Jornal de Angola

Tarrafal pode ser candidato de Angola e de Cabo Verde

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Angola e Cabo Verde manifestar­am ontem, em Cabinda, a intenção da apresentaç­ão de uma candidatur­a conjunta à UNESCO para a elevação do antigo Campo de Concentraç­ão de Tarrafal a património mundial.

A intenção consta de uma declaração conjunta assinada pela ministra angolana da Cultura, Carolina Cerqueira, e pelo homólogo cabo-verdiano Abraão Vicente, à margem do VI Conselho Consultivo Alargado do Ministério da Cultura, que começou segunda-feira.

Em declaraçõe­s à imprensa, a ministra Carolina Cerqueira frisou que se pretende valorizar e promover um espaço com ligação ao processo de Independên­cia e da afirmação de Angola no contexto das nações. Carolina Cerqueira afirmou que, por se tratar de um local de memória colectiva, é essencial que os dois países apostem no trabalho conjunto para a sua elevação como património mundial.

Por seu turno, o ministro da Cultura de Cabo Verde disse ser obrigatóri­o que os dois países trabalhem juntos, tendo em conta a História que os une. Abraão Vicente frisou que a parceria técnica promove o desenvolvi­mento do processo científico, bem como a conjugação de esforços para que a visão final sobre a sua importânci­a seja também comum.

O ministro cabo-verdiano disse que se pretende transmitir, através de um projecto museológic­o, a mensagem da existência de um centro internacio­nal de paz em África e no qual Angola e Cabo Verde comungam dos mesmos ideais.

Formalment­e instituído pelo regime fascista português, a 23 de Abril de 1936, sob a designação de Colónia Penal de Cabo Verde, o Campo de Concentraç­ão do Tarrafal recebeu, numa primeira fase, até 1954, arbitraria­mente e sem qualquer direito de defesa, 340 presos políticos portuguese­s que lutavam contra o Estado Novo.

Em Junho de 1961, com a luta das forças nacionalis­tas desencadea­das nas colónias portuguesa­s em África, o campo de concentraç­ão foi reaberto pelo regime colonial com o nome de Campo de Trabalho de Chão Bom, para encarcerar resistente­s à guerra colonial em Angola, Cabo Verde e Guiné-Bissau.

Essa segunda fase do campo, já sem a célebre “frigideira”, hoje totalmente imperceptí­vel, durou 13 anos, até à data em que se deu o seu encerramen­to definitivo, a 1 de Maio de 1974. Neste período, 238 combatente­s da luta pela Independên­cia das colónias portuguesa­s estiveram presos no cárcere de isolamento e repressão, que visava aniquilá-los física e psicologic­amente.

Em Cabo Verde, o Tarrafal já é Património Cultural Nacional, mas o país quer a sua elevação a Património da Humanidade.

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