PERISCÓPIO Forasteira na cidade
A senhora, provavelmente recém-chegada de outra província, desceu do táxi, um daqueles com identificação na porta, recebeu, das mãos do condutor, o carro desdobrável de bebé, mas nem o abriu ao ver o estado do passeio.
A jovem abraçou a criança que trazia ao colo, como a resguardá-la do pandemónio circundante, com ar de quem não sabia o que fazer. Com a ajuda do motorista, que lhe abriu a porta e a protegeu dos empurrões dos transeuntes, voltou a entrar no táxi. Certamente, de regresso ao ponto de partida, porventura um hotel. Nunca casa de parentes ou amigos que jamais teriam permitido que ela, ainda por cima com um bebé de colo, se metesse na confusão de Luanda àquela hora da manhã.
Neste momento já deve estar na terra de origem a contar a quem quiser ouvir a odisseia vivida e a jurar a si própria que não repete a experiência. Por muito que a tivessem avisado, descrito com pormenores o que é a trapalhada da capital, nunca teria imaginado ser possível ver o que fugazmente viu. Nem ela, nem ninguém que não conheça Luanda. Até quem a habita tem, muitas vezes, dificuldade em acreditar, quanto mais um forasteiro.
Luanda, “a cidade das trevas”, tal o manto de escuridão que persiste em cobri-la à noite, pode também ser considerada “a capital da desorganização”.