Camela Amões no centro das atenções em Washington DC
Washington DC, a capital americana, figura entre as cidades do mundo que conheço que são as mais organizadas e limpas. Devo dizer que há cidades na Suíça - Genebra, por exemplo - cujo brilho ultrapassa mesmo Washington. Em todo o caso, há uma certa elegância, e sentido de grandeza, que Washington DC possui que sempre me impressionou.
Passei a semana passada em Washington DC para assistir a cimeira anual que traz várias empresas africanas para a capital americana cujo empenho no desenvolvimento do continente é reconhecido. De Angola veio o Grupo Asas, do empresário Segunda Amões, cuja contribuição para o desenvolvimento do continente africano (através do projecto de transformação da aldeia Camela Amões num ponto central de actividade económica e social) foi amplamente reconhecido. Foi bom ver o esforço de Segunda Amões a ser reconhecido internacionalmente. Havia, na conferência, um stand com fotos de Camela Amões que suscitou muito interesse. Muitas pessoas queriam saber a filosofia por trás do projecto Camela Amões.
Eu estava no stand do Grupo Asas com jovens como o Justisno Cupeñala e Martin Malyo quando, de repente, vi o Henry Bonsu, uma personalidade que conheci nos anos 80 em Londres. O Henry Bonsu era grande amigo do romancista nigeriano Diren Adebayo e sempre que nos encontrávamos tínhamos argumentos bastante acalorados.
O Henry Bonsu, como vários jovens da diáspora africana, acreditava que a solução dos problemas africanos era através de um sistema económico centralizado. Para ele, nada ia prejudicar mais o continente africano do que o surgimento de uma classe empresarial, porque esta, inevitavelmente, não ia conter o seu instinto predatório. De repente, o Henry Bonsu e eu estávamos numa outra discussão - desta vez inspirada pelas fotos da Camela que estavam no stand do Grupo Asas. Felizmente, no fim, eu e o Henry concordamos que o continente africano precisava era de empresários como o Segunda Amões e iniciativas como a que leva a cabo de transformação de aldeias em vilas e cidades de peso.
Eu disse ao Henry, como a várias outras pessoas, que me lembrava muito bem da Camela em 2003, quando conheci a aldeia pela primeira vez. Na altura, achei muito curioso que uma aldeia tão humilde tinha produzido empresários tão notáveis como os irmãos Amões. O Mano Olímpio, avô dos Amões, até me disse que quando voltasse para o Huambo tinha que dizer ao já falecido Mano Valentim Amões que precisavam de adubo. As ambições dos camelenses na altura eram marcadamente limitadas.
A Camela de hoje, que está a ser reconhecida como um dos exemplos mais notáveis para o desenvolvimento no continente, está cheia de ambições; o Segunda Amões quer encorajar todo o tipo de sinergias para estimular o progresso. O tipo de empresário que o Henry Bonsu temia é aquele que fazia tudo para tirar os recursos do país para investir no Ocidente. Este tipo de empresário passa a ter cada vez menos credibilidade no continente.
Lá, no meio de Washington, tínhamos fotos de jovens que, até recentemente, eram militares mas que agora, de fato macaco, tinham muito orgulho em ser mecânicos, motoristas, operadores de escavadoras. Houve gente que apareceu no stand do Grupo Asas em Washington DC que não acreditou que as casas tão impressionantes tinham sido construídas por angolanos e não chineses. Eu tive, até, que mostrar fotos minhas com o Gabby, o coordenador da construção dessas casas.
Apareceram, no stand do Grupo Asas, vários empresários do Magrebe ( Marrocos, Egipto, Argélia) que estavam muito interessados em saber detalhes sobre Camela: a existência ou não de água; a distância da localidade da estação do comboio; os centros populacionais à sua volta. Outros queriam saber se os camponeses angolanos iriam mesmo apreciar as belíssimas casas que estavam a ser construídas. Um empresário americano até sugeriu construir uma aldeia igualzinha a Camela no meio do deserto do Namibe e promover uma agricultura como a de Israel. Lá estávamos a falar sobre Angola - os recursos hídricos; o potencial turístico, tudo inspirado pelas fotos de Camela.
Uma das perguntas que foi feita por várias vezes no stand da Camela foi a sustentabilidade do projecto. Aí o Segunda Amões passa a ter as qualidades de um artista - alguém que pode imaginar possibilidades onde não existem. E é isto que tem faltado aos nossos empresários africanos. Graças à transformação da Camela, de repente estão a surgir várias iniciativas empresariais, muitas a serem financiadas com capital vindo de fora. Muitas das vezes, quando se fala de parcerias com empresários locais, tudo que muitos africanos notáveis trazem à mesa são as suas conexões e influência política. O projecto Camela Amões é uma iniciativa. Cá nos Estados Unidos, nas faculdades de Gestão, há a prática de analisar os “case studies” ou “casos de estudo”. Camela Amões, no meio de Washington DC, provou ser um caso de estudo que suscitou muito interesse. Naturalmente, houve e haverá muitas propostas de vários outros projectos em que a experiência de Segunda Amões vai ser crucial.
Uma das perguntas feita por várias vezes no stand da Camela foi a sustentabilidade do projecto. Aí o Segunda Amões passa a ter as qualidades de um artista - alguém que pode imaginar possibilidades onde não existem