Buhari considera injusta a pressão para se demitir
O Presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, está sob uma intensa chuva de críticas relacionadas com a forma como tem combatido a violência no país, o que tem aumentado as pressões para se demitir. Isto, a um ano do país ir a eleições
O Presidente da Nigéria considera “absolutamente injustas” as críticas que lhe têm sido dirigidas pela nova onda de assassinatos que assola o país e que teve o seu mais recente acto nos confrontos étnicos entre pastores, maioritariamente muçulmanos, e caçadores, na sua maioria cristãos.
Estes confrontos, que ocorreram no último fimde-semana, causaram oficialmente 86 mortos, mas o governador do Estado onde o acontecimento teve lugar fala em mais de 200 vítimas mortais.
Esta diferença de números ajuda a explicar o modo como Muhammadu Buhari está a ser pressionado, com o argumento da falta de pulso que o Governo tem demonstrado para impedir a propagação da onda de violência que tem enlutado a Nigéria nos últimos anos.
A verdade é que Muhammadu Buhari tem uma visão diferente na apreciação ao modo como o Governo tem trabalhado para combater a violência e, por isso, recusa assumir qualquer tipo de responsabilidade no recente agravar da situação.
Disputa étnica e religiosa
Buhari foi eleito em 2015 com base na promessa de lutar conta a insegurança, em particular contra o grupo terrorista Boko Haram, cuja insurreição provocou mais de 20 mil mortos e cerca de 2,3 milhões de deslocados desde 2009 no nordeste do país, portanto muito antes dele assumir o poder. Aos efeitos provocados pela acção do Boko Haram, sobretudo no norte e nordeste da Nigéria, juntam-se agora os que são causados pela disputa entre pastores maioritariamente muçulmanos, que devido às alterações climáticas são obrigados a procurar áreas mais povoadas e agrícolas, o que motiva disputas pela terra e água.
Nessas áreas estão estabelecidos agricultores e caçadores, maioritariamente cristãos, que na defesa dos recursos que até recentemente eram só seus, recorrem a armas originando confrontos ainda mais ferozes e mortíferos daqueles que são provocados pelo Boko Haram.
Para fazer frente a estes problemas, aumenta o número de nigerianos que considera que o Presidente Muhammadu Buhari não está devidamente capacitado para travar a violência, não obstante ser um antigo general do Exército nascido no norte do país, logo um devoto muçulmano.Face a esta situação, em Junho, um grupo de parlamentares iniciou as pressões e ameaçou mesmo destituir Buhari.
Com as eleições legislativas e presidenciais a um ano de distância, existe uma natural preocupação com a possibilidade de manipulação política por parte de grupos criminosos para agravar os efeitos práticos dos contornos étnicos e religiosos.
A imprensa nigeriana ainda ontem abordou de novo o assunto, tendo o jornal “Business Day” referido que as matanças foram longe demais e que, por isso “se o Presidente não pode garantir a segurança dos seus cidadãos, deve abandonar as suas funções.”
Face a esta situação, o Presidente garantiu que a sua Administração tinha tido “sucessos notáveis” no sector da segurança, chamando a atenção para o facto de o país ter mais de 180 milhões de habitantes, o que complica a aplicação rápida e com sucesso de algumas medidas para evitar e combater a violência.
Num discurso dirigido ao Presidente, o governador do Estado do Planalto, Simon Lalong, havia lamentado a meio da semana “a perda dolorosa de mais de 200 pessoas”, mortas por membros presumidos da etnia peul, bem mais do que os 86 inicialmente avançados pelas forças da Polícia local.
Muhammadu Buhari qualificou de “injustas” as acusações de não agir face à crise e de estar a apoiar os peuls e os muçulmanos, tendo já anunciado a mobilização para a região de militares e elementos das forças de segurança. O Presidente tem repetido, também, que nem sequer equaciona a possibilidade de demitir-se ou de desistir de apresentar-se a votos nas eleições já marcadas para o próximo ano.
Confrontos que ocorreram no último fim-desemana causaram oficialmente 86 mortos