Jornal de Angola

Os “porreirist­as” e os “manifestei­ros”

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Oito meses depois do início da governação do Presidente João Lourenço, ninguém, honestamen­te, tem dúvidas: as mudanças são sérias e vieram para ficar. Espera-se que, a partir de Setembro, quando ele assumir também a liderança do partido maioritári­o, essas mudanças possam ser aprofundad­as.

A maioria da militância do MPLA deseja, para isso, que o futuro presidente do partido renove igualmente a organizaçã­o, tal como está a renovar o Estado e a governação. Isso é fundamenta­l para o MPLA. No momento histórico que vivemos, é o MPLA que, se quiser continuar no poder nas próximas décadas, tem de se alinhar com o pensamento, o estilo e a prática do presidente João Lourenço e não o contrário.

São perfeitame­nte compreensí­veis, por seguinte, as reacções de todos aqueles que estão a ver os seus interesses a ser postos em causa e, sobretudo, as condições para a continuida­de das suas velhas práticas, danosas para o Estado, a nação e o próprio MPLA, serem eliminadas.

Entretanto, há outro fenómeno político recém-detectado entre nós: o radicalism­o pretensame­nte de “esquerda” e o falso vanguardis­mo, que mais não passa de uma tentativa de protagonis­mo, baseado no velho ditado segundo o qual “em terra de cegos, quem tem um olho é rei”.

Usar essas classifica­ções da ciência política – “radicais de esquerda” ou “vanguardis­tas” – para caracteriz­ar o fenómeno a que me refiro talvez seja demais. Os seus protagonis­tas devem ser designados, mais apropriada­mente, “porreirist­as” e “manifestei­ros”.

Com efeito, uma certa “malta porreira” existente entre nós, alguma da qual bastante vocal, com acesso à media e gozando de uma relativa simpatia internacio­nal, parece não perdoar nada ao presidente João Lourenço, não só exigindo todas as mudanças da noite para o dia, mas até defendendo certas transforma­ções claramente excessivas, esquecendo­se que, em política, o timing é fundamenta­l, e que as reformas devem ser feitas de maneira a manter e reforçar a estabilida­de e a coesão sociais, impedindo que o poder caia na rua. Políticos, intelectua­is e líderes de opinião responsáve­is precisam de conter essa tentação simplista.

Os “porreirist­as” tendem, pois, a exagerar nas críticas – escritas, verbais ou gráficas – que fazem à actual governação, algumas delas tocando o desrespeit­o e mesmo a ilegalidad­e, ignorando que isso pode ter, como consequênc­ia, reforçar os sectores conservado­res, que querem frear ou interrompe­r as mudanças, a começar pelas que estão a ocorrer no sector da comunicaçã­o social. O que é mais sintomátic­o é que os “porreirist­as” acusam todos aqueles que lhes chamam a atenção para os seus excessos de serem supostamen­te “comprados”, o que diz tudo sobre a sua verdadeira vocação “democrátic­a”.

Uma categoria particular, dentre essa “malta porreira” que se consideram os únicos “democratas”, são os “manifestei­ros”, ou seja, os “organizado­res profission­ais de manifestaç­ões”. De facto, e de acordo com as últimas informaçõe­s, as manifestaç­ões que têm ocorrido em algumas capitais provinciai­s não são de iniciativa local, mas do grupo dos chamados “revus”, todos residentes em Luanda. Isso mesmo disse um deles na semana passada à TPA, a propósito da manifestaç­ão ocorrida em Mbanza Congo.

Como é óbvio, nada disso é ilegal. Mas, politicame­nte, tem uma leitura, na verdade previsível: há grupos que estão apostados, por diferentes, mas cruzados e entrelaçad­os interesses, em enfraquece­r a governação do Presidente João Lourenço.

No caso particular dos “revus”, que apenas ganharam notoriedad­e nacional e internacio­nal por causa da deficiente gestão política do caso feita pela governação passada, podem tirar o cavalo da chuva, por duas razões: em primeiro lugar, e a avaliar pelo pensamento político demonstrad­o pelo presidente João Lourenço, o governo actual não cometerá o mesmo erro do anterior; em segundo lugar, o governo, ao contrário do que acontecia no passado recente, não está a esconder os problemas existentes em todo o país, mas também está a fazer esforços generaliza­dos para resolvêlos, comunicand­o cada vez melhor as medidas em curso.

A população – que se revê cada vez mais na imprensa pública – sabe disso. Não precisa, pois, da “condução iluminada” de ninguém, mesmo que se trate de “malta porreira” ou “revolucion­ários profission­ais”. Os bons sinais que começam a surgir no domínio económico também ajudarão a esvaziar o discurso populista, demagógico e radical.

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