Para mim, é uma pessoa imortal. Não está aqui, mas a obra ficou para a posteridade”, disse emocionado Lucas de Brito.
Chuva de homenagens
O reencontro com a história teve vários momentos marcantes. Em três horas, músicos e fãs transformaram a sala num autêntico turbilhão de emoções. Muitas foram as pessoas que tiveram de ser consoladas, como foi o caso de Carlos Ferreira “Cassé”, um dos criadores das canções gravadas na RNA.
Novamente juntas, “As Gingas” recordaram o lindo sonho da “Roda d’aço”, dos meninos de todas as cores, que, cada um na sua língua, deixaram os mais velhos admirados. Passaram pela “Bukula do Marçal” e, num registo mais sentimental, retrataram o “Arquitecto do futuro”.
Lucas de Brito começou por cantar “1 de Junho”, seguido por Alberto Matos “Girinha” e Joseca, que encostou o “Carro Azul” e interpretou “Olha bem aquela flor”. Alfredo Hossi “Aprender Angola”, Gersy Pegado “Mangonha” e Clélia Sambo “As crianças saúdam a paz” tiraram o público das cadeiras.
Tony Stereo veio de Lisboa, com “Chico Chicola”, sem conseguir esconder a emoção por voltar a pisar o palco como cantor piô. Faustino Segunda “Madalena”, lamentou-se por ter sido mandado esperar, “numa noite sem luar”, e Júlia Domingos “Menina” reforçou o apelo de esperança, para que se lute pela vida.
Falecido o ano passado, Zito Silva foi ovacionado na sala, enquanto era projectado no ecrã o vídeo do desempenho no show de 2017. Salu Gonçalves, apresentador dos concertos da Nova Energia, lembrou que, por sobrecarga orçamental, a edição de 2019 está fora da programação da promotora.
A banda formada por angolanos e cubanos, foi suportada por Apolinário (bateria), Chico Santos (congas), Yark (guitarra), Pascoal (guitarra), Pedro (baixo), Beni (teclados), Yadira, Tchilo e Raquel (coros), Yasmane (percussão), Raidel (trompete), Lazaro (trombone) e Rigoberto (safoxone), que executaram com mestria sucessos internacionais e trilhas sonoras dos desenhos animados. O humorista GilmárioVemba deu voz a “Carlitos”, canção que marcou uma época na RNA.
O reencontro com a História teve vários momentos marcantes. Em três horas, músicos e fãs transformaram a sala num autêntico turbilhão de emoções