Jornal de Angola

Viajar por estrada de Luanda ao Uíge

Viajar de Luanda para a cidade do Uíge por estrada, nos dias de hoje, está mais facilitado, apesar de a estrada não oferecer condições 100 por cento boas, pelo facto de ser estreita bastante acidentada e esburacada em determinad­os troços

- Garrido Fragoso

O percurso Luanda-Uíge é feito para o norte, pela estrada nacional 220, cruzando primeiro Cacuaco, Kifangondo, Caxito, Úcua, Mobil, Vista Alegre, Aldeia Viçosa, Quitexe e uma série de povoações.

O mesmo deve ser feito com bastante prudência, devido a curvas e contra-curvas, várias subidas e descidas, a maioria delas com uma inclinação de dez por cento. Por isso, há quem afirma ser dos troços mais irregulare­s do país.

Mas também vale salientar que todos os motivos evocados, que fazem atrasar a viagem até à província, a conhecida “Terra do bago vermelho (café)”, são ultrapassa­dos, uma vez que os viajantes ficam mais tempo a desfrutar a vasta beleza paisagísti­ca da região.

O trajecto é preenchido por acidentada­s ribanceira­s cobertas pela plantação de bananais, mangueiras, palmares e diversas árvores que produzem espécies diferentes de madeira, usadas pela população na construção de mobiliário e vedação das habitações, na maioria das localidade­s, construída­s ao longo do percurso.

A equipa de reportagem do JornaldeAn­gola que recentemen­te se deslocou via terrestre à cidade do Uíge, de onde reportou a oitava sessão da Comissão Económica do Conselho de Ministros, registou alguns factos marcantes da viagem, com destaque para a falta de energia eléctrica nas principais localidade­s situadas ao longo do percurso (Quitexe,Vila Viçosa, Vista Alegre e demais aldeias).

Caricata, por exemplo, é a falta de energia no município de Quitexe, localizado a menos de 30 quilómetro­s da sede capital da província, quando a cidade do Uíge recebe durante 24 horas luz eléctrica, a partir da central hidroeléct­rica de Cambambe.

Mas, sabe-se que Quitexe, Vista Alegre e Aldeia Viçosa beneficiar­am, há alguns anos, de sistemas de iluminação pública sustentado por painéis solares, que foram totalmente vandalizad­os por marginais. Todo o sistema de produção de energia nessas localidade­s (incluindo as baterias) foi sabotado. Moradores contactado­s pela reportagem do

JornaldeAn­gola, que preferiram o anonimato, apontaram o dedo a cidadãos congoleses democrátic­os, que procuram de forma incessante por esses materiais, incluindo cabos eléctricos, que no seu país valem alguma fortuna.

“Há alguns anos, estávamos bem, em termos de energia pública. A nossa vila era totalmente iluminada. Recebia muitos elogios de todos que por cá passassem. Mas, agora, sem iluminação nas ruas, temos até medo de andar à noite, porque os amigos do alheio aproveitam a escuridão para praticar crimes como assaltos e violações”, disse uma moradora do município de Quitexe.

Outro residente na Aldeia Viçosa queixou-se de que os marginais foram des- truindo, aos poucos, todo o património energético, manifestan­do-se admirado por ter sido possível o furto de todos os equipament­os quandoa localidade conta com i nstituiçõe­s do Estado, incluindo da Polícia Nacional. Matança desregrada Outro pormenor que não passou despercebi­do aos repórteres do JornaldeAn­gola prende-se com a venda de carne de caça diversa, produto do abate indiscrimi­nado de animais, alguns em extinção.

Esta realidade é, sobretudo, observada em Vista Alegre, onde pequenas barracas montadas ao longo da via dão o prazer aos viajantes e residentes de degustarem pratos com carne de caça.

As carnes expostas para os clientes apresentam-se fumadas e frescas (algumas ainda escorrendo sangue). As carnes de jibóia, javali, macaco, antílopes e de pequenos animais da família de roedores, sobretudo de cambuiji, são as mais comerciali­zadas na localidade. Com recurso a geradores, o negócio nas pequenas praças e barracas é feito de forma ininterrup­ta. Cervejas e pinchos fazem a confratern­ização entre angolanos e congoleses. A presença constante desses últimos é resultante do facto de o Uíge ter localidade­s fronteiriç­as com o Congo Democrátic­o, caso dos municípios da Damba e Maquela do Zombo. A venda da carne das referidas espécies animais nas pracinhas de Vista Alegre decorre sob o olhar das autoridade­s locais, que nada fazem para impedir o abate indiscrimi­nado dos animais e em prol da preservaçã­o das espécies.

“Como é que vão ser tomadas medidas, se até agentes da ordem e alguns responsáve­is da administra­ção também se sentam aqui nas barracas para comer a mesma carne?”, questionou Avelino Tiago, 45 anos, residente em Vista Alegre, há mais de dez. Além do perigo do consumo de tais carnes, que não são inspeccion­adas pelos Serviços Veterinári­os, há ainda relatos de caçadores furtivos que abatem espécies prenhas e outras a amamentar os filhotes, o que constitui um atentado à protecção da vida selvagem.

O morador sabe que as autoridade­s, estão consciente­s de que há comunidade­s que vivem, sobretudo, da caça, não proíbem a actividade no país. Mas, o Estado exige que a mesma seja regrada e praticada em épocas adequadas.

“O trajecto é preenchido por acidentada­s ribanceira­s cobertas pela plantação de bananais, mangeiras, palmares e árvores que produzem espécies diferentes de madeira”

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SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Viagem até ao Uíge pode durar seis horas
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SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Kupapatas são os principais meios de locomoção

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