Mugabe vota na oposição
Dirigentes do partido no poder lamentam a posição de quem foi líder da maior organização política do país e consideram a decisão “um balde de água fria” que vem na pior altura e pode prejudicar o seu candidato, Emmerson Mnangagwa
Os zimbabweanos vão hoje às urnas para escolher o Presidente da República e o parlamento, mas no dia dedicado à reflexão, proibido a pronunciamentos políticos, Robert Mugabe quebrou a regra e disse que não vota no sucessor, Emmerson Mnangagwa. Durante uma conferência de imprensa em sua casa, em Harare, o exPresidente, de 94 anos, deu a entender que votará no opositor Nelson Chamisa. “Não posso votar naqueles que me têm maltratado. O que resta? Chamisa. Ele parece estar bem nos seus comícios” declarou, referindo-se ao líder do MDC.
No dia dedicado à reflexão e proibido a pronunciamentos políticos, a ZANU-PF e o seu candidato às presidenciais, Emmerson Mnangagwa, não podiam receber pior notícia.
Robert Mugabe, de quem se dizia estar em Singapura para tratamento médico, quebrou o silêncio e convidou ontem a imprensa em casa, em Harare, para dizer, de viva voz, que não vota naqueles que o derrubaram e continuam a atormentarlhe a vida.
Robert Mugabe, de quem se dizia estar em Singapura para tratamento médico, quebrou o silêncio para dizer, de viva voz, que não vai votar naqueles que o derrubaram
O ex-Presidente do Zimbabwe e da União Nacional Africana do Zimbabwe-Frente Patriótica (ZANU-FP) assegurou que o seu voto hoje não vai para o sucessor, Emmerson Mnangagwa, não afastando a possibilidade de votar no líder do MDC, Nelson Chamisa, que, disse, “vai muito bem” nos comícios que realizou até ao fim da campanha eleitoral, no sábado. “Não posso votar naqueles que me têm maltratado, farei a minha escolha entre os outros 22 candidatos”.
Um membro da ZANUFP contactado pelo Jornal de Angola no “The Rainbow Towers Hotel”, local que acolhe as missões interna- cionais de observação eleitoral e escolhido para centro de escrutínio das eleições gerais harmonizadas (Presidenciais, legislativas e autárquicas), disse, visivelmente inconformado, que o pronunciamento público de Robert Mugabe, num dia em que as forças políticas estão proibidas, por lei, de fazer propaganda eleitoral, foi um autêntico “balde de água fria” para o partido no poder e para o candidato Emmerson Mnangagwa. “Não podia vir na pior altura este pronunciamento de quem foi Presidente do partido e da República durante anos seguidos”, disse a fonte ao Jornal de Angola. Observadores das várias missões, que não se quiseram identificar, porque impedidos por força da lei, não duvidam que o pronunciamento do ex-Presidente do Zimbabwe vai retirar hoje muitos votos à ZANU-PF e a Emmerson Mnangagwa.