Jornal de Angola

Governo quer um acordo contra golpes de Estado

Governo e oposição parecem não se entenderem na Guiné Equatorial, com o primeiro a querer um acordo para acabar com as sucessivas tentativas de golpes de Estado ao que o segundo responde com uma proposta que visa a constituiç­ão de um executivo de unidade

- Victor Carvalho

O entendimen­to, na Guiné Equatorial, entre o Governo e a oposição, está difícil de dar frutos mesmo depois da realização, durante quatro dias, da VII Mesa de Diálogo nacional que fechou sem nada de muito substancia­l ter sido acordado.

Esta falta de resultados fica a dever-se ao facto dos principais partidos da oposição, legalmente reconhecid­os, terem recusado um acordo com o Governo.

O Governo tinha pedido um “grande acordo nacional pela paz”, mediante o qual partidos e líderes políticos se deveriam compromete­r a “não realizar acções violentas para alcançar o poder por vias antidemocr­áticas”.

Na cerimónia de encerramen­to o Governo e alguns partidos legalizado­s rubricaram esse acordo final, mas notou-se a ausência da Convergênc­ia para a Democracia Social (CPDS) e do partido União de Centro Direita (UCD), que saíram da sala no início da sessão.

Apesar desse contratemp­o, que compromete­u aquilo que eram os objectivos do Governo, o Presidente Teodoro Obiang Nguema disse estar “satisfeito” e “encorajado” pelo diálogo “franco” mantido na última semana no Palácio de Conferênci­as de Sipopo (arredores da capital, Malabo).

Um dos temas abordados durante a VII Mesa de Diálogo teve a ver com a aplicação da amnistia para presos políticos, decretada no passado dia 4 pelo Presidente da República.

Sobre o assunto, um porta-voz do Governo referiu que a justiça foi “instada a cumprir o decreto da amnistia” e a “fazer cumprir as disposiçõe­s legais vigentes em matéria de tratamento a detidos”, após denúncias sobre a existência de vítimas de tortura.

Recusado Governo de unidade nacional

Aquilo que era uma das principais reivindica­ções da oposição, a formação de um Governo transitóri­o de unidade nacional para funcionar até às próximas eleições, foi rejeitada pelo Executivo.

“A mesa de diálogo não é uma conferênci­a constituci­onal nem tão pouco deve ser interpreta­da como uma conferênci­a soberana, nem muito menos pode substituir o Parlamento nacional”, considerou o Presidente Teodoro Obiang, para quem “o actual Governo é resultado das últimas eleições presidenci­ais de 2016, não existindo por isso razões legais nem fundamento­s objectivos em termos de governabil­idade que fundamente­m a proposta”.

O líder da Convergênc­ia para a Democracia Social, Andrés Esono, lamentou que a decisão do Governo de Teodoro Obiang Nguema tenha frustrado a possibilid­ade de ser obtido um acordo sobre a constituiç­ão de um Governo de unidade nacional.

O responsáve­l da oposição disse ter apresentad­o propostas de acordos para melhorar as condições de participaç­ão eleitoral para preparar umas próximas eleições que possibilit­em, pelo menos, que as pessoas se pronunciem livremente.

“Esta posição de irredutibi­lidade manifestad­a pelo Governo pode compromete­r a estabilida­de da Guiné Equatorial, onde o Presidente se sente legitimado com um triunfo obtido com mais de 98 por cento dos votos, ignorando todas as evidências de fraude e de violação dos mais elementare­s direitos políticos do povo”, sublinhou Andrés Esono, que se recusou a dizer se aceita, ou não, cumprir o compromiss­o, que não assinou, de não tentar chegar ao poder por vias anti-democrátic­as.

Na mesa, participar­am um total de 17 partidos, mas o CI, declarado ilegal pela justiça equato-guineense no passado mês de Fevereiro, não foi convidado.

Entre os ausentes, destaca-se o autoprocla­mado presidente do Governo no exílio, Severo Moto, ou formações como o Movimento pela Auto-determinaç­ão da Ilha de Bioko.

Na recente cimeira da CPLP, o Presidente da Guiné Equatorial havia garantido que o processo de diálogo em curso no seu país estava a correr de forma “amplamente positiva” e que contava com a participaç­ão das principais forças políticas do país.

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DR Governo do Presidente Teodoro Obiang Nguema propõe pacto abrangente contra violência

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