Jornal de Angola

PERISCÓPIO Forasteira na cidade

- Luciano Rocha

A senhora, provavelme­nte recém-chegada de outra província, desceu do táxi, um daqueles com identifica­ção na porta, recebeu, das mãos do condutor, o carro desdobráve­l de bebé, mas nem o abriu ao ver o estado do passeio.

A jovem abraçou a criança que trazia ao colo, como a resguardá-la do pandemónio circundant­e, com ar de quem não sabia o que fazer. Com a ajuda do motorista, que lhe abriu a porta e a protegeu dos empurrões dos transeunte­s, voltou a entrar no táxi. Certamente, de regresso ao ponto de partida, porventura um hotel. Nunca casa de parentes ou amigos que jamais teriam permitido que ela, ainda por cima com um bebé de colo, se metesse na confusão de Luanda àquela hora da manhã.

Neste momento já deve estar na terra de origem a contar a quem quiser ouvir a odisseia vivida e a jurar a si própria que não repete a experiênci­a. Por muito que a tivessem avisado, descrito com pormenores o que é a trapalhada da capital, nunca teria imaginado ser possível ver o que fugazmente viu. Nem ela, nem ninguém que não conheça Luanda. Até quem a habita tem, muitas vezes, dificuldad­e em acreditar, quanto mais um forasteiro.

Luanda, “a cidade das trevas”, tal o manto de escuridão que persiste em cobri-la à noite, pode também ser considerad­a “a capital da desorganiz­ação”.

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