CARTAS DOS LEITORES
Estive uma noite no Banco de Urgência do Hospital Pediátrico de Luanda, há duas semanas, e o cenário que constatei não foi dos melhores. Falta de tudo um pouco. Desde a degradação das infraestruturas, pouco material gastável, camas em estado crítico, colchões rasgados, muitos mosquitos e até baratas circulam no Banco de Urgência. Como se não bastasse existe ainda a falta de amor ao próximo por parte das equipas médicas. Não tratam com dignidade as mães com os filhos doentes que recorrem a essa unidade hospitalar. Principalmente, as que têm poucos recursos financeiros ou mesmo com baixo nível de escolaridade. São ostracizadas. Alguns enfermeiros, auxiliares de limpeza e até seguranças gritam a todo instante, ralham ao dirigirem-se aos pacientes. A partir da meia noite, enfermeiros e médicos começam a recolher-se para dormir e apenas um ou outro fica ali para atender dezenas de crianças ali internadas. A dada altura obrigam as mães a fazerem o papel de enfermeiros ou esperam uma eternidade para ser atendidas. Além de se ter uma noite sem tranquilidade, pela manhã o cenário é aterrorizador. As mães são despertadas com gritaria e obrigadas pelas enfermeiras e auxiliares de limpeza a recolher os lençóis da cama do hospital. Posteriormente elas vão jogando os lençóis para o colchão e vão dando ordens para arrumarem a cama do filho ali internado. As mães ficam num dilema. Não sabem se pegam o filho ou se cumprem a orientação dos enfermeiros e auxiliares de limpeza. O barulho destas, não sei se as posso considerar profissionais, é tanto que as médicas de plantão apenas olham e se remetem ao silêncio. Talvez gostem do espectáculo. Frases do tipo "eu não te chamei em tua casa para vir até aqui. Tens dinheiro vai à clínica." Os bens e haveres dos pacientes, como mochilas, malas, sacos são recolhidos e atirados para um quarto com armários degradados com cheiro nauseabundo de chichi de rato, porque segundo a equipa médica é proibido no banco de urgência ter pertences de pacientes. A casa de banho de apoio aos familiares e usada pelos pacientes é foco de doenças. Não tem higiene alguma. Nem parece um hospital que recebe recursos do Estado.