Nações Unidas denunciam crimes de guerra na RDC
Um grupo de investigadores ao serviço das Nações Unidas acusa as tropas governamentais e milícias rebeldes de cometerem crimes de guerra na região central de Kasai, na República Democrática do Congo, e alerta para a deterioração da situação sanitária no vizinho Kasai Oriental
Em ano de eleições a República Democrática do Congo (RDC) volta a estar na ordem do dia pelas piores razões. Desta vez, são as Nações Unidas que vêm a público denunciar através de um relatório elaborado por um grupo de investigadores que a região de Kasai está a ser palco de uma série de actividades criminosas que configuram a prática de crimes de guerra.
De acordo com o documento divulgado há dois dias, esses crimes de guerra são cometidos tanto por militares afectos ao Governo como por milícias armadas e resultam numa série de assassinatos, raptos e violações que envolvem a população civil.
Até 2016, a região de Kasai era uma das mais prósperas e pacíficas da RDC, altura em que grupos de milícias desencadearam uma série de acções violentas contra as forças do Governo.
Em Dezembro do ano passado, as Nações Unidas chamaram a atenção para a grave situação humanitária que estava a resultar dessa violência, chegando mesmo a comparar o que se estava a passar no Kasai com o que sucedia no Iémen, Síria e Iraque.
Neste momento, segundo o relatório elaborado pelos investigadores das Nações Unidas, terão morrido na região, desde o início do ano, cerca de 3 mil pessoas, havendo ainda a registar 1.4 milhões de deslocados.O mesmo relatório refere que militares do Governo e as milícias Bana Mura estão de um lado do conflito, enquanto do outro estão os rebeldes do grupo armado Kamwina Nsapu.
No meio deste fogo cruzado está a população, indefesa e oprimida pelos dois lados, com poucas possibilidades de escapar a um conflito que tende a agravar-se. Grave crise sanitária Entretanto, paralelamente a estes conflitos, a situação sanitária no Kasai Oriental agravou-se com um novo surto de cólera que já matou 104 pessoas, de acordo com fontes governamentais em Kinshasa.
Para fazer frente a mais esta situação, o Ministério da Saúde enviou equipamentos para lutar contra a cólera e que já estão instalados num centro de tratamento em Mbuji-Mayi, localidade que registou mais mortes. O Governo regional de Kasai Oriental teme uma propagação da epidemia, procurando por isso sensibilizar a população sobre as medidas de prevenção e higiene que devem ser adoptadas. O pior surto de cólera da RDC nos últimos 20 anos ocorreu em 2017, ano em que se registaram 1.190 mortos em 55 mil casos detectados, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Situação do ébola Para contrabalançar as más notícias, a OMS acaba de anunciar que a epidemia de ébola que assolou o país já foi “em grande parte contida”.
O porta-voz da OMS, Tarik Jasarevic, disse numa conferência de imprensa que os peritos têm confiança, mas alertam para a necessidade de se preservar a vigilância sobre os bons resultados das medidas de controlo que foram aplicadas.
Durante o actual surto, a OMS registou 38 casos confirmados, 14 prováveis e três suspeitos. No entanto, 28 pessoas morreram devido ao vírus do ébola desde início de Maio, quando este surto foi detectado no país.
Desde o início da campanha de imunização contra o ébola na RDC, a OMS e a organização Médicos sem Fronteiras administraram a vacina a 3.280 pessoas que tiveram contactos com doentes. A OMS considera que a actual estabilização da doença “é um passo importante para terminar com o surto mas, no entanto, não é o final”.
“Seguimos num modo de resposta activa e as nossas equipas estão a fazer o seguimento de até 20 alertas diários”, sublinhou o porta-voz da organização.
Em Dezembro, as Nações Unidas chegaram a comparar o que se estava a passar no Kasai com o que sucedia no Iémen, Síria e Iraque