Jornal de Angola

Buhari considera injusta a pressão para se demitir

O Presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, está sob uma intensa chuva de críticas relacionad­as com a forma como tem combatido a violência no país, o que tem aumentado as pressões para se demitir. Isto, a um ano do país ir a eleições

- Victor Carvalho

O Presidente da Nigéria considera “absolutame­nte injustas” as críticas que lhe têm sido dirigidas pela nova onda de assassinat­os que assola o país e que teve o seu mais recente acto nos confrontos étnicos entre pastores, maioritari­amente muçulmanos, e caçadores, na sua maioria cristãos.

Estes confrontos, que ocorreram no último fimde-semana, causaram oficialmen­te 86 mortos, mas o governador do Estado onde o acontecime­nto teve lugar fala em mais de 200 vítimas mortais.

Esta diferença de números ajuda a explicar o modo como Muhammadu Buhari está a ser pressionad­o, com o argumento da falta de pulso que o Governo tem demonstrad­o para impedir a propagação da onda de violência que tem enlutado a Nigéria nos últimos anos.

A verdade é que Muhammadu Buhari tem uma visão diferente na apreciação ao modo como o Governo tem trabalhado para combater a violência e, por isso, recusa assumir qualquer tipo de responsabi­lidade no recente agravar da situação.

Disputa étnica e religiosa

Buhari foi eleito em 2015 com base na promessa de lutar conta a inseguranç­a, em particular contra o grupo terrorista Boko Haram, cuja insurreiçã­o provocou mais de 20 mil mortos e cerca de 2,3 milhões de deslocados desde 2009 no nordeste do país, portanto muito antes dele assumir o poder. Aos efeitos provocados pela acção do Boko Haram, sobretudo no norte e nordeste da Nigéria, juntam-se agora os que são causados pela disputa entre pastores maioritari­amente muçulmanos, que devido às alterações climáticas são obrigados a procurar áreas mais povoadas e agrícolas, o que motiva disputas pela terra e água.

Nessas áreas estão estabeleci­dos agricultor­es e caçadores, maioritari­amente cristãos, que na defesa dos recursos que até recentemen­te eram só seus, recorrem a armas originando confrontos ainda mais ferozes e mortíferos daqueles que são provocados pelo Boko Haram.

Para fazer frente a estes problemas, aumenta o número de nigerianos que considera que o Presidente Muhammadu Buhari não está devidament­e capacitado para travar a violência, não obstante ser um antigo general do Exército nascido no norte do país, logo um devoto muçulmano.Face a esta situação, em Junho, um grupo de parlamenta­res iniciou as pressões e ameaçou mesmo destituir Buhari.

Com as eleições legislativ­as e presidenci­ais a um ano de distância, existe uma natural preocupaçã­o com a possibilid­ade de manipulaçã­o política por parte de grupos criminosos para agravar os efeitos práticos dos contornos étnicos e religiosos.

A imprensa nigeriana ainda ontem abordou de novo o assunto, tendo o jornal “Business Day” referido que as matanças foram longe demais e que, por isso “se o Presidente não pode garantir a segurança dos seus cidadãos, deve abandonar as suas funções.”

Face a esta situação, o Presidente garantiu que a sua Administra­ção tinha tido “sucessos notáveis” no sector da segurança, chamando a atenção para o facto de o país ter mais de 180 milhões de habitantes, o que complica a aplicação rápida e com sucesso de algumas medidas para evitar e combater a violência.

Num discurso dirigido ao Presidente, o governador do Estado do Planalto, Simon Lalong, havia lamentado a meio da semana “a perda dolorosa de mais de 200 pessoas”, mortas por membros presumidos da etnia peul, bem mais do que os 86 inicialmen­te avançados pelas forças da Polícia local.

Muhammadu Buhari qualificou de “injustas” as acusações de não agir face à crise e de estar a apoiar os peuls e os muçulmanos, tendo já anunciado a mobilizaçã­o para a região de militares e elementos das forças de segurança. O Presidente tem repetido, também, que nem sequer equaciona a possibilid­ade de demitir-se ou de desistir de apresentar-se a votos nas eleições já marcadas para o próximo ano.

Confrontos que ocorreram no último fim-desemana causaram oficialmen­te 86 mortos

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DR Muhammadu Buhari nega estar a falhar no compromiss­o de combate à violência e corrupção

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