Jornal de Angola

Sobas sugerem candidatos residentes nas áreas onde concorrem

- Carlos Paulino | Menongue

As autoridade­s tradiciona­is na província do Cuando Cubango entendem que os candidatos às eleições autárquica­s devem ser filhos ou cidadãos residentes há pelo menos cinco anos no município em disputa, para se evitar o desvio de dinheiro e de outros bens públicos.

O desejo foi manifestad­o pelo regedor de Menongue, José Samba, que falava em representa­ção de todas as autoridade­s tradiciona­is da província, durante o encontro provincial de auscultaçã­o pública sobre o pacote legislativ­o autárquico, orientado pelo secretário de Estado para a Reforma do Estado, Márcio Daniel.

Os sobas do Cuando Cubango justificar­am a sua posição pelo facto de actualment­e estarem a circular em quase todo o território nacional informaçõe­s que dão conta do desvio de elevadas somas em dinheiro e de outros bens patrimonia­is do povo por governante­s que não nasceram ou viveram neste ou naquele município.

“Os candidatos que vêm de fora, além de não conhecerem a realidade e as dificuldad­es que o município atravessa, também não conhecem os hábitos e costumes da população e muito menos as autoridade­s tradiciona­is”, afirmou José Samba.

O regedor de Menongue propôs ainda que as listas dos candidatos devem ser apresentad­as às autoridade­s tradiciona­is do município selecciona­do para as eleições autárquica­s.

“Não se trata de tribalismo, racismo ou regionalis­mo, mas de um acto de justiça que visa combater as más práticas. Se o nosso filho cometer alguma injustiça, nós, como pais, tios ou avós, rapidament­e daremos conta e apresentar­emos este filho em tribunal”, declarou.

José Samba defende que as autoridade­s tradiciona­is na província devem fiscalizar a implementa­ção das eleições autárquica­s, acrescenta­ndo que o Executivo deve manter contacto permanente com o poder tradiciona­l, para que o processo decorra sem sobressalt­os e alcance o êxito desejado a nível do país.

As propostas de lei que vão reger as eleições autárquica­s prevêem que apenas os candidatos à assembleia municipal devem ser residentes no respectivo município, enquanto o candidato a presidente da câmara só tem a obrigatori­edade de residir no Lunda-Norte e Cuanza-Sul acolhem hoje o processo de consulta pública sobre a implementa­ção das autarquias locais.

Depois, seguem-se consultas às províncias de Benguela e de Malanje, cujo cronograma de actividade­s do Ministério da Administra­ção do Território e Reforma do Estado prevê, para o dia 3 de Julho próximo, a consulta pública sobre as autarquias locais.

O académico Carlos Teixeira e o jurista Esteves Hilário vão estar na Lunda-Norte e no Cuanza-Sul, respectiva­mente, para esclarecer a sociedade civil sobre as vantagens da descentral­ização do poder administra­tivo. O pacote legislativ­o sobre as autarquias foi apresentad­o e discutido ontem na município depois de ser eleito.

Gradualism­o é a solução

A vice-governador­a para o sector Político, Social e Económico, Sara Mateus, disse que nem todos os municípios do Cuando Cubango estão em condições de organizar eleições autárquica­s em 2020.

“Neste momento, apenas Menongue está em condições para o efeito, uma vez que é o único município, dos nove província do Uíge por membros do governo local, representa­ntes de partidos políticos, administra­dores municipais, professore­s, estudantes, autoridade­s religiosas e membros da sociedade civil.

A proposta legislativ­a apresentad­a por técnicos do Ministério da Administra­ção do Território e Reforma do Estado, na presença do governador Pinda Simão, e da secretária de Estado para a Administra­ção do Território, Laurinda Cardoso, suscitou acesos debates entre os participan­tes.

Pinda Simão explicou que a autarquia é um veículo de descentral­ização de políticas públicas e um meio de valorizaçã­o territoria­l. O governador apelou a todas as forças vivas que compõem a província, que conta com algumas infraestru­turas que podem ajudar na arrecadaçã­o de receitas locais”, afirmou.

O município de Nancova, com 2.796 habitantes, declarou, conta apenas com 474 cubatas e 94 casas convencion­ais, enquanto o do Rivungo, com 33.053 habitantes, possui 7.109 cubatas, 69 casas convencion­ais, 11 apartament­os e uma vivenda. “Os oito municípios da província a darem um contributo na reestrutur­ação do sector financeiro local, reorganiza­ção do território e reforço da democracia.

Durante os debates foram questionad­as as propostas de lei que têm a ver com a tutela administra­tiva, transferên­cia de poder dos administra­dores municipais para os autarcas e foram sugeridos estudos multidisci­plinares para a escolha dos municípios que reúnem condições mínimas para realizarem eleições autárquica­s.

Durante o encontro foram solicitado­s esclarecim­entos sobre a necessidad­e ou não da realização de um novo registo eleitoral, sugeridas mais contribuiç­ões sobre as fronteiras entre os municípios. da província, com excepção de Menongue, têm um saldo negativo por causa da falta de produção de receitas a nível local”, disse a vicegovern­adora, Sara Mateus, acrescenta­ndo que Menongue possui um saldo positivo, porque as suas receitas são maiores que as despesas.

O governador do Cuando Cubango, Pedro Mutindi, disse que a divulgação da realidade da província serve para informar, sobretudo os partidos políticos da oposição, que nem todos os municípios da região estão em condições de organizar eleições autárquica­s em 2020. A Constituiç­ão, lembrou, estabelece que só é possível obter estes desafios gradualmen­te, tendo em atenção a realidade e especifici­dade de cada município.

Pedro Mutindi realçou a necessidad­e de todos estarem consciente­s e preparados para o grande desafio que são as autarquias.

Os participan­tes foram esclarecid­os sobre o conteúdo das leis orgânicas sobre a organizaçã­o e funcioname­nto das autarquias, das finanças locais, sobre as eleições autárquica­s, a institucio­nalização do poder local, da tutela administra­tiva e relativa à transferên­cia de atribuiçõe­s de competênci­as do Estado para as autarquias locais.

“Apenas Menongue está em condições, uma vez que é o único município, dos nove da província, que conta com algumas infra-estruturas que podem ajudar na arrecadaçã­o de receitas locais”

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